Lira consegue colocar governo na palma da mão
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Lula não teve nem tempo para retirar os fogos do armário. O placar eletrônico mal havia registrado a vitória acachapante do governo na votação da proposta sobre a nova regra fiscal e Arthur Lira apressou-se em avisar: o resultado elástico não serve para aferir a solidez da base de apoio parlamentar de Lula. Foi como se o imperador da Câmara declarasse, com outras palavras, mais ou menos o seguinte: a cada nova votação, o governo terá que ajoelhar no milho. Generalizar é um hábito humano. Mas quem partir do placar de 372 votos a 108 para chegar a uma conclusão categórica sobre a solidez do apoio a Lula pode mesmo ser confundido com um extraterrestre —do tipo que desce no plenário da Câmara e, depois de verificar que o PL de Bolsonaro deu 30 votos para o governo e a bancada do PSOL votou 100% contra o Planalto, informa ao seu planeta que, no Brasil, a direita saiu de moda e a esquerda ainda não descobriu que toda ideologia precisa ser baseada num orçamento. Quem não quiser fazer papel de bobo deve observar, além da movimentação de Lira, as declarações de Marina Silva e Alexandre Padilha sobre a próxima matéria a entrar na pauta do Legislativo: a medida provisória que reformulou a Esplanada dos Ministérios.
Marina diz que o Congresso vira do avesso a MP porque deseja “implementar o governo Bolsonaro no governo Lula.” Padilha chama de “equilibrado” o texto que o deputado Isnaldo Bulhões redigiu com a caligrafia rupestre da bancada ruralista. Quer dizer: o vaivém do Congresso deixa o governo tonto. Para Padilha, articulador político do Planalto, será “positiva” a aprovação de um relatório que esvazia o Meio Ambiente. O texto transfere das mãos de Marina para o colo de ministros do centrão a Agência Nacional de Águas, a política de recursos hídricos e a gestão dos resíduos sólidos. O Cadastro Ambiental Rural, vital para mapear os imóveis rurais, foi para o Ministério da Gestão, tão próximo de questões como combate à grilagem e ao desmatamento quanto a Terra de Marte. Ao chamar de “equilibrado” um texto que sonega a Lula o direito elementar de organizar a estrutura do seu próprio governo, Padilha escancara a debilidade do governo no Congresso. A validade da medida provisória que repaginou o governo vence em 1º de junho. Ou Lula aceita a aprovação de um texto qualquer ou sua Esplanada, com 37 ministérios, terá que caber nas 19 pastas que existiam no final da gestão Bolsonaro. Antagônicos em quase tudo, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, o presidente do Senado, concordam num ponto: a boa vontade do Legislativo com Lula não inclui a revisão de reformas já feitas, como marco do saneamento, privatização da Eletrobras e autonomia do Banco Central. Quer dizer: além de levar os joelhos ao milho, Lula talvez precise se ajustar a sua vontade aos humores de direitistas —ou ultradireitistas— de um Congresso hostil.
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