Caravanas bolsonaristas rumam a acampamento no DF
Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles
Às vésperas da posse Luiz Inácio Lula da Silva (PT), bolsonaristas insatisfeitos com o resultado da eleição organizam caravanas vindas de diferentes estados para o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília. Os ônibus começaram a sair de suas respectivas unidades da Federação na quarta-feira (28/12) e têm previsão de voltar até o domingo (1º/1), depois da cerimônia.
Conforme noticiado pela coluna Grande Angular, o Governo do Distrito Federal e os militares fizeram um acordo para a remoção dos manifestantes do QG até o dia 1º de janeiro. Segundo o governador Ibaneis Rocha (MDB), a desmobilização já começou, com a retirada de 40 barracas na terça-feira (27/12). À coluna o Exército disse que os bolsonaristas “têm deixado o local de forma espontânea”. O movimento ocorre após a prisão de um extremista que tentou explodir um caminhão de querosene no Aeroporto Internacional de Brasília.
Mesmo diante dos esforços do governo em desfazer a aglomeração, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) estão se deslocando para a capital federal na expectativa de voltar a encher o QG e aumentar a pressão contra a entrega da faixa presidencial a Lula. Até o momento, ao menos 17 caravanas foram confirmadas, partindo de Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
O custo da viagem varia: algumas caravanas garantem transporte e alimentação gratuita. Outras cobram até R$ 490 para fazer o trajeto de ida e volta de Florianópolis a Brasília. A reportagem tentou conversar com uma pessoa que estava à frente de uma caravana gratuita. No entanto, ela apenas informou que a viagem “foi cancelada por empresários”.
De acordo com o comerciante Heleno Inácio da Silva, de 63 anos, que organiza uma caravana de Goiânia, cada ônibus tem capacidade de levar cerca de 58 pessoas. Ele afirma que já chegou a encher 10 veículos para o acampamento em outras ocasiões. O grupo da vez, que parte no sábado (30/12), já tem dois ônibus confirmados. A expectativa é que até o fim da semana a procura aumente.
“Agora, ou vai ou arrebenta. Porque se definir que o Lula realmente assume, a gente sai da porta dos quartéis”, avalia. Mesmo com a mobilização do governo para retirada dos manifestantes, o comerciante defende que o grupo vai se manter no quartel. Não há previsão de manifestações bolsonaristas em outros pontos da capital.
“Tem muitos dias que o pessoal está lá. Todo mundo acampado, nesse manifesto contra as eleições. Então, a gente tem que tentar lutar pelo nosso país”, afirma, defendendo que o presidente eleito não deveria ser candidato e que as eleições foram fraudadas — mesmo que não haja qualquer indício nesse sentido.
O Metrópoles questionou a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal e a equipe do futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, se está sendo feito o monitoramento das caravanas, mas não teve resposta até o fechamento desta reportagem. Espaço segue aberto.
Os manifestantes acampam em frente ao QG do Exército em Brasília há quase 60 dias. Entre as pautas, os extremistas defendem a anulação do pleito e a intervenção de militares no poder.
A poucos dias da posse, o grupo esperava um pronunciamento ou ação do presidente Jair Bolsonaro para que Lula não assuma o governo. No entanto, o mandatário se mantém recluso desde a derrota.
A última conversa pública foi em 9 de dezembro, após 40 dias de silêncio. Bolsonaro falou por cerca de 20 minutos para mais de 200 pessoas que estavam no Palácio da Alvorada. Na semana passada, o mandatário e a primeira-dama Michelle chegaram a fazer uma aparição para apoiadores, durante a cerimônia de arriamento da Bandeira Nacional na residência oficial. Porém, eles apenas acenaram para o grupo que acompanhava a solenidade e voltaram para casa sem interagir.
Uma tentativa de ato terrorista durante o fim de semana voltou a colocar pressão sobre os acampamentos bolsonaristas. O empresário George Washington de Oliveira Sousa, 54 anos, foi preso por armar uma bomba nas proximidades do Aeroporto Internacional de Brasília. A Polícia apreendeu um arsenal de armas, munições e explosivos no apartamento em que ele estava hospedado. O empresário confessou que teria planejado outros ataques no DF.
Os investigadores confirmaram que George Washington frequentava o acampamento montado em frente ao QG do Exército. Em depoimento, o empresário bolsonarista afirmou que tinha intenção de distribuir armamentos para os grupos aglomerados. Disse ainda que “pegou em armas para derrubar o comunismo”.
O episódio, que aconteceu 12 dias depois dos ataques à sede da Polícia Federal, em Brasília, reforçou a preocupação em torno de atos violentos na posse de Lula, no dia 1º de janeiro. Flávio Dino cobrou ações do governo federal para frear os ataque promovidos por grupos extremistas. Ele pontuou ainda que, caso nada seja feito, os acampamentos serão desfeitos assim que o novo governo assumir.
“Esperamos que ao longo dessa semana as autoridades federais tomem as providências legais. Se eventualmente não tomarem, a partir do dia 1º a nova equipe governamental o fará”, afirmou Dino, em entrevista à GloboNews na segunda-feira (26/12).
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