Um mês depois do atentado a Brasília, servidores fazem ato pela democracia e pedem justiça
Ainda estão vivas na memória do servidor público Henrique Lima as cenas dos atentados de 8 de janeiro, quando os prédios principais dos três Poderes foram destruídos em Brasília (DF) por radicais bolsonaristas que depredaram móveis, vidraças, computadores, objetos de arte e deixou marcas traumáticas na memória da jovem democracia brasileira.
“As imagens eram tristes. Estava tudo muito molhado, muito vidro no chão. Foi chocante e muito triste. Mais até do que ver pela TV, chegar aqui e ver aquilo tudo foi terrível”, afirma, em conversa com o Brasil de Fato. Henrique, que trabalha no Senado Federal há 13 anos, é um dos muitos servidores públicos do Congresso Nacional que se somaram, nesta quarta-feira (8), para rememorar os 30 dias dos atentados terroristas e reafirmar a defesa da democracia.
“Eu vim aqui hoje, em primeiro lugar, porque eu acho que é importante a gente lembrar. Faz um mês, é uma data importante pra gente lembrar, pra não esquecer e não permitir que se permita. Mas, em segundo lugar, porque eu acho que, não só como servidor, mas cidadão a gente precisa estar juntos em um momento como este de fortalecimento da nossa democracia, em que a gente precisa continuar reivindicando que não haja nenhum tipo de anistia, os responsáveis sejam punidos, desde o cara que veio aqui e quebrou até aquele que financiou e planejou”, disse Lima.
A ação, organizada pelo Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União (Sindilegis), contou também com o engajamento de deputados, senadores e entidades parceiras. O presidente da entidade, Alison Souza, afirma que a iniciativa tem o propósito de defender o Estado brasileiro e contra o uso da violência para se obter ganhos políticos.
“Nós entendemos que precisamos ir além de publicar notas de repúdio. Tudo isso é importante, tem que ser feito também, mas nós sentimos a necessidade e acreditamos que é um dever cívico estarmos aqui um mês depois neste salão, por onde começou a invasão, fazendo o que chamamos de ‘o caminho inverso’. Eles vieram de fora e chegaram quebrando os vidros do Congresso e nós estamos aqui saindo do salão pra estender lá fora uma faixa em defesa da democracia”, disse Souza, momentos antes de o grupo colocar na frente do prédio um enorme banner com a frase “Ato pela democracia”.
“Aqui não se trata de um movimento pra defender o governo, o partido A ou o partido B. É um evento apartidário. O nosso único objetivo é fazer com que a política no Brasil seja exercida da melhor forma possível. É claro que as divergências e a disputa fazem parte da política, mas na exata medida em que isso serve pra dar o espaço pro contraditório, pra que as pessoas tenham a liberdade de colocar na mesa o que pensam, o que sentem, a visão que têm do país, mas nós não podemos de forma alguma começar a usar a violência como forma de intimidação”, acrescentou o presidente do Sindilegis.
Decana da esquerda brasileira no Congresso, a deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) elogiou a articulação dos servidores ao organizarem o evento e ressaltou a importância de os parlamentares também se comprometerem com esse tipo de iniciativa.
“Aqueles atos foram um desrespeito à vida, ao patrimônio nacional, à nossa democracia, portanto, uma ofensa inominável num país democrático e que já teve tantas vidas ceifadas na luta pela democracia. Democracia é uma luta de todo dia, de todo o ano, de sempre, e temos que dar a própria vida, se necessário, pra que ela subsista e exista de fato na vida de uma sociedade, não só do ponto de vista político, mas também social, do ponto de vista da nossa civilização. É disso que se trata este momento aqui”.
A deputada Erika Kokay (PT-DF) esteve entre os parlamentares que se somaram ao ato. “Nós não vamos permitir que atos como aqueles se repitam. Estamos aqui para dizer que é preciso apurar, punir todos os culpados e assegurar que não haverá anistia”, disse ao Brasil de Fato.
O secretário-geral da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal (OAB-DF), Paulo Maurício Braz Siqueira, afirmou que o evento é importante também para sinalizar a vigilância que deve ser mantida no sentido de se buscar a responsabilização dos diferentes personagens envolvidos nos ataques.
“Desde o primeiro momento nós oficiamos as autoridades exigindo a responsabilização de todos e todas que agiram contra o Estado brasileiro. A gente espera que o Parlamento, o Poder Judiciário, a polícia façam o seu trabalho. Sejam militares ou civis, todos os envolvidos devem responder, com o devido processo legal, com o direito de defesa garantido, mas devem responder”.
Publicação de: Brasil de Fato – Blog