Salem Nasser: Nós amamos a vida

Nós Amamos a Vida

Nós amamos a vida… se encontrarmos para ela um caminho

Por Salem Nasser*, em Cegueira Seletiva

Desloquemos, por um instante, a análise, e olhemos para a Palestina e para Gaza tocando um nervo diferente.

Os movimentos de resistência são muitas vezes acusados de adotarem uma cultura da morte, porque dispostos ao sacrifício e ao martírio.

Este poema de Mahmud Darwich (veja PS do Viomundo) sempre me pareceu resposta suficiente, ainda que minha tradução livre não lhe faça justiça:

“Nós amamos a vida…
Se encontrarmos para ela um caminho

E dançamos entre dois mártires
Erigindo entre eles
Um minarete de violetas
Ou uma palmeira

Amamos a vida…
Se encontrarmos para ela um caminho

E roubamos do bicho da seda
Um fio
Para construirmos um céu nosso
E cercarmos esta partida

E abrimos as portas do jardim
Para que os jasmins
Façam sair às ruas
Um dia bonito

Amamos a vida…
Se encontrarmos para ela um caminho

E plantamos
Onde nos instalamos
Plantas que cresçam rápido

E colhemos
Onde nos instalamos
Um morto

E sopramos
Na flauta
A melodia do distante mais distante

E desenhamos
Sobre a terra do corredor
Um relincho

E escrevemos nossos nomes
Sobre cada pedra

Você, trovão, ilumine…
Ilumine para nós a noite
Ilumine um pouco…

Nós amamos a vida…
Se encontrarmos para ela um caminho”

*Salem Nasser é professor da Faculdade de Direito Internacional. É autor de vários livros, entre outros os quais Direito global: normas e suas relações (Alamedina)

PS do Viomundo:  Mahmud Darwich (1941-2008) é considerado o poeta nacional da Palestina e um dos maiores escritores de língua árabe.

No Brasil, tem três obras publicadas em português pela Editora Tabla: Memória para o esquecimento, Onze astros e Da presença da ausência

Na apresentação do autor, a Tabla escreve: 

Mahmud Darwich foi um poeta e escritor árabe, considerado o poeta nacional da Palestina. Tantas vezes exilado, preso e refugiado, Darwich tinha forte engajamento político, sendo o autor da Declaração de Independência Palestina.

Nascido em um vilarejo na Palestina, à época do Mandato Britânico, era o segundo dos oito filhos de uma família sunita de proprietários de terras.

Grafite de Mahmoud Darwish na barreira de parede de Belém, Palestina. Foto: MEMO — Monitor do Oriente Médio

Sua vila foi inteiramente arrasada pelas forças israelenses durante a guerra de 1948, sendo substituída pelo colonato agrícola judaico de Ahihud.

Na obra de Darwich, além da dor do exílio, a Palestina aparece como metáfora do “paraíso perdido”, nascimento e ressurreição.

A potência de sua poesia se revela pela sinceridade de suas emoções e originalidade de suas imagens poéticas.

Darwich faz uso do velho e do novo testamentos, da literatura clássica Árabe, da história da Arábia Islâmica e das mitologias grega e romana para construir suas metáforas.

Mahmud Darwich, nasceu na aldeia de Al-Birwe, na Galileia, Palestina, em 13 de março de 1941. Foi, e ainda é, mesmo depois de sua morte em 2008, o poeta nacional da Palestina.

Poeta da solidão, da individualidade, da interioridade, da transcendência, mas também da resistência, a resistência a qualquer opressor que tente impor sua voz, cercear a esperança, roubar o direito à vida.

Darwich é um dos maiores escritores de língua árabe.

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Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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