Régis Barros: O punhetaço dos estudantes de medicina e a falência ética

O punhetaço dos estudantes de medicina
Por Régis Barros*
É público! O vídeo já circula. Como se diz, já viralizou.
Um grupo de estudantes de medicina nus, num evento esportivo entre faculdades, fazem um “punhetaço”.
Publicamente, eles simulam uma masturbação coletiva tendo como foco um grupo de mulheres de um time de vôlei o qual julgo ser oponente à faculdade deles.
Costumo refletir sobre por que o respeito à medicina e aos médicos está se esfacelando.
Em parte, temos justificativas centradas na formação médica deficitária, na quantidade de faculdades de medicina questionáveis em termos de qualidade e na falta de vocação em muitos estudantes.
Então, de antemão, afirmo que a questão é complexa. No entanto, entendo que o principal problema é ético.
A medicina vai derretendo, sobretudo, por questões éticas. A falência ética se materializa na conduta de muitos aspirantes à Asclépio (alunos) e alcança a atuação de muitos médicos.
Em parte, isso vem do berço. Ou seja, valores morais friáveis são trazidos da sua origem.
Mas, por outro lado, os cursos de medicina têm dificuldades para identificar isso e, principalmente, para modificar essa atopia.
O resultado pode ser e acaba sendo desastroso para a sociedade e para a medicina. Então, passamos a enxergar essas distopias desde a graduação e se estendendo em muitos médicos já formados.
Sem ética, não há medicina. Por mais técnico e habilidoso, o médico carente de ética não deve ser considerado médico na concepção da sua existência.
*Régis Barros é médico psiquiatra. Mestre e doutor em Saúde Mental pela Faculdade de Medicina da Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
Nota AMB sobre episódio estudantes de Medicina
A Associação Médica Brasileira (AMB) vem a público manifestar seu veemente repúdio às atitudes de um grupo de estudantes de medicina por ocasião de uma disputa esportiva na cidade de São Carlos .
O exercício da profissão médica exige um sólido conhecimento técnico e científico aliado a um comportamento pautado no respeito, na ética e no humanismo, como pilares essências para o exercício profissional.
Estudantes de medicina são médicos em potencial, pois dentro em breve estarão exercendo esta atividade e, como tal, devem ter um comportamento que observe os mesmos princípios.
A AMB, juntamente com as Associações Estaduais e Sociedades de Especialidade tem a categoria de sócio acadêmico, na qual os estudantes de medicina se associam livremente, sem qualquer custo durante todo o curso médico, com o objetivo de introduzi-lo paulatinamente nos princípios que norteiam a prática médica.
Os fatos relatados são gravíssimos e as imagens falam por si, mostrando claramente que estas pessoas não estão preparadas, neste momento, para o exercício de profissão tão nobre. De tal forma, os fatos envolvem também instituições tradicionais na formação médica.
Diante deste cenário, é absolutamente necessário que estas instituições sejam totalmente transparentes nas penalidades aplicadas a estes alunos. Preocupa-nos a demora na tomada de atitude, que só veio a público após a ampla divulgação das imagens nas mídias digitais.
Da mesma forma, temos a convicção de que o poder público tomará as devidas providencias instaurando um processo legal para a apuração dos crimes cometidos e então aplicar as penalidades cabíveis.
Publicação de: Viomundo