Quando mais durar guerra na Ucrânia, pior para Bolsonaro
Parlamentares do Congresso Nacional preveem desgastes à imagem do presidente Jair Bolsonaro (PL) por possíveis efeitos negativos na economia brasileira se a guerra entre Rússia e Ucrânia perdurar, ainda mais em um ano eleitoral.
O Brasil tem na Rússia um dos principais fornecedores de fertilizantes para uso na agricultura, por exemplo, e a tendência é que, com a guerra, os preços dos produtos subam. O próprio abastecimento de fertilizantes pode ser prejudicado no futuro diante de sanções e outras medidas econômicas. Isso pode causar um efeito dominó ao pressionar para cima os preços dos alimentos e, consequentemente, a inflação.
Uma escalada nos preços de comida nos supermercados e a alta da inflação são tidos como pesadelos para qualquer governante que queira se reeleger. O governo brasileiro já busca alternativas aos fertilizantes russos, mas este pode não ser o único problema.
Deputados e senadores ouvidos pela reportagem citaram também a possibilidade de alta no barril de petróleo, que acaba afetando o preço dos combustíveis no Brasil. A Petrobras leva em consideração a cotação do petróleo no mercado internacional para reajustes nos preços da gasolina e do diesel.
Além de afetar diretamente os consumidores no dia a dia, o aumento dos valores impacta a cadeira produtiva, ainda mais que o país é altamente dependente do transporte rodoviário.
O governo e o Congresso já vinham discutindo uma maneira de tentar baixar o preço dos combustíveis, sem consenso até o momento. Ou seja, já era um ponto de insatisfação. Agora, os parlamentares consideram a possibilidade de a situação piorar.
Para um deputado da base aliada de Bolsonaro, que conversou com o UOL sob reserva, o presidente já deveria estar preocupado com o possível impacto dos novos acontecimentos no preço nas bombas dos postos e tentar acelerar uma solução por meio do Parlamento.
Toda essa situação pode prejudicar a popularidade de Bolsonaro e se torna mais delicada pelo fato de ele ter um forte concorrente na corrida ao Palácio do Planalto em outubro: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), à frente nas pesquisas de intenção de voto até o momento.
Nesse panorama, o voto de qualquer fatia do eleitorado é importante e não deve ser desprezado.
Resistência em condenar a Rússia
Outro ponto que parte dos parlamentares enxerga como prejudicial ao presidente é a resistência em condenar a Rússia pela invasão à Ucrânia. Embora não seja consenso entre os congressistas, alguns avaliam que a falta de uma posição mais clara e firme contra o ataque russo pode soar como “aliança ou apoio velado”.
“O povo não perdoará, ainda mais quando aparecer as imagens de guerra e mortes”, disse uma parlamentar do centrão. “Quem não se importou com a morte de 600 mil pessoas do seu país vai se importar com guerra dos outros? Não vai”, disse, referindo-se às vítimas da covid-19.
Houve até quem tenha recorrido ao ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), um dos líderes informais do centrão, numa tentativa de que ele persuadisse Bolsonaro a repudiar as ações russas, sem sucesso.
Bolsonaro ontem, inclusive, desautorizou o vice-presidente, Hamilton Mourão, por ter condenado a Rússia. Na ocasião, Mourão comparou o presidente russo, Vladimir Putin, ao ditador alemão Adolf Hitler. A atitude de Bolsonaro causou surpresa em senadores, por mais que nem todos apoiem que o Brasil condene oficialmente a Rússia pela guerra.
O receio dos próprios parlamentares aliados a Bolsonaro, em última instância, é que eles saiam prejudicados nas eleições, embora aleguem ser cedo para saber o quanto dessa alta de preços numa eventual escalada ou prorrogação da guerra pode realmente afetá-los.
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