Miguel Oliveira, de 14 anos, causa racha entre evangélicos e vira alvo de ataques
Miguel Oliveira, 14 anos, é hoje um dos nomes mais falados no universo evangélico brasileiro — e por motivos que vão muito além da fé. Com mais de um milhão de seguidores, vídeos viralizando no TikTok e pregações emocionadas, o “profeta mirim” virou fenômeno digital e símbolo de controvérsia teológica.
Do lado oposto, líderes tradicionais como Silas Malafaia, ícone da ala bolsonarista conservadora, veem sua hegemonia questionada. O motivo? O garoto, controverso até a raiz dos cabelos, conquista multidões nas redes com um discurso açucarado de amor e empatia — enquanto os veteranos do altar ainda batem no peito com o velho bordão bélico do “Deus acima de tudo”, como se fé e confronto fossem sinônimos.
No entanto, o Conselho Tutelar advertiu oficialmente os pais do adolescente e determinou que ele não pode mais aparecer em cultos ou vídeos religiosos.
Fé, polêmica e milhões de views
Miguel frequenta a Assembleia de Deus Avivamento Profético, em Carapicuíba (SP). Começou a pregar aos 3 anos, segundo seu próprio testemunho, após relatar uma cura milagrosa de surdez. Desde então, assumiu a missão de evangelizar com teatralidade e “revelações proféticas”.
Mas não são poucos os que questionam:
- Suas “profecias” se cumprem?
- Há consistência doutrinária no discurso?
- Ou tudo não passa de um espetáculo digital?
Malafaia sente o baque da nova geração

Missionário Miguel Oliveira, 14 anos, apavora o veterano Silas Malafaia.
Com a popularidade do garoto subindo como um foguete gospel, pastores tradicionais perdem espaço. O esvaziamento das mensagens da velha guarda é visível — tanto nas igrejas quanto nas redes.
Enquanto Miguel professa “Deus é amor”, os caciques da fé ainda batem no mantra “Deus é arma”. A diferença de tom — e de público — está na tela e nos algoritmos.
Leia também: Quem é Miguel Oliveira, profeta mirim que divide evangélicos e opiniões nas redes
Saiba mais: Miguel Oliveira abala Malafaia e vira polêmica
Miguel responde às críticas: “Sou só um adolescente”
Diante da avalanche de ataques, Miguel gravou um vídeo com tom emocionado:
“Quero paz. Não quero ser inimigo de ninguém. Só quero ser amigo e levar a palavra”, disse o jovem, sem disfarçar a tristeza pelas ofensas.
Nas redes, o que não faltam são comentários cruéis e debochados, com acusações de herege, falso profeta e até manipulação de milagres. Internautas chegam a chamá-lo de “Silvio Santos da Shopee” e exigem exames médicos para provar sua história de surdez.
Entre o petismo gospel e o marketing religioso
Sem qualquer vínculo partidário, Miguel foi alvo de bolsonaristas que tentaram carimbá-lo como “petista infiltrado”. O motivo da fúria? Ele ousa pregar justiça social, empatia e amor — palavras que, curiosamente, provocam mais urticária entre os conservadores do que qualquer profecia apocalíptica.
Há ainda quem diga que ele é apenas um produto do marketing emocional que tomou conta do mercado da fé: quanto mais choro e espetáculo, mais visualizações e Pix no altar.
Proibido de pregar, Miguel Oliveira anuncia retorno como “assistente”
O missionário mirim Miguel Oliveira foi oficialmente proibido de pregar, viajar e até usar redes sociais por determinação do Conselho Tutelar de Carapicuíba (SP). A decisão, considerada radical até mesmo por líderes evangélicos, foi tomada em meio à escalada de críticas, ameaças e denúncias envolvendo o adolescente, que viralizou ao rasgar supostos laudos médicos e afirmar curas divinas em cultos lotados e lives emocionadas.
A medida — segundo o pastor da Assembleia de Deus Avivamento Profético, Márcio Silva — será respeitada pela igreja para “preservar a imagem do garoto”, que agora retomará as aulas presenciais, abandonando o ensino online que facilitava sua agenda de viagens religiosas.
Mas, mesmo com a proibição em vigor, Miguel surpreendeu na quarta-feira (30) ao publicar uma mensagem no Instagram afirmando que voltará como “assistente” — o que deixou seguidores e críticos intrigados: seria um novo personagem para contornar a proibição?
Uma saída pela tangente?
A postagem do adolescente, enigmática e sugestiva, levanta suspeitas sobre uma possível manobra para continuar influenciando digitalmente, mesmo sob restrição formal. O termo “assistente” acendeu o alerta em quem acompanha o caso: Miguel estaria sendo tutelado por adultos que pretendem driblar a suspensão por meio de rebranding?
Seja como for, a tentativa de retorno nas entrelinhas mostra que o espetáculo da fé digital está longe do fim. E o Ministério Público de São Paulo (MPSP) acompanha o caso de perto.
Tudo sobre o pregador Miguel Oliveira
Miguel é falso profeta ou nova voz espiritual?
Ainda é cedo para cravar. Mas o fato é que milhares de pessoas se sentem tocadas por suas mensagens. Por outro lado, teólogos mais tradicionais pedem cautela e alertam para o risco de idolatria precoce.
Miguel tem ligação com partidos políticos?
Não. Até o momento, não há nenhum indício de filiação ou militância partidária. A acusação de “petismo” partiu da militância bolsonarista nas redes.
Por que pastores estão incomodados?
Porque estão perdendo o monopólio da audiência. A ascensão de Miguel desafia o modelo tradicional de púlpito e voto, tão cultivado por nomes como Malafaia.
Miguel finge milagres?
Essa é a principal crítica. Diversos perfis nas redes sociais tentam desmascarar supostas profecias que não se concretizaram. Ele, por sua vez, diz que não deseja fama — apenas pregar.
Redes sociais como campo de guerra
Além das críticas teológicas, Miguel passou a ser alvo de ameaças reais, o que motivou seus pais a procurarem a Polícia Civil. Os ataques virtuais o acusam de ser “anticristo”, “charlatão” e de “brincar com doenças sérias como o câncer e a leucemia”. Em um dos vídeos mais controversos, ele aparece rasgando exames em um culto e dizendo:
“Eu rasgo o câncer, eu filtro o teu sangue e eu curo a leucemia”.
As reações foram imediatas: “Tão jovem e já aprendeu o caminho da enganação”, comentou um internauta. Outros apontam que o adolescente estaria reproduzindo práticas neopentecostais de forma mecânica, sem embasamento bíblico ou compreensão teológica.
Entre os holofotes e a tutela
A decisão do Conselho Tutelar foi motivada não só pela exposição precoce, mas também pela pressão da opinião pública e pelo possível risco psicológico que a fama impõe a um jovem ainda em formação. O episódio também escancara a ausência de regulação clara para influenciadores religiosos mirins, um fenômeno cada vez mais comum nas redes brasileiras.
O apoio de Marçal e o silêncio das lideranças
Em meio à tempestade, Pablo Marçal, coach e influenciador evangélico, saiu em defesa do garoto:
“Ele não é um falso profeta”, disse Marçal, endossando a espiritualidade de Miguel e atacando os críticos como “invejosos e carnais”.
Enquanto isso, líderes tradicionais da fé evangélica mantêm um silêncio ensurdecedor — talvez com receio de se envolver em um caso que envolve criança, religião, internet e o risco de responsabilização legal.
Conselho Tutelar ameaça afastar pais de Miguel Oliveira
O Conselho Tutelar advertiu oficialmente os pais do adolescente e determinou que ele não poderá mais aparecer em cultos ou vídeos religiosos.
Se a decisão for desrespeitada, os responsáveis podem ser afastados do convívio com o filho por suspeita de negligência. O alerta é grave — e sem precedentes recentes nesse tipo de exposição infantil no meio evangélico.
Nem santo, nem farsante: só o tempo dirá
Miguel Oliveira é um retrato fiel da era da fé nas redes. Sua trajetória mistura evangelismo, espetáculo, emoção e polarização. Ele não é o primeiro — nem será o último — a emergir como figura messiânica num Brasil sedento por sinais divinos e digitais.
O alerta é necessário: milagres também precisam de verificação, e o julgamento apressado é tão perigoso quanto a idolatria cega.
Moral da história
Miguel Oliveira virou profeta, polêmica e símbolo de ruptura. Entre aplausos e apedrejamentos, ele caminha onde muitos temem pisar: o campo minado da fé, política e internet.
E você, está pronto para interpretar os sinais dos tempos?

Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
Publicação de: Blog do Esmael