Legado de David Capistrano presente no 14º Abrascão
Legado de David Capistrano está presente no 14º Abrascão
Homenagem foi conduzida por José Ruben Bonfim, primeiro presidente do Cebes, com participação da psicóloga Adélia, filha de Capistrano, e dos médicos sanitaristas Cláudio Maierovitch, Francisco de Campos e Arthur Chioro
Por Clara Fagundes, no site do Cebes
Ícone da luta pelo Direito Universal à Saúde no Brasil, o médico sanitarista David Capistrano da Costa Filho, gestor público, militante comunista e um dos fundadores do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), foi homenageado in memoriam na manhã de hoje, 3/12, durante o 14º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva.
Proposta e coordenada por José Ruben Bonfim, primeiro presidente do Cebes, a homenagem teve participação da psicóloga Adélia Capistrano, filha de David e Haidê Benetti, dos médicos sanitaristas Cláudio Maierovitch, Francisco de Campos e Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde.
Homenagem a David Capistrano no 14º Abrascão: à mesa, Francisco de Campos, Adélia Capistrano, José Ruben Bonfim, Cláudio Maierovitch e Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde
Adélia Capistrano destacou a capacidade de David se juntar às pessoas e construir projetos coletivos.
Relembrou, com humor, que David Capistrano tinha “projetos mirabolantes” que “às vezes não davam muito certo” e, outras vezes, funcionavam, mas geravam consequências inesperadas.
“Meu pai tinha uma capacidade enorme de olhar para as pessoas, para o território e para as desigualdades”, relembrou.
“A minha tia, Maria Cristina Capistrano, irmã do meio do meu pai, está no segundo encontro de familiares de mortos e desaparecidos na ditadura, no Ministério dos Direitos Humanos. E eu trago isso porque o momento que a gente está não é mais ditadura, é claro, mas ainda é marcado pela violência de Estado. Acabou de ter a chacina no Rio de Janeiro, todo esse sistema prisional, todo esse sistema manicomial ainda existe”, contou.
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“A gente que trabalha em políticas públicas, principalmente na área da saúde, precisa ter essa coragem, às vezes, de se olhar nesse papel de Estado e tentar não reproduzir essa violência no nosso cotidiano. É muito fácil, dentro de tanta desgraça que acontece, perder a capacidade de se indignar e de não ter medo do conflito, apesar do desconforto que se traz pra gente”, convocou Adélia Capistrano.
Parceiros de “Davizinho” desde a juventude, Cláudio Maierovitch e Francisco de Campos destacaram a natureza combativa do médico comunista, seu senso de urgência de mudança e capacidade de solidariedade diante do sofrimento humano.
Recordaram, ainda, as lutas e disputas no surgimento do campo da Saúde Coletiva. Hoje parceira, a Sociedade Brasileira de Higiene chegou a queimar as inscrições dos “infiltrados comunistas”.
O ex-ministro da Saúde Arthur Chioro reafirmou a centralidade de Capistrano na criação do SUS, que não nasce em 1990, com a Lei Orgânica da Saúde, mas muito antes, com as lutas que culminaram com a inscrição da Saúde como direito de todos e dever do Estado na constituição.
Chioro relembrou seu trabalho, ainda jovem, com Capistrano, e o papel que teve em sua formação “David cobrava estudo contínuo, lia vários jornais diariamente e corrigia até erros de português dos bilhetes”, contou. O hábito de leitura vinha da infância, quando ele lia jornais para a mãe.
José Ruben Bonfim concluiu a homenagem lendo trechos da apresentação que preparou para a nova edição ampliada do livro Da saúde e das cidades.
O livro traz elementos estruturantes da obra de Capistrano, especialmente sua articulação entre saúde pública, democracia e planejamento urbano.
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Publicação de: Viomundo
