Indignados com o distanciamento do CFM da ciência e da ética, médicos lançam manifesto

Por Conceição Lemes

Os Conselhos Profissionais das Profissões regulamentadas são órgãos de Polícia Administrativa do Estado.

Têm a função de fiscalizar o cumprimento de regras estabelecidas para o exercício profissional, em combinação com práticas publicadas e aceitas por instituições científicas e acadêmicas.

Isso vale, claro, para o Conselho Federal de Medicina (CFM).

O CFM pode, por exemplo, fechar hospital, lacrar pronto-socorro ou centro cirúrgico.

Também pode interditar um profissional ou uma clínica com indícios de ilegalidades ou práticas consideradas antiéticas ou de charlatanismo.

Em tese, deveria fiscalizar as leis referentes a tratamentos autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Associação Médica Brasileira (AMB), que representa as especialidades médicas.

Ou seja, o CFM tem a obrigação, prevista em lei federal, de:

  • zelar pela ética da prática médica e pelo saber médico em todas as instâncias e áreas;
  • defender não apenas os médicos, mas a saúde da população em geral.

O CFM e os Conselhos Regionais de Medicina (CRMs) são os órgãos garantidores de práticas médicas fundamentadas na melhor ciência.

Porém, nos últimos anos, não foi o que aconteceu na prática.

CFM e CRMs se afastaram das suas obrigações.

Resultado: cresce entre médicos e médicas de todo o País um sentimento de indignação com tal situação.

É um movimento que reúne profissionais de esquerda e progressistas.

Nessa segunda-feira, 29/04, eles lançaram o Manifesto Muda CFM.

Nos dias 6 e 7 de agosto de 2024, a categoria irá escolher os conselheiros para a gestão 2024-2029.

A primeira parte do manifesto (na íntegra, ao final) é dedicada ao diagnóstico da situação atual. A segunda, às propostas do Movimento Muda CFM:

Logo no início, o documento diz:

”As últimas gestões do CFM se caracterizaram por posições e iniciativas em defesa de uma suposta ‘autonomia’ médica, endossando medidas distanciadas das evidências científicas, baseadas em crenças propagadas no meio digital e alienadas da segurança dos pacientes, dos princípios éticos e das próprias bases da Medicina”.

Na sequência, toca na necessidade de informação qualificada e a tragédia das fake news, que atingiu também a categoria médica:

”Um dos grandes desafios contemporâneos da humanidade é o de garantir informação bem fundamentada para o público. Entretanto, há cada vez mais notícias falsas divulgadas não só na mídia, mas também na deep web, as quais criam mentiras,orientadas por interessesespúrios, que disseminam a intolerância, o negacionismo e a resistência ao diálogo”.

”No Brasil, essa verdadeira tragédia também atingiu a categoria médica, a qual individual e/ou coletivamente, organizou-se em grupos com o explícito objetivo de combater a ciência, as vacinas e outros atos que contrariam a boa prática médica, com graves efeitos sobre a saúde pública”.

Ao fazer o diagnóstico, o manifesto Muda CFM atenta ainda para três fatos que estão afetando a prática médica e a vida dos profissionais:

–as transformações nas relações entre Estado e Sociedade das últimas décadas, que têm provocado impactos sobre a prática médica ‘’como a desvalorização e a precarização do trabalho dos profissionais médicos, afetando o importante vínculo com os pacientes’’.

— A presença do capital financeiro especulativo nas operadoras de planos e seguros privados de assistência à saúde e da intermediação lucrativa do trabalho médico.

— aquisição de hospitais por todo o país por fundos de investimento, que ‘’impõem pressões e exigências descabidas aos médicos, com alta carga de trabalho extenuante, gerando frustrações, desalento e risco de adoecimento físico e mental’’.

O Muda CFM também propõe mudanças, como assinalamos acima.

Segue a íntegra do manifesto.  Confira.

Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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