Holocausto contra os judeus não justifica genocídio contra os palestinos
O problema contemporâneo entre o Estado de Israel e a Autoridade Palestina teve início em 1947, logo após a criação da ONU (Organização das Nações Unidas), que, sob forte influência dos EUA, decidiu dividir o território palestino no Oriente Médio, criando ali também o Estado de Israel.
O Estado de Israel, criado no dia 14 de maio de 1948, é fruto da junção de duas intenções. A primeira é o forte lobby exercido nos EUA pelo movimento nacionalista do povo judeu (especialmente praticado por pessoas enriquecidas), que desde o final do século XIX se articulavam em torno da bandeira sionista. A segunda é o interesse estratégico dos EUA de se fazer presente no Oriente Médio, não apenas em função do petróleo contido ali, mas também pela proximidade com a URSS/Rússia.
O sionismo é um movimento judaico que tem como finalidade o retorno ao Monte Sião (lugar sagrado em Jerusalém). Ele surgiu inicialmente como um movimento religioso que estimulava os judeus a irem a Jerusalém praticar orações, mas em 1895 ele se transformou em um movimento político após a publicação do livro O Estado Judeu – Uma Solução Moderna para a Questão Judaica, do jornalista e advogado húngaro Theodor Herzl. Segundo Herzl, sempre houve uma perseguição histórica ao povo judeu, o que só chegaria ao fim quando este, constituído em nação, conseguisse afirmar-se através de um Estado no território da Palestina.
O movimento sionista estimulou, durante a primeira metade do século 20, que judeus migrassem para a Palestina e adquirissem terras dos árabes para o estabelecimento de colônias e de fazendas coletivas, denominadas de kibbutzim. À medida em que a estratégia de ocupação territorial da Palestina para a criação do Estado de Israel ficava clara para os árabes, os conflitos foram se desenvolvendo na região.
Para garantir sucesso no empreendimento, o movimento sionista buscou em 1917, após o término da Primeira Guerra Mundial, o apoio do Império Britânico. Buscando atender à demanda, a Inglaterra promulgou a Declaração Balfour, comprometendo-se a construir um “lar judaico” na Palestina. Após vários episódios violentos de reação dos árabes palestinos, a Inglaterra amenizou o tom da declaração.
A partir da década de 1920, com a ascensão do nazismo na Alemanha, um sentimento antissemita (racismo, ódio e discriminação contra judeus) foi sendo construído como parte do projeto político de poder de Adolf Hitler. Para Hitler, os Estados mais poderosos do mundo, que estavam em rota de colisão direta com o interesse da Alemanha de se tornar um grande império, eram fortemente influenciados pelos judeus ricos. Então, persegui-los era também uma forma de afrontar esses Estados, como é o caso da Inglaterra.
A consequência da perseguição nazista aos judeus foi o Holocausto, palavra de origem grega que significa “sacrifício pelo fogo” e que expressa o genocídio de mais de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Apesar de esta palavra ser usada desde a Antiguidade para designar grandes massacres, a partir da década de 1960 ela expressa na literatura contemporânea apenas o genocídio do povo judeu na Segunda Guerra.
Com o fim da Segunda Guerra e a inflexão da Inglaterra como principal nação capitalista em detrimento dos EUA, este país passa a advogar a causa sionista dos judeus sobre o território palestino. Favorecidos pela comoção mundial em torno do Holocausto, o Estado de Israel foi criado menos como uma solução e mais como um problema, uma vez que esta ação desterritorializou o povo palestino e definiu a política imperialista estadunidense como uma expressão do sionismo revisionista.
O Estado de Israel é um enclave estratégico dos EUA no Oriente Médio. Neste momento atual da história em que EUA sofrem a ameaça de perder a supremacia econômica global para a China, incita guerras regionais para desestabilizar os Estados vizinhos, gerar terror e medo e fortalecer novamente a sua economia a partir do mercado da guerra. As principais nações na atualidade que agem em nome e com o apoio irrestrito dos EUA são Ucrânia e Israel, cujos governos são inequivocamente extremistas de direita.
O Holocausto, cujo conceito é o “sacrifício pelo fogo”, praticado pelo Estado alemão contra os judeus, não justifica o Holocausto praticado pelo Estado de Israel contra os palestinos.
*Adão Francisco de Oliveira é historiador e sociólogo, doutor em Geografia e pós-doutor em Geografia e em Planejamento Urbano e Regional. É professor dos cursos de graduação e pós-graduação em Geografia da UFT – campus de Porto Nacional e pesquisador do Observatório das Metrópoles Núcleo Goiânia. É ex-presidente da ANPEGE – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia – (2021-2023), ex-secretário Estadual de Educação do Tocantins e ex-secretário Estadual de Cultura do Tocantins.
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