Fundação Perseu Abramo marca os 60 anos do golpe com estreia do curta-metragem ‘O nome da vida’, baseado na autobiografia de Wladimir Pomar
Por Conceição Lemes
Nos próximos dias, acontecerão em todo o País mais de 100 atividades para marcar os 60 anos do golpe de 1964, que deu início à ditadura militar.
A Fundação Perseu Abramo, em São Paulo capital, sedia uma delas.
Neste domingo, 31 de março, acolhe a estreia o documentário O nome da vida, curta-metragem baseado na autobiografia do militante comunista Wladimir Pomar, sobrevivente da operação militar que ficou conhecida como o Massacre da Lapa, em 1976.
A direção é de Amanda Pomar, neta de Wladimir Pomar.
Formada em Artes e Cinema pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), ela atua como ilustradora.
Hoje, são duas sessões.
A primeira foi às 16h. A segunda é às 19h.
Amanhã, 1 de abril, haverá mais uma sessão às 19h.
A Fundação Perseu Abramo fica à rua Francisco Cruz 234, perto da estação Vila Mariana do metrô paulistano.
MASSACRE DA LAPA
O Governo Geisel ostentava um discurso moderado, prometendo a transição democrática.
Na prática, porém, continuava a perseguir os opositores do regime militar.
Uma das provas foi o chamado Massacre da Lapa, na cidade de São Paulo, em dezembro de 1976.
Parte do Comitê Central do PCdoB reuniu-se clandestinamente num “aparelho’’ no bairro da Lapa, na cidade de São Paulo, para analisar a derrota da Guerrilha do Araguaia e debater novas estratégias de resistência.
Aparelho nada mais era do que uma casa comum que os militantes comunistas usavam para se encontrar, conversar.
Os partidos comunistas haviam sido banidos da vida política-partidária do Brasil.
Na madrugada de 16 de dezembro, quando o encontro estava terminando, agentes do DOI-CODI (subordinado ao Exército) e do DOPS atacaram o ”aparelho”.
A operação militar, minuciosamente planejada, terminou com três mortes: Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Franco Drummond, todos dirigentes do PcdoB.
Os demais participantes foram perseguidos, presos e torturados, entre os quais Wladimir Pomar, filho de Pedro Pomar.
Considerado um dos últimos grandes crimes do governo militar, a chacina foi esquecida pela sociedade e minimizada até mesmo por setores da esquerda.
“No momento em que se completam 60 anos do golpe militar no Brasil, é preciso recuperar a memória dos que tombaram em defesa dos princípios da liberdade, da democracia e da justiça social, em sua correta apresentação perante o povo brasileiro, contá-la, fazê-la sobreviver’’, diz a diretora Amanda Pomar.
‘’Quatro anos de trabalho para chegar a esse objeto, o curta’’, ela conta. ‘’Como um remédio para acordar, esse trabalho foi rapinar uma história torturada do país e dos meus.”
Ao falar sobre o filme, Amanda resgata um episódio de 11 de abril de 1980, quando os restos mortais de Pedro Pomar, seu bisavó, foram trasladados de São Paulo para o Pará. Ela nem era nascida.
Na ocasião, Wladimir fez uma fala dirigida à memória do pai:
“Há, finalmente, quem diga que Pomar deixou uma herança. É verdade. Ele nos deixou o exemplo de sua vida, um legado de modéstia, de retidão de caráter, de dedicação à classe operária, ao povo e a seu partido, de amor entranhado à verdade, de aversão à vaidade e de constante alerta e combate aos próprios erros.
Há quem queira ser dono desse legado. Essa pretensão é uma afronta a meu pai, que sempre se bateu contra o exclusivismo e o espírito de seita.
A herança de Pomar, uma herança digna dos melhores revolucionários, não é patrimônio da família ou de qualquer grupo.
Ela pertence a todo o seu partido, pertence a todos os revolucionários, à classe operária e ao povo explorado e oprimido. Eu a entrego a vós”.
‘’As palavras de Wladimir para o pai, Pedro, hoje refletem o próprio Wladimir e nos leva a um entendimento sobre ele’’, diz Amanda. ”Wladimir presente, agora e sempre!”.
MILITANTE COMUNISTA DESDE OS 13 ANOS
Filho de Catarina Torres e do dirigente comunista Pedro Pomar, uma das vítimas do Massacre da Lapa, Wladimir Pomar (1936-2023) nasceu em Belém do Pará,
Em 1949, aos 13 anos, também se tornou militante do Partido Comunista.
Nos anos 1950, atuou no movimento estudantil e no movimento sindical metalúrgico.
Nos anos 1960 e 1970, foi dirigente do PCdoB. Preso em 1964, por resistir ao golpe militar, viveu na clandestinidade até ser novamente preso em 1976.
Nos anos 1980, ingressou no PT e fez parte da executiva nacional do partido, coordenando o Instituto Cajamar e a campanha Lula Presidente de 1989.
Ao longo de sua vida, Wladimir escreveu diversos livros sobre a realidade brasileira e mundial.
A autobiografia O Nome da Vida foi lançada em 2017 pela editora Página 13 e reeditada no ano seguinte pela Editora da Fundação Perseu Abramo.
FICHA TÉCNICA
Um filme Inhamis
Direção
Amanda Pomar
Roteiro
Amanda Pomar
Francis Frank
Produção Executiva
Fernanda Roque
Supervisão
Fernanda Roque
Francis Frank
Direção de Arte
Amanda Pomar
Layout e cenários
Amanda Pomar
Daniel Marques
Lucas Borges
Storyboard e animatic
Lucas Borges
Animação
Amanda Pomar
Daniel Marques
Yoná Carneiro
Rigging 2D e 3D
Daniel Marques
Produção de animação
Fernanda Roque
Direção de voz e casting
Vinícius Cristóvão
Vozes
Marcos Bavuso: Wladimir Pomar
Sandro Massafera: Pedro Pomar
Jhully Oliveira: Elza Monerat
Vinícius Cristóvão: Evaristo
Bruno Quiossa: Policial Cara Redonda
Jovan Ferreira: Policial Grandalhão
Rodrigo Machado: Policial 1
Paulo Monttero: Policial 2
Montagem
Lucas Borges
Música original e desenho de som
João Castanheira
Lucas Borges
Técnicos de som
André Poty
Ge Alvarenga
“O Que Será (A Flor da Terra)”, de Chico Buarque gentilmente cedido por Marola Edições Musicais LTDA
Intérprete
Alice Santiago
Mixagem
Ultrassom Music Ideas
Correção de cor e encode DCP
DOT Cine
Acessibilidade
CPL – Soluções em acessibilidade
Tradução
Espanhol – Carlos Alfredo Paz
Francês – Mila Frati, Matheus Vieira, Wanda Conti
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Agradecimentos
Wladimir Pomar, in memoriam.
Raquel Pomar, Valter Pomar, Nayara Oliveira, Pedro Pomar, Bia Pomar, Filipe Pomar, Carol Proner, Chico Buarque, Aldo Arantes, Dodora Arantes, Maria Ester Cristelli, Fernando Garcia, Jussara Cony, Osvaldo Bertolino, Raul Carrion, Cláudio Gonzalez, Ivone Novaes, Sônia Fardin, Marcella do Carmo, Alessandra Brum, Sérgio Puccini, Rosane Preciosa, Universidade Federal de Juiz de Fora e Fundação Perseu Abramo.
Publicação de: Viomundo