Formação prepara agentes para trabalhar com agricultores familiares no projeto Bem Viver Pampa
Começou nesta segunda-feira (24), no centro de formação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Clima Temperado, em Pelotas (RS), o curso de formação de agentes de assistência técnica rural promovido pelo Instituto Cultural Padre Josimo (ICPJ) e Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater).
O objetivo da atividade é a formação de grupo gestor e agentes que vão trabalhar no projeto Bem Viver Pampa, que vai atender 500 famílias de pequenos agricultores de matriz familiar, camponesa e assentados da reforma agrária em 18 municípios na região sul do estado. Também participam da atividade representantes da Embrapa, da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Durante a fala de acolhida aos participantes, Frei Sérgio Görgen, diretor do ICPJ, destacou a importância da retomada do programa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) como uma das ações mais importantes desenvolvidas pelo governo federal junto ao povo do campo, com destaque aos pequenos agricultores das mais diferentes matrizes.
“Também temos que destacar essa retomada da Anater, lembrando que a sua constituição foi objeto de um momento de luta pelos movimentos sociais, voltando a cumprir o papel institucional estabelecido no momento de sua criação”, afirmou.
Ele saudou ainda a Embrapa e o papel estratégico da empresa pública no desenvolvimento científico e na construção de canais de acesso para que o saber produzido nas instâncias da pesquisa e da academia cheguem, de fato, até o povo.
Sobre o MDA, Görgen frizou o papel que o ministério exerce na reconstrução das políticas públicas do campo e, de modo destacado, com os pobres do campo. “O caminho é positivo, mas ainda precisamos que aumente e que acelere, porque o campesinato já sofreu e esperou demais”.
Durante cinco dias de formação, os participantes terão a oportunidade de acessar construção de conhecimentos referentes às famílias beneficiárias, à recuperação de recursos hídricos no território atendido e à metodologia apropriada para a execução das atividades previstas no plano de trabalho. O programa de formação prevê informações sobre o público beneficiário, diagnósticos, planejamento, políticas públicas, diagnóstico rural participativo, metodologia e apropriação tecnológica.
Izabel Silva, gerente de formação e qualificação da Anater, lembrou Paulo Freire na abertura da formação, ao citar que a assistência técnica é um processo de comunicação e extensão. “Para mim é muito caro estar neste espaço, pelo que ele representa e, de modo especial, com o ICPJ também pelo que ele representa”, afirmou.
A gerente da Anater registrou que a agência está fazendo 10 anos e, embora tenha passado por alguns anos de obscuridade no último período, está retornando por meio de um projeto de retomada da participação social. “Estamos devolvendo à sociedade o que de fato é a sociedade.”
Ela explicou que, para a atual gestão da agência, a extensão rural é um processo pedagógico e a relação com as instituições também deve ser um espaço pedagógico. “O programa Bem Viver Pampa é uma demanda real da sociedade, um comprometimento do ministro Paulo Teixeira, do MDA, a partir da demanda de um problema sério da região”, explicou, relembrando do momento difícil que o estado passou recentemente, com três períodos sucessivos de seca, e o que atravessa agora, com as enxurradas e enchentes.
Retorno das ações de Ater
Adilson Schuch, dirigente do MPA, aponta que a contratação do projeto vai atender a uma base social importante, que precisa muito de inserção nas políticas públicas, de modo que saia do status de invisibilidade a que está imposta ao longo dos últimos anos. “É uma instância de reconhecimento para milhares de pequenos agricultores que se mantêm no campo, que resistem produzindo alimentos e defendendo a preservação do meio ambiente”, afirmou.
Em nome da chefia da Embrapa Clima Temperado, o pesquisador Costa Gomes agradeceu a escolha da sede da Cascata para acolher a formação e informou que naquele local foi instalado, na década de 40 do século passado, um centro ecorregional, o qual trabalha com agroecossistemas, bem como com os públicos que trabalham com esses sistemas.
“Costumo dizer que essa estação tem DNA agroecológico desde o seu nascimento. Quem vem pra cá acaba se contaminando com o clima agroecológico que essa estação tem”. O curso, segundo Costa Gomes, fortalece a posição dos pesquisadores da casa, que militam para que a ciência seja democraticamente apropriada pelo povo.
Para o representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Anderson Lobato, a atividade de formação de agentes técnicos para Ater fortalece a ideia de que se transfiram recursos, hoje centralizados em Brasília, para onde mais é necessário. “A ideia de retomar a política territorial no MDA é muito importante”, afirmou, anunciando que em breve o ministério vai realizar ações de retomada nos 18 territórios constituídos no estado do Rio Grande do Sul.
Já o diretor da Unipampa Campus Bagé, Alessandro Carvalho Bicca, explicou que a universidade já está operando junto com o ICPJ e com o MDA em um programa de fomento, em linha semelhante ao que se vai fazer agora, ou seja, “dar assistência técnica a quem mais precisa dela, a quem está numa linha de muitas dificuldades e que mesmo invisibilizado segue lutando para produzir alimentos”.
A formação de 40 horas se estende até o final desta semana e a atuação dos técnicos capacitados deverá iniciar nos primeiros dias de julho, já iniciando as visitas, cadastramentos e primeiros atendimentos às 500 famílias selecionadas.
Publicação de: Brasil de Fato – Blog