É dramática a situação de Ratinho: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come

O avanço do escândalo da Sanepar colocou o governador Ratinho Júnior (PSD) diante de um cenário descrito nos bastidores do Centro Cívico como clássico e dramático: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Com a divulgação de novos áudios explosivos que ampliam as suspeitas de caixa dois eleitoral, o mandatário cessante avalia riscos em todas as direções.

O dilema central é o calendário político. Se deixar o cargo em abril para disputar outro posto ou preservar um projeto nacional, Ratinho teme ficar vulnerável, a exemplo do que ocorreu com seu antecessor Beto Richa (PSDB), que acabou preso no contexto da Lava Jato. Permanecer no Palácio Iguaçu até o fim do mandato, por outro lado, significaria atravessar 2026 sob pressão permanente, com a crise se arrastando até o último dia de governo.

O quadro se tornaria ainda mais delicado caso o senador Sergio Moro (União Brasil), líder nas pesquisas, vença a disputa pelo governo do Paraná em 2026. Nesse cenário, aliados avaliam que Ratinho poderia ficar politicamente exposto após o fim do mandato, sem o abrigo institucional do cargo e sob novo comando no Executivo estadual.

Nos corredores do Palácio Iguaçu, aliados enxergam métodos lavajatistas nos vazamentos seletivos de áudios que atingem estatais paranaenses, especialmente a Sanepar, hoje no olho do furacão. O temor maior é que, após a desincompatibilização ou mesmo depois do término do mandato, um juiz de primeira instância determine prisões no entorno do atual governador, criando um efeito dominó político e institucional.

A tensão se intensificou com a divulgação, pela oposição na Assembleia Legislativa, de novos trechos de gravações. Se os áudios iniciais já apontavam para a existência de um esquema de arrecadação paralela para campanhas eleitorais, o material mais recente aprofunda a narrativa ao mencionar valores, prazos, entregas em dinheiro vivo, depósitos bancários e o uso de gravações como instrumento de pressão e chantagem. A leitura do conjunto sugere uma engrenagem mais organizada do que se imaginava, com personagens recorrentes e clara consciência dos riscos legais.

A apresentação dos novos áudios foi feita pelo líder da oposição na ALEP, Arilson Chiorato (PT-PR). Segundo ele, as gravações acrescentam “novos capítulos” a uma história antiga, mas jamais esclarecida. O deputado contrapôs a escassez de água em diversas regiões do Estado à fartura de dinheiro mencionada nas conversas ligadas à campanha, reforçando o contraste entre a crise operacional e os bastidores políticos da estatal.

Os diálogos são diretos. Em alguns trechos, interlocutores negociam valores fracionados, combinam datas e horários e tratam da entrega de dinheiro em espécie. Há menções a saques realizados por terceiros, preocupação com rastreamento bancário e construção de versões defensivas. Especialistas ouvidos em reportagens anteriores apontam que a circulação de recursos em dinheiro vivo é um dos sinais clássicos de tentativa de ocultação de origem.

À medida que as gravações avançam, o foco se desloca para o centro do poder. Surgem referências explícitas à necessidade de levantar R$ 200 mil para a campanha de Ratinho Júnior, com articulação atribuída ao então secretário e hoje pré-candidato Guto Silva. As conversas indicam que a arrecadação não seria pontual, mas parte de uma mobilização mais ampla, envolvendo diferentes pessoas e ocorrendo até antes da formalização de nomeações no governo.

Em outro momento, os interlocutores demonstram temor com depósitos bancários identificáveis e citam transferências específicas que precisariam ser explicadas. A tentativa de separar essas movimentações de qualquer repasse formal reforça a percepção de que havia preocupação explícita com eventuais investigações.

O trecho mais grave envolve menções ao uso de gravações como moeda de troca. Um interlocutor afirma possuir áudios que comprovariam pedidos de dinheiro e ameaças e que pretende usá-los para se proteger ou negociar retorno a cargos públicos. Em outro ponto, surge a afirmação de que R$ 600 mil teriam sido entregues “em mãos”, referência que amplia significativamente a dimensão financeira do caso e exige apuração aprofundada.

Ratinho Júnior vê sucessão se complicar com risco de racha, enquanto Moro enfrenta ameaça de debandada e operação da PF.
Ratinho Júnior vê sucessão se complicar com risco de racha, enquanto Moro lidera pesquisas.

Enquanto isso, a base governista vive um racha evidente. A disputa interna no PSD permanece travada entre Alexandre Curi, Guto Silva e Rafael Greca, nenhum disposto a recuar. A hesitação de Ratinho cobra preço. Se optar por Guto, a avaliação corrente é de ruptura: Greca e Curi não aceitariam a imposição e poderiam deixar o partido, inaugurando uma debandada governista rumo a uma candidatura independente.

Pesquisas públicas e de circulação restrita reforçam a tensão. Guto aparece com o menor nível de intenção de voto, apesar do volume elevado de anúncios e promessas de obras. Alexandre Curi registra desempenho cerca de duas vezes superior, enquanto Rafael Greca tem vantagem aproximada de 60% sobre o secretário das Cidades. O descompasso alimenta a crise interna e reduz a margem de manobra do governador.

Com novos áudios surgindo e a oposição acionando Polícia Federal, Ministério Público Eleitoral e outros órgãos de controle, o governo insiste em tratar o caso como algo do passado. As gravações recentes, porém, segundo a oposição, indicam continuidade, organização e consciência dos riscos por parte dos envolvidos.

No Centro Cívico, a avaliação segue crua e repetida em voz baixa: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

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Publicação de: Blog do Esmael

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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