Daniel de Miranda: Eleição para Prefeitura de Campo Grande definirá futuro da política em MS
Eleições em Campo Grande e o futuro da política em MS: hegemonia ou pluralismo?
Por Daniel Estevão Ramos de Miranda*
A capital de Mato Grosso do Sul foi governada por duas décadas pelo PMDB, de 1992 a 2012. Nas eleições de 2012, perdeu a capital.
Em 2014, perderia também o governo do estado para Reinaldo Azambuja, que finalmente havia conseguido tirar o PSDB da sombra do PMDB, transformando-o na principal força eleitoral do estado nos anos seguintes.
Reeleito em 2018, fez seu sucessor em 2022 e, em 2024, articulou a candidatura do deputado federal Beto Pereira (PSDB) para investir em uma nova grande conquista: a prefeitura da capital, nunca governada por seu partido.
A prefeitura é comandada atualmente por Adriane Lopes (Progressistas). Eleita (2016) e reeleita (2020) vice-prefeita da cidade na chapa com Marquinhos Trad (PSD), assumiu a prefeitura em 2022 após Marquinhos renunciar para concorrer, sem sucesso, ao governo estadual.
No Progressistas, Adriane Lopes alinhou-se a Tereza Cristina, senadora e ex-ministra do governo de Jair Bolsonaro.
Esperava-se que a senadora fosse capaz de articular o apoio oficial de Bolsonaro à Adriane Lopes, consagrando-a como a representante oficial do bolsonarismo na cidade.
Contudo, tais negociações foram atravessadas pelo ex-governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que costurou acordo direto com Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL, com a sanção de Bolsonaro, para apoiar Beto Pereira (PSDB), com a condição de o ex-presidente escolher a candidata a vice na chapa.
Uma terceira parte nessa disputa tem relação também com Azambuja: Rose Modesto (União).
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Vereadora reeleita em 2012 pelo PSDB, com a segunda melhor votação na ocasião, foi escolhida em 2014 para ser vice na chapa que elegeria Azambuja governador do estado.
Disputou a prefeitura em 2016, indo para o segundo turno, mas perdendo a eleição. Eleita deputada federal em 2018, concorreu ao governo estadual em 2022.
Sua popularidade foi construída pelo seu perfil que concilia uma imagem que projeta uma conexão direta com os setores mais populares (mulher, de origem simples, professora e evangélica), ao mesmo tempo que sua trajetória político-profissional (vereadora, vice-governadora, Secretária estadual de direitos humanos e assistência social, deputada federal, presidente da Sudeco) lhe concede acesso a muitos dos gabinetes mais importantes das elites locais.
É interessante lembrar outro importante processo de renovação local: o PT elegeu a única candidata mulher na Câmara Municipal de Campo Grande nas eleições de 2020 – Camila Jara.
Jovem e fortemente atuante nas redes sociais, tornou-se deputada federal em 2022 e foi escalada para ser o novo rosto do PT nas eleições municipais de Campo Grande.
Some-se a esses quatro candidatos outros quatro nanicos: Beto Figueiró (NOVO) e Ubiraja Martins (DC), do lado da direita; Luso Queiroz (PSOL) e Jorge Batista (PCO), do lado da esquerda. Esse é o cenário básico das eleições para a prefeitura de Campo Grande em 2024.
Praticamente todas as pesquisas divulgadas de julho até a segunda semana de setembro apontam o mesmo cenário: Rose (União) firmemente estabelecida na primeira posição, seguida por Beto Pereira (PSDB) e Adriane Lopes (Progressistas), os quais aparecem tecnicamente empatados com frequência e, por fim, Camila Jara (PT) mais atrás.
Os demais quatro candidatos nanicos mal pontuam.
Diante da exposição acima, já fica claro a estratégia de cada um:
- Rose conta com o firme apoio do União, tendo recebido os recursos financeiros de seu partido logo nos primeiros dias de campanha. Outro ponto de apoio importante é seu vice, Roberto Oshiro, ligado ao empresariado da cidade.
- Beto Pereira conta com um amplo arco de alianças que lhe conferiu mais de 4 minutos de propaganda eleitoral (contra menos de 2 de cada um dos demais), recursos financeiros (tanto do PSDB quanto, principalmente, do PL) e a capacidade de articulação de Azambuja, até aqui determinante para a viabilidade de sua candidatura.
- Adriane Lopes conta com a vantagem de estar no cargo e, portanto, poder construir sua candidatura, alianças e bases há dois anos. Embora tenha sofrido o baque de não ter tido o apoio esperado de Bolsonaro, conta com apoios locais importantes e uma rejeição não muito alta.
- Camila Jara (PT) explora o máximo possível seus dois principais trunfos: a juventude e a capacidade de usar as redes sociais; a figura de Lula que, embora tenha, por um lado, avaliação negativa alta na cidade, tem também popularidade suficiente para, com a estratégia correta, alavancar sua candidatura e torná-la mais competitiva.
O cenário aponta para uma acirrada disputa, principalmente pela segunda vaga para o segundo turno, caso a dianteira de Rose continue se confirmando nas futuras pesquisas.
Por fim, o resultado das eleições indicará o que aguarda a política sul-mato-grossense nos próximos anos: a hegemonia inconteste do PSDB/projeto político liderado por Azambuja ou a permanência de um pluralismo moderado, embora desequilibrado em termos de força.
* Daniel Estevão Ramos de Miranda é professor no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Este artigo é parte das análises produzidas pelo Observatório das Eleições 2024, iniciativa do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT/IDDC).
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Publicação de: Viomundo