Centrão tira R$ 35 bilhões do povo
Centrão tira R$ 35 bi do povo
Caciques descartam MP do IOF
Por Cleber Lourenço, no ICL Notícias
O movimento que enterrou na Câmara a Medida Provisória 1.303 — a chamada MP do IOF — marca um novo capítulo da estratégia política do Centrão.
O bloco, formado por PP, União Brasil, Republicanos e PL, articulou a retirada da pauta a poucas horas do prazo final, impedindo a votação e garantindo que a proposta caducasse.
O resultado foi o alívio para bancos, grandes fundos de investimento e casas de apostas, e o golpe nas contas públicas: R$ 35 bilhões a menos para obras, programas sociais e políticas voltadas aos mais pobres.
Para o governo, o gesto é parte de uma sabotagem com fins eleitorais, planejada para asfixiar o caixa do Executivo e enfraquecer a capacidade de entrega de Lula até 2026.
Nos bastidores, membros da articulação política afirmam que o Centrão age com cálculo frio — protege financiadores, mantém o apoio dos grandes conglomerados econômicos e transforma a crise fiscal em capital eleitoral. “Eles não derrotaram o governo, derrotaram o Brasil”, disse um interlocutor da base.
A MP do IOF previa a unificação da alíquota do Imposto de Renda sobre aplicações financeiras em 18%, substituindo o modelo regressivo que beneficia investidores de curto prazo e grandes fortunas.
Também estabelecia o aumento da taxação das bets de 12% para 18%, corrigindo distorções e ampliando a arrecadação.
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A queda da medida, porém, manteve privilégios e adiou uma reforma que tornaria o sistema tributário mais justo. O governo calcula que a perda de arrecadação compromete o equilíbrio fiscal e obriga a revisão de obras e políticas públicas prioritárias.
A ofensiva repete um comportamento já visto no fim de 2022, quando o mesmo Centrão liberou gastos desenfreados no governo Jair Bolsonaro para tentar evitar sua derrota nas urnas.
Naquele momento, o bloco aprovou medidas bilionárias de última hora — como a ampliação do Auxílio Brasil e o aumento do vale-gás — sem amparo fiscal, na tentativa de impulsionar a popularidade do então presidente.
Agora, faz o inverso: estrangula o orçamento de Lula, bloqueia fontes de receita e aposta no desgaste social e econômico do país para colher dividendos eleitorais em 2026.
Governo paralelo do Centrão
O relator da MP, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), apresentou um texto que preservava isenções para pequenos investidores e concentrava a cobrança sobre grandes rendimentos.
O destaque de Pedro Campos (PSB-PE), que restabelecia a alíquota de 18% sobre as bets, foi derrotado junto com a retirada da proposta de pauta — vitória direta do lobby das apostas, que pressionou parlamentares até o último momento.
Segundo fontes do Planalto, a votação foi o retrato de um Congresso dominado por interesses privados e eleitorais, disposto a sacrificar o país para preservar o poder.
A Fazenda estima que a sabotagem custará R$ 35 bilhões aos cofres públicos entre 2025 e 2026.
O montante financiaria programas de habitação popular, infraestrutura, educação e saúde. Sem esses recursos, o governo terá de buscar novas fontes de receita ou rever gastos, impactando justamente os mais vulneráveis. A perda também ameaça o alcance de políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família, e compromete a meta fiscal definida no PLOA de 2026.
Nos bastidores, ministros e técnicos reconhecem que o Centrão atua como um governo paralelo, usando o orçamento e as votações estratégicas para moldar o cenário político e econômico conforme seus interesses.
A diferença é que, em 2022, o bloco usou o poder para gastar mais e tentar reeleger Bolsonaro; agora, usa para travar arrecadação e dificultar a reeleição de Lula. O fio condutor é o mesmo: manipular as finanças públicas em nome de conveniências políticas.
O Planalto tenta recompor parte da arrecadação por meio de projetos substitutivos e medidas infralegais, mas reconhece que o dano simbólico é profundo.
A sabotagem do Centrão mostra que, quando o tema é o bolso dos super-ricos, as mesmas forças que abriram cofres por Bolsonaro agora fecham o caixa para o Brasil. O país, mais uma vez, paga a conta.
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Publicação de: Viomundo