Biden prevalece sobre Trump no Senado americano

Foto: Reprodução

O senador democrata Raphael Warnock foi reeleito nesta terça-feira (6) pelo Estado da Geórgia, no sul dos EUA. A vitória em segundo turno, um rescaldo das eleições de meio de mandato, representa um importante respiro para o presidente dos EUA, Joe Biden, cujo partido terá uma cadeira a mais no Senado a partir do ano que vem.

A eleição opôs dois candidatos negros e foi acirrada desde o começo; em quase toda a apuração na noite desta terça-feira (6), eles apareciam com margens mínimas de diferença.

Warnock venceu o ex-astro do futebol americano Herschel Walker, republicano. A Geórgia é o único Estado que tem um segundo turno na eleição legislativa, caso os candidatos ao Senado não alcancem 50% dos votos na primeira rodada – que ocorreu em 8 de novembro.

Foi uma eleição acompanhada de perto pelo país todo. Isso porque, com o resultado, o Partido Democrata terá 51 assentos, do total de 100, do Senado a partir de 3 de janeiro – um a mais do que a legenda tem hoje. Até agora, o partido tinha a maioria mínima para aprovar projetos, o que fazia com que qualquer dissidência na base bastasse para travar propostas do governo, como ocorreu uma série de vezes na primeira metade do mandato de Biden. Com a vitória de Warnock, o governo terá capacidade maior para contornar dissidências. Isso será importante também para confirmar nomeações da presidência a cargos como juízes, embaixadores ou chefes de órgãos públicos, que precisam passar por escrutínio do Senado.

Por fim, a maioria será essencial agora que Biden perdeu o controle da Câmara, já que os republicanos conquistaram a maioria dos assentos na Casa e prometem travar a pauta do governo.

Warnock é pastor na Igreja Batista Ebenézer, a mesma em que pregou Martin Luther King Jr., um dos marcos da luta pelos direitos civis da população negra em Atlanta. Ele foi eleito ao Senado pela primeira vez em 2020, em uma eleição especial para substituir um parlamentar republicano que decidiu se aposentar. A base democrata se concentra sobretudo em Atlanta e outras regiões mais urbanas, enquanto os republicanos têm forte apelo nas amplas zonas rurais do Estado do sul dos EUA.

Herschel Walker, candidato derrotado, vem do futebol americano e não tinha experiência política. Ele teve sua candidatura impulsionada pelo ex-presidente Donald Trump e enfrentou uma série de controvérsias durante a campanha.

O candidato, que se dizia contrário ao aborto em qualquer situação, mesmo em casos de estupro, foi acusado por duas ex-namoradas de ter incentivado e pagado para que elas fizessem abortos no passado. Além disso, um de seus filhos, influencer conservador com mais de 500 mil seguidores no Instagram, acusou-o de violência doméstica.

Em outras controvérsias mais anedóticas, afirmou que não sabia o que eram pronomes e assumiu que morava no Texas até o começo da campanha. Em sua plataforma, além da proibição do aborto, advogava por “defesa da família”, aumento do controle das fronteiras e aumento do financiamento das polícias.

A derrota de Walker é mais um de uma série de golpes contra Trump, que enfrenta nos últimos dias uma série de reveses. Ele já havia sido acusado de impulsionar candidatos radicalizados que afastavam o eleitor, o que foi tido por membros do seu próprio Partido Republicano como uma das razões pelas quais a legenda não conquistou a maioria do Senado. Nesta terça, Trump teve outro contratempo, desta vez relacionado a seus negócios: duas de suas empresas foram condenadas por fraude fiscal em Nova York.

Trump não fez campanha para Walker no segundo turno – assim como Biden, impopular, não foi ao Estado na reta final da campanha. O candidato republicano ganhou reforço na campanha por parte do governador reeleito, Brian Kemp – moderado, que havia se afastado do ex-jogador de futebol no primeiro turno. Do lado democrata, o reforço mais poderoso da campanha veio pelo ex-presidente Barack Obama.

Com mais de US$ 400 milhões gastos na campanha, estas foram as eleições mais caras dessas midterms.

A vitória democrata também consolida o movimento da ativista Stacey Abrams. Depois de perder a eleição para o governo do Estado em 2018 (como aconteceu de novo neste ano), ela iniciou um amplo esforço para aumentar o acesso de minorias ao voto no Estado, registrando milhares de eleitores negros – o comparecimento às urnas não é obrigatório nos EUA. A iniciativa foi considerada essencial para a vitória de Biden na Geórgia em 2020.

O movimento mudou o panorama eleitoral no Estado, que votou apenas em candidatos a presidente republicanos entre 1996 e 2016. Em 2012, sequer houve pesquisa de boca de urna por lá porque o Estado não era considerado competitivo o suficiente para fazer valer a pena o investimento.

Em 2020, porém, Biden conquistou a maioria dos votos e transformou de volta a Geórgia em um Estado-pêndulo, isto é, sem preferência clara por democratas ou republicanos. Isso é importante para neutralizar outros Estados com a mesma característica, mas que vêm pendendo mais para os republicanos a cada eleição, como a Flórida ou Ohio. Como a Geórgia tem 16 votos no sistema de colégio eleitoral do país, o oitavo mais relevante, voltou a ser um Estado decisivo no resultado da eleição presidencial americana.

A apuração nesta terça foi mais acelerada do que o previsto dado o aperto das pesquisas, que não mostravam um vencedor claro. E contrastam fortemente com o caos de dois anos atrás.

Foi na Geórgia que Trump fez um dos gestos mais claros para tentar roubar a eleição, ao telefonar para o secretário de Estado local, responsável pelo controle do pleito, e pedir expressamente: “Tudo o que quero é isso: encontrar 11.780 votos, um a mais do que temos [de diferença]. Porque nós ganhamos a Geórgia”.

Biden venceu Trump por 11.779 votos de diferença e conquistou todos os 16 votos do Colégio Eleitoral do Estado, o oitavo com maior peso no sistema americano. Trump processou a Geórgia alegando que 15 mil eleitores votaram de maneira irregular, a maior parte com nomes de pessoas que já morreram, outros que não estavam registrados e alguns que não poderiam ter votado por terem sido condenados por crimes graves. A Justiça afirma que as alegações eram não só falsas, como Trump sabia que eram falsas, e mesmo assim decidiu mantê-las.

Por isso, neste ano as autoridades lançaram mão de uma série de iniciativas para agilizar a contagem, na tentativa de evitar que conspirações que surgem quando os resultados demoram a sair ganhem força. Uma legislação local aprovada no ano passado autorizou condados a abrir e a escanear os votos que chegam pelo correio antes do dia da eleição. Um terço dos condados começou a contagem dos votos antes que as urnas se fechassem.

Valor Econômico

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