Arthur Chioro: ‘Bestialidade’ do presidente está minando a credibilidade da vacinação no Brasil
‘Bestialidade do presidente está minando sucesso das vacinas no Brasil’
Para ex-ministro da Saúde, vacinar é gesto de amor, solidariedade e responsabilidade coletiva. Nada disso combina com Bolsonaro
São Paulo – O ex-ministro da Saúde Arthur Chioro afirma que o presidente Jair Bolsonaro, com “sua bestialidade”, está minando a credibilidade da imunização no Brasil. E isso não apenas em relação à vacinação contra a covid-19, mas também ao conjunto das doenças.
“O Brasil, que tinha certificado de erradicação de doenças como a poliomielite, o sarampo e caminhava para erradicar a rubéola, vai voltar a viver condições deploráveis. Vamos voltar a ter o crescimento da tuberculose e outras doenças graves, que são preveníveis por vacina. Isso é inaceitável”, disse em participação no programa Bom para Todos, da TVT.
“Ouço de gestores de saúde que a cobertura de tríplice viral, tuberculose, tétano e todas as outras caiu muito. Isso porque há uma insidiosa campanha, o tempo inteiro, que começa a plantar na cabeça das pessoas a ideia de que a vacina faz mal”.
Conforme o médico sanitarista, que foi ministro da Saúde no segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff (PT), entre os 33% de brasileiros não vacinados ou vacinados parcialmente, estão idosos que afirmam terem tomado a primeira dose da vacina contra a covid-19.
Mas que, como tiveram febre, decidiram não voltar ao posto de saúde para tomar a segunda dose. Ou de pessoas que, por se julgarem saudáveis e bem nutridas, acreditam não precisar da imunização.
“E ficam o tempo inteiro ouvindo as fake news e toda a ação efetiva do presidente. Isso cria um bolsão de pessoas suscetíveis. E nós, muito provavelmente, teremos um aumento no número de casos de covid nas próximas semanas e meses em função da existência de margem para circulação entre nós do vírus devido à baixa imunização.”
Brasil referência em imunização
O desserviço do governo à saúde pública, segundo Chioro, será medido não pela vacinação da covid, mas da influenza (gripe).
“É a mais baixa cobertura na história. Não é por menos que estejamos tendo agora uma epidemia da gripe H3N2 completamente fora de época. Estava sendo esperada no hemisfério norte. Para nós, era a partir de abril, maio.
Chioro lembrou que o Brasil é referência mundial em imunização.
O país que tem o Zé Gotinha como patrimônio cultural é o que tem maior confiança nas vacinas aplicadas pelo SUS do que na rede privada. E que detém expertise na sofisticada missão de levar vacinas aos rincões do país, mantendo a temperatura adequada, para a segurança da população.
“Pesquisa feita ano passado pela Organização Pan-Americana de Saúde nas Américas, antes da chegada da vacina da covid, mostrou que a população brasileira é a que mais adere à campanha.”
Em muitos países europeus, a vacinação não foi tão grande não por causa do negacionismo, mas porque não há a cultura da vacina. Nesses países ricos, o sarampo, a tuberculose, a meningite, não fizeram a mesma desgraça que causaram aqui, não tiveram o mesmo impacto. Por isso os brasileiros aderiram a campanhas, e os europeus nem tanto.
Desde o golpe que destituiu a presidenta Dilma, especialistas vêm fazendo alertas sobre a queda da cobertura vacinal no país, que acabou agravada pela pandemia.
O desmonte das políticas também tem contribuído para que os pais deixem de levar seus filhos aos postos de saúde.
Desse modo, isso já se reflete no reaparecimento de doenças preveníveis por vacinas, como o sarampo.
Por mais vacina
No início do mês, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) lançou um programa para estimular a imunização no país, de modo a retomar patamares de 12 anos atrás. É o projeto Reconquista das Altas Coberturas Vacinais, que tem apoio de setores do Ministério da Saúde, Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Grupo Mulheres do Brasil.
O projeto firmará uma rede de colaboração interinstitucional e internacional, em busca da melhoria da cobertura vacinal brasileira. Serão implementadas ações de apoio estratégico ao Programa Nacional de Imunizações para reverter a trajetória de queda na cobertura vacinal de crianças, adolescentes, adultos e idosos, incluindo gestantes e povos indígenas.
“Toda vacina tem duplo papel: o de proteção individual e coletiva, de evitar totalmente, ou reduzir a gravidade da doença. Mas o principal é a proteção coletiva. Vacinar é um gesto de amor, de solidariedade, de responsabilidade coletiva. Quando todo mundo se vacina, a gente tem um controle sobre o agente causador das doenças”, afirmou Chioro.
Publicação de: Viomundo