Após desastre climático, agricultura gaúcha se reconstrói com expectativas otimistas

Conforme as estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e da Emater-Ascar RS (entidade responsável pelo Serviço de Extensão Rural no RS), a recuperação da economia primária do Rio Grande do Sul está em andamento. Apesar das seguidas estiagens e das enchentes que atingiram o estado no primeiro semestre, a previsão é de aumento significativo da produção de grãos.

A previsão otimista engloba tanto as safras de inverno, com produções coo trigo, cevada e aveia, como nas de verão, como o milho, soja, feijão e arroz.

O último levantamento divulgado pela Conab prevê que o estado se encaminha para ter a sua segunda maior colheita de grãos, segundo registros da série histórica da instituição, que iniciou no ciclo 1976/77. A produção deve chegar a 37,1 milhões de toneladas – 34,5% a mais do que na safra anterior, quando foram colhidas 27,6 milhões de toneladas. Isso coloca o RS na posição de terceiro maior produtor de grãos do país, atrás apenas de Mato Grosso e do Paraná.

Apesar das adversidades durante o ciclo das culturas, sobretudo ao final da colheita, as lavouras apresentaram um desempenho melhor do que na última safra, o que justifica esse resultado na produção gaúcha. A área plantada nesta safra soma 10,4 milhões de hectares, uma elevação de 1%.

Todas as principais culturas do estado seguem apresentando alta na produção. O crescimento é de 51% na soja, de 44,5% no trigo, de 30% no milho e de 3,3% no arroz. No que diz respeito ao tamanho das lavouras, o crescimento foi de 3,2% na área plantada com soja e de 4,4% na área com arroz. Já as áreas de trigo e milho tiveram redução de, respectivamente, 10,6% e 2%.

Segundo a estimativa divulgada em agosto pela Emater-Ascar, nas culturas de verão (arroz, feijão, milho e soja) a área plantada teve um aumento de 1,09% em relação à safra anterior passando de 8.445.005 de hectares para 8.537.107 de hectares. Já a produção de grãos deverá aumentar 16,91%, de 29.997.676 de toneladas na safra 2023/2024, para 35.070.450 de toneladas na próxima colheita.

Trigo

Na principal safra de inverno, com o trigo já em andamento logo após a enchente, o estado deve colher 4,19 milhões de toneladas do cereal, numa área de 1,34 milhão de hectares. O levantamento de safra da Conab mostrou uma área menor do que o cultivado na última safra, mas uma boa produtividade, que foi fortemente impactada no final do último ciclo, apesar da falta de sementes em quantidade e qualidade, o clima frio e relativamente seco deste inverno reduziu o aparecimento de fungos e insetos.

Já o levantamento da Emater, divulgado no final do mês de junho, previa que o Rio Grande do Sul deve produzir 4.068.852 toneladas de trigo, o que representa um aumento de 55,27% em relação à safra frustrada de 2023, que totalizou 2.620.493 toneladas (IBGE). Estes dados compõem a estimativa do Informativo Conjuntural, apresentado pela Emater/RS-Ascar.

Soja

O RS é o segundo maior produtor de soja do país. A estimativa de produção é de 19,65 milhões de toneladas, numa área plantada de 6,76 milhões de hectares. A produção poderia ter sido ainda maior, mas com o excesso de chuvas em abril, apesar da colheita já apresentando 70% do total, as lavouras que estavam em campo tiveram seu desempenho prejudicado. Contudo, tiveram um bom suprimento hídrico durante praticamente todo o ciclo, projetando boa produtividade.

Milho

O estado gaúcho é o que mais produz milho na primeira safra, correspondendo a quase 21% do total produzido neste primeiro momento. A Conab estima a colheita de 4,85 milhões de toneladas do grão, numa área de 814,9 mil hectares. O milho também teve o seu desempenho afetado pelas fortes chuvas ocorridas ao final de abril, apesar de apresentar desempenho bem superior ao da safra passada, com produtividade de 5.952 kg/ha, 32,6% a mais que no ciclo 2022/23.

Arroz

A produção gaúcha de arroz está estimada em 7,16 milhões de toneladas, numa área de 900,6 mil hectares. O estado é responsável por 73,47% da produção nacional, ou seja, é o maior produtor do país. O período de semeadura foi longo, de setembro de 2023 a janeiro de 2024, inclusive com plantio fora da janela. Houve atraso na colheita em mais de 13% da área, causando perdas tanto quantitativas quanto qualitativas. O excesso de chuvas prejudicou o desempenho das lavouras em relação à safra passada e, com os impactos das enchentes, a redução da produção no estado foi de pouco mais de 300 mil toneladas. No entanto, o aumento da área cultivada compensou a perda de produtividade e o resultado na produção é 3,3% superior à última safra.

Outras culturas avaliadas pela Emater-Ascar

Aveia branca – A estimativa de safra, realizada em 282 municípios gaúchos, aponta aumento de 0,16% na área cultivada, passando de 364.989 hectares (IBGE) para 365.590 hectares em 2024. O cálculo de tendência indica estimativa de produtividade de 2.402 kg/ha, resultando numa produção de 878.271 toneladas de grãos. De acordo com a Emater, o pequeno aumento no cultivo do cereal em comparação à safra anterior pode ser justificado pela restrição da oferta e pelo preço elevado de sementes disponíveis em algumas regiões do Estado, o que pode ter desestimulado o plantio.

Canola – A cultura apresenta a maior alteração proporcional na área de cultivo entre os grãos de inverno no Estado, com expansão de 74,35% na extensão das lavouras em relação ao ano anterior. Para a presente safra, projetam-se 134.975 hectares; em 2023, foram plantados 77.418 hectares. A estimativa de safra realizada em 231 municípios aponta uma produção de 226.557 toneladas, e a média de produtividade é de 1.679 kg/ha. O cultivo se concentra no quadrante Noroeste do Estado.

“A expansão das áreas de cultivo da canola nesta safra está diretamente associada aos resultados da safra anterior, aos ganhos econômicos satisfatórios e à redução das perspectivas de cultivo de trigo e, em parte, de milho em áreas irrigadas”, avalia o diretor técnico da Emater, ao destacar que os produtores mencionam a necessidade de aumentar a lucratividade das unidades de produção, justificando, assim, a substituição dos cultivos.

Cevada – A projeção inicial de cultivo da cultura é de 34.429 hectares, representando redução de 15,4% na área em relação aos 40.695 hectares da safra anterior. O cálculo de tendência, realizado em consulta a 182 municípios gaúchos, indica produtividade de 3.245 kg/ha e produção de 111.707 toneladas.

O levantamento da Emater/RS e Ascar demonstra redução no cultivo da cevada, condicionado pela frustração da safra anterior, na qual quase a totalidade dos grãos produzidos no Estado não obteve classificação comercial adequada para a indústria cervejeira. Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Erechim, a área está estimada em 12.460 hectares, sendo 13% inferior ao ano anterior. Já na região de Ijuí, onde a semeadura da cevada foi finalizada, a área semeada é pequena, concentrada em poucos municípios. O acompanhamento das lavouras está menos intenso, porém a cultura apresentou bom estabelecimento inicial e adequado estande de plantas.

* Com informações da Conab e Emater-Ascar RS

 

Publicação de: Brasil de Fato – Blog

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