Ângela Carrato: No JN, Ciro faz o jogo de Bolsonaro e da família Marinho e deixa explícito seu objetivo de jogar a eleição para 2º turno

Por Ângela Carrato*, em seu perfil de rede social

Do ponto de vista de desrespeito aos fatos, não sei quem foi pior na série de entrevistas com os candidatos à presidência da República que o Jornal Nacional está fazendo: Ciro Gomes ou Bolsonaro.

Bolsonaro é um tosco, defensor da violência e sem qualquer compromisso com os interesses populares.

Já Ciro Gomes é pessoa culta, mas no quesito oportunismo e falta com a verdade, se igualaram.

Na entrevista de hoje, ficou patente a tentativa por parte de Ciro de recontar a história recente do Brasil ao seu bel prazer.

Ele jogou num mesmo pacote de ruindades, por exemplo, todos os presidentes do pós-redemocratização, desconhecendo não só as abissais diferenças entre eles como os enormes avanços dos governos petistas.

A título de exemplo, tratou o golpe contra Dilma e a prisão de Lula como se ambos tivessem responsabilidade pelo que lhes aconteceu e ao país.

Ao invés de golpe, ele usou o termo crise no presidencialismo de coalisão, conceito utilizado por aqueles que se recusam a entender a gravidade e a profundidade da guerra híbrida enfrentada pelo Brasil a partir de 2013.

Mesmo se definindo como um político progressista, Ciro criticou mais Lula do que Bolsonaro.

Fez acenos explícitos para nomes de direita como João Doria, ACM Neto e Tasso Jereissati e, mesmo incluindo os plebiscitos como item importante para o seu modo de governar, garantiu se inspirar nos Estados Unidos e na Europa, jamais na Venezuela.

Neste momento de tensão internacional e de guerra na Ucrânia, o aceno de Ciro ao Tio Sam não teve nada de inocente.

Candidato à presidência da República pela quarta vez, ele ainda incluiu em suas respostas aos entrevistadores do JN o compromisso de não disputar a reeleição.

Não acredito que valha a pena comentar as mirabolantes propostas que apresentou.

O que ficou claro é que ele, de forma consciente ou não, faz o jogo de Bolsonaro e da família Marinho no combate a Lula e não medirá esforços para empurrar a eleição para o segundo turno.

Ciro ainda sonha em ter sucesso nesta disputa, mas suspeito que ele irá para Paris mais cedo do que gostaria.

E talvez acabe até ficando por lá. Ver menos.

*Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação da UFMG.

Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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