‘A Venezuela está enfrentando o Império; isso não pode ser desconsiderado pelo Brasil’, afirma Paulo Nogueira Batista Jr; vídeo
Abaixo a transcrição do vídeo
Paulo Nogueira Batista Jr*, em seu canal no YouTube
Um breve comentário sobre a situação na Venezuela.
A situação é complexa, difícil de avaliar de fora.
Mas há um pano de fundo que parece claro: a crise econômica da Venezuela é produto em larga medida de um regime de sanções que foi imposto ao país pelos Estados Unidos e acompanhado pelos europeus.
O país sofreu enorme quantidade de sanções, teve inclusive as suas reservas internacionais bloqueadas e roubadas pelos europeus e pelos americanos.
Isso provocou muita instabilidade no país e explica não toda a crise — porque há certamente problemas internos de gestão da economia por parte do governo Maduro.
Mas é impossível entender a dificuldade econômica da Venezuela sem levar em conta esse regime de sanções.
Não vamos esquecer que a Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo.
Isso desperta cobiça dos americanos, dos europeus, sobretudo dos americanos declaradamente, inclusive pelo Donald Trump.
Apoie o jornalismo independente
Eles estão procurando desestabilizar um governo que estatizou o setor, atingiu os interesses de corporações americanas e europeias.
Só um parêntese aqui.
Não existe corporação global, empresa transnacional. O que existe sobretudo — com algumas poucas exceções — são as empresas de determinados países que têm atuação internacional.
Então, quando uma empresa americana dita global é atingida nos seus interesses, o governo americano se solidariza com ela.
Vamos então fechar esse parêntese e ter clareza quanto a isso.
Em resumo: nós temos um país vizinho nosso que, com todos os seus problemas, seus defeitos, erros políticos que o governo Maduro possa ter cometido, é um país que está enfrentando o império.
Então, isso não pode ser desconsiderado. Qual é o papel do Brasil?
No meu modesto modo entender não é ficar ditando regras para a Venezuela, se metendo no processo interno da Venezuela.
Não é isso que nós temos que fazer. Nós temos que respeitar o país vizinho, respeitar o processo político que esse país está seguindo.
Não vamos agora querer ser paladinos da democracia à la Estados Unidos, metendo o bedelho em todos os assuntos internos dos nossos países, sobretudo, volto a dizer, num país que está enfrentando a pressão do Império.
*Paulo Nogueira Batista Jr. é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, de 2015 a 2017, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países em Washington, de 2007 a 2015. Lançou no final de 2019, pela editora LeYa, o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém: bastidores da vida de um economista brasileiro no FMI e nos BRICS e outros textos sobre nacionalismo e nosso complexo de vira-lata. A segunda edição, atualizada e ampliada, foi publicada em 2021.
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
Leia também
Valter Pomar: Venezuela, o que deseja o Itamaraty?
Publicação de: Viomundo