Marcos de Oliveira: Empreendedores por necessidade
Empreendedores por necessidade
O discurso da multiplicação de empreendedores tenta esconder precarização do mercado de trabalho
Por Marcos de Oliveira, no Monitor Mercantil
Os empreendedores negros no Brasil alcançaram, em 2024, um recorde na renda domiciliar per capita. É o que aponta um estudo feito pelo Sebrae a partir de dados da Pnad Contínua Anual (IBGE). O levantamento reúne dados desde 2012 e mostra que, apesar desse crescimento, a renda média total dos donos de negócios negros ainda é 35,7% menor que a verificada entre empresários brancos.
A pesquisa mostra também que a participação de negros diminui conforme a renda per capita aumenta. Na faixa dos beneficiados pelo Programa Bolsa Família, eles representam 81,1% dos empreendedores. Essa participação cai para 72,9% na faixa de renda menor ou igual a meio salário mínimo e é ainda menor na faixa de renda superior a 3 salários mínimos, onde os negros são apenas 28,2%.
Os dados deixam claro que o empreendedorismo é uma ilusão criada para esconder a precarização do trabalho. Os chamados empreendedores são, em sua ampla maioria, trabalhadores informais que recorrem a artifícios como MEI (Microempreendedor Individual) para ter uma chance no mercado.
A renda média per capita dos empresários negros reforça esta análise: em 2024 foi de R$ 2.700,98, o melhor resultado em 12 anos de pesquisa. O valor é inferior à renda média real do trabalho no Brasil em 2024, que atingiu R$ 3.225. A renda média dos brancos donos de negócios ficou em R$ 4.202,56.
Os negros (pretos + pardos) chamados de empreendedores já somam mais de 16 milhões no país, um crescimento de 28,3% nos últimos 10 anos. Os brancos totalizam cerca de 14 milhões de empreendedores, com crescimento de 18,4% no mesmo período.
O discurso de autonomia e ser o próprio patrão ganhou corpo mesmo entre os trabalhadores precários; quem pretende contribuir para alterar a situação de precariedade disfarçada de empreendedorismo precisa levar isso em conta, o que, porém, não significa incorporar uma ideia propagada para atenuar a precariedade e instabilidade de trabalhadores informais.
Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
Apoie o VIOMUNDO
Leia também
Vidas Entregues: A realidade do “empreendedorismo”
Ricardo Antunes: Inteligência Artificial (de)generativa e jornada 6×1
Roberto Amaral: 1º de Maio, do massacre de Chicago ao desencanto atual
Publicação de: Viomundo