Bresser-Pereira: A lógica do subdesenvolvimento e do Império

A lógica do subdesenvolvimento e do Império

Por Luiz Carlos Bresser-Pereira*, em perfil de rede social

Leio hoje nos jornais que Café Pilão, Café do Ponto, Café Caboclo e Café Pelé eram marcas da empresa holandesa JDE que foram compradas pela empresa americana Keurig Dr. Pepper por 15,7 bilhões de euros, que se torna assim a maior empresa de cafés do mundo.

Vemos assim que marcas “tão brasileiras” que já haviam sido vendidas a uma empresa holandesa agora são americanas, ou sejam, enviam lucros e dividendos para o exterior. Contribuem para o desenvolvimento de países estrangeiros.

Essa, meu amigos, é a lógica do imperialismo acoplado ao subdesenvolvimento.

Os países subdesenvolvidos e dependentes dizem que “precisam poupança externa para se desenvolver”, e incorrem em déficits em conta-corrente.

Na verdade, sua população quer consumir mais e seus políticos querem ser reeleitos às custas do excesso de consumo. Ou, em outras palavras, querem que os déficits apreciem a moeda nacional para aumentar o poder aquisitivo dos eleitores e serem reeleitos.

A estória que poupança externa (um eufemismo para déficit em conta corrente) se destina aos investimentos é falsa porque a decorrente apreciação cambial torna empresas e novos investimentos no país menos competitivos.

Ou só é verdadeira para o Império que tem como um dos seus objetivos principais exportar liquidamente capitais para os países subdesenvolvidos e assim obter juros ou lucros e dividendos dos seus empréstimos ou de seus investimentos diretos.

Exportar liquidamente porque isto só é possível em relação aos países subdesenvolvidos que “precisam” de capitais. Não é verdade entre os países ricos cujos investimentos diretos líquidos são praticamente zero.

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Vivemos assim no “melhor dos mundos possíveis”. Os brasileiros, subdesenvolvidos, incorrem em elevados déficits em conta-corrente, e o Império exporta capitais e é remunerado por isso.

Mas esses investimentos diretos das empresas multinacionais não aumentam os investimentos totais do Brasil. Ao invés, eles substituem os possíveis investimentos nacionais que não são realizados devido à apreciação cambial associada ao déficit em conta corrente.

*Luiz Carlos Bresser-Pereira é professor Emérito da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). Autor, entre outros livros, de Em busca do desenvolvimento perdido: um projeto novo-desenvolvimentista para o Brasil (Editora FGV). [https://amzn.to/4c1Nadj]

Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

Publicação de: Viomundo

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