EUA dobram recompensa por Nicolás Maduro para US$ 50 milhões
Os Estados Unidos dobraram para US$ 50 milhões, cerca de R$ 270 milhões, a recompensa por informações que levem à prisão ou condenação do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. O anúncio foi feito nesta quinta-feira (7 de agosto) pela procuradora-geral Pamela Bondi, que classificou Maduro como uma ameaça à segurança nacional e um dos maiores narcotraficantes do mundo.
Segundo o Departamento de Justiça, o caso contra Maduro é antigo e pesado. Em 26 de março de 2020, a Procuradoria do Distrito Sul de Nova York o denunciou por narco-terrorismo, conspiração para importar cocaína e crimes relacionados a armas. À época, a recompensa oferecida foi de até US$ 15 milhões. Em janeiro de 2025, o Departamento de Estado elevou o valor para US$ 25 milhões. Agora, a cifra chega a US$ 50 milhões.
Bondi afirmou que as autoridades americanas já sequestraram mais de US$ 700 milhões em ativos ligados a Maduro e rastrearam quase 7 toneladas de cocaína diretamente ao presidente e seus aliados. O governo venezuelano reagiu de imediato. O chanceler Yván Gil chamou a medida de patética e uma peça de propaganda política, ecoando a posição de Caracas de que se trata de perseguição.
A recompensa atual supera marcos históricos do programa de recompensas dos EUA. Em 2001, por exemplo, Washington ofereceu até US$ 25 milhões por Osama bin Laden. A nova cifra para Maduro dobra esse patamar e sinaliza prioridade máxima da administração Trump na pressão judicial e diplomática sobre o regime venezuelano.
Contexto jurídico e regional
A acusação de 2020 sustenta que Maduro e cúpula estatal integraram o chamado Cartel de los Soles, estrutura que teria operado por décadas em parceria com as Farc para traficar cocaína aos EUA. A hipótese do cartel, detalhada em documentos do DOJ e da DEA, segue sendo elemento central do contencioso.
O cerco judicial ganhou tração com desdobramentos recentes. Em 27 de junho de 2025, o ex-chefe de inteligência venezuelano Hugo “El Pollo” Carvajal se declarou culpado em Nova York por conspiração de narco-terrorismo e tráfico, caso que envolve a mesma teia de relações atribuída ao entorno de Maduro.
O que muda na prática
Recompensas desse porte costumam aumentar o fluxo de informações e a cooperação internacional. Na linha do tempo, o salto de US$ 15 milhões em 2020 para US$ 25 milhões em janeiro de 2025 e, agora, US$ 50 milhões, sugere que Washington aposta em novas fontes e em acelerar avanços processuais, inclusive eventuais prisões de altos quadros fora do território venezuelano.
Política e bastidores
A ofensiva ocorre após os EUA e parceiros contestarem a eleição venezuelana de 2024. Dentro da Casa Branca, a leitura é que o reforço de pressão judicial oferece resultados diplomáticos e domésticos, com narrativa de combate ao crime transnacional e ao fentanil, tema sensível no eleitorado americano.
O que há por trás da recompensa
A dobra da recompensa por Maduro é menos justiça e mais política de poder. Washington tenta enquadrar a crise venezuelana na sua agenda doméstica, projetando extraterritorialidade penal sobre a América do Sul e empurrando a região para um binário tóxico entre punição e adesão. O resultado previsível é mais polarização e menos espaço para negociação legítima.
O Brasil não precisa importar a pauta da Casa Branca. Precisa liderar, com Itamaraty, Celac e Unasul, uma saída política verificável, com cronograma, observação internacional plural e garantias institucionais para governo e oposição. Pressão que funciona abre mesa de diálogo, destrava a economia e protege gente, não produz manchete para consumo eleitoral alheio.
Sanções e caçadas públicas, sozinhas, alimentam economias ilícitas e corroem a soberania. O caminho responsável é reconstruir a institucionalidade venezuelana, blindar direitos civis e organizar eleições auditáveis com compromisso de todos os atores. O Blog do Esmael defende independência ativa do Brasil, direitos humanos no centro e integração regional como antídoto ao punitivismo performático.

Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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Publicação de: Blog do Esmael