Antonio de Azevedo: Retratos da falência ética, moral e ambiental

RETRATOS DA FALÊNCIA MORAL

Por Antonio Sergio Neves de Azevedo*

O Brasil amanheceu nesta segunda-feira digerindo retratos distintos, mas profundamente conectados: o da negligência fatal que matou a jovem Juliana Marins em um vulcão na Indonésia, o da solidão política de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista e do despejo de esgoto in natura no rio Tietê em São Paulo.

Esses episódios ilustram o esgotamento — ético, moral e ambiental — de uma era marcada pela irresponsabilidade, pela antipolítica e pelo desprezo à vida.

A reportagem do Fantástico expôs detalhes estarrecedores da tragédia que vitimou Juliana.

O guia do grupo, sem qualquer certificação profissional, abandonou a trilha para fumar e simplesmente a deixou para trás. Após o desaparecimento, o parque demorou horas preciosas para acionar a Defesa Civil.

A sucessão de omissões custou a vida de uma jovem brasileira e escancarou o preço da negligência institucional, do improviso e da banalização da maldade.

Enquanto isso, no Brasil, outro abandono ficava evidente: Jair Bolsonaro, que convocou uma manifestação na Avenida Paulista, encontrou uma avenida quase deserta. Nenhuma liderança de peso apareceu. Nem mesmo Nikolas Ferreira, um de seus seguidores mais fervorosos, deu as caras.

Os poucos presentes foram surpreendidos por skatistas que usaram o espaço para protestar contra o ex-presidente — uma imagem impensável nos tempos áureos do bolsonarismo.

No palanque na Paulista, Silas Malafaia, em um surto de verborragia, partiu para ataques até contra aliados da própria direita, revelando o racha interno do grupo que antes se vendia como unido.

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O esvaziamento político vem acompanhado do avanço das investigações, das delações, das provas robustas. O que antes era bravata, agora é medo — da Justiça, da cadeia, do abandono.

O bolsonarismo que desprezou a democracia, glorificou as armas e zombou da empatia, agora experimenta a solidão daqueles que se julgaram acima da lei.

E como se não bastassem os escombros morais, um novo alerta ambiental escancarou o descaso com a vida urbana.

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) deu 72 horas para a Sabesp — privatizada pelo atual governador bolsonarista — explicar o despejo irregular de esgoto in natura no rio Tietê, às margens da Marginal.

A mancha negra visível a olho nu não é apenas um crime ambiental: é mais um sintoma da falta de compromisso com o bem comum, com o saneamento, com o futuro. O esgoto despejado sem tratamento é metáfora concreta de um sistema que preferiu contaminar tudo — rios, política, instituições — em nome de interesses próprios e do lucro fácil.

O episódio da contaminação do Tietê é, também, uma grave afronta ao Direito Ambiental e aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU — especialmente o ODS 6, que trata do acesso à água limpa e saneamento, e o ODS 11, sobre cidades sustentáveis.

A violação sistemática desses princípios evidencia a urgência de restaurar a função ecológica do Estado e garantir políticas públicas baseadas na justiça intergeracional e na preservação ambiental. A crise ambiental não é apenas ecológica: é legal, ética e civilizatória.

Por derradeiro, o silêncio da Paulista foi ensurdecedor. O abandono de Juliana, imperdoável. E o esgoto lançado ao Tietê, inaceitável. Essas são cenas e retratos da falência moral de um país que parece estar, finalmente, confrontando os detritos de sua própria omissão.

O Brasil precisa — e parece querer — virar a página. E esse capítulo que se fecha será lembrado não apenas pelas mortes evitáveis e pelas praças vazias, mas pelo fracasso retumbante de quem confundiu liderança com abandono do meio ambiente.

*Antonio Sergio Neves de Azevedo, doutorando em Direito, em Curitiba/Paraná.

Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo

Publicação de: Viomundo

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Colaborador Convidado

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