Governo Lula evita ataques a Bolsonaro após denúncia da PGR

Palácio do Planalto adota estratégia de distanciamento político na denúncia contra o ex-presidente

O governo Lula decidiu adotar uma postura cautelosa e evitar uma onda de ataques diretos ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por tentativa de golpe de Estado. A estratégia visa minimizar o impacto político da acusação, evitando que o bolsonarismo mobilize sua base sob a narrativa de perseguição.

Selo Diamante

No próximo dia 16 de março, os apoiadores do ex-presidente prometem manifestações em todo o país pela “liberdade de expressão”, “custo de vida”, “anistia” e “Fora, Lula”.

Ministros e aliados de Lula repetiram a linha adotada pelo presidente, reforçando a tese de que as investigações devem seguir sem interferências políticas. O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), afirmou que o governo acredita na autonomia da Justiça.

“É legítimo, em qualquer Estado democrático de Direito, que haja liberdade para investigar e que as pessoas tenham direito à defesa sem interferência política”, declarou Costa.

Essa estratégia se alinha a uma avaliação interna do Palácio do Planalto de que, ao se afastar da retórica inflamada, o governo legitima a condução do Supremo Tribunal Federal (STF) no caso e neutraliza a retórica bolsonarista de perseguição.

Denúncia contra Bolsonaro expõe risco de instabilidade política

A denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, elevou a gravidade das acusações contra Bolsonaro, apontando sua suposta anuência a planos de golpe e atentados contra Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. O relatório da PGR superou as conclusões da Polícia Federal (PF), que não havia estabelecido conexão direta entre Bolsonaro e o plano de assassinato.

A reação no núcleo governista tem sido de prudência. O próprio Lula reforçou o discurso de presunção de inocência, mas pontuou que, caso o STF aceite a denúncia, os envolvidos deverão pagar pelos seus atos.

“Se eles provarem que não tentaram dar golpe, se provarem que não planejaram atentados, poderão transitar livremente pelo Brasil. Mas, se forem condenados, terão que pagar pelo erro que cometeram,” afirmou o presidente.

A preocupação no Planalto também se estende ao impacto social da denúncia. Ministros alertam para possíveis manifestações e reações extremas de bolsonaristas, como as registradas após a diplomação de Lula em 2022.

“O receio é que Bolsonaro use sua base para acirrar os ânimos e transformar uma eventual condenação em um espetáculo político,” admitiu um aliado de Lula.

Bolsonaro aposta em estratégia de vitimização e mobilização de rua

Bolsonaro

Diante da denúncia, Bolsonaro e seus aliados estruturam uma resposta baseada na pressão popular e no apoio de setores internacionais. O ex-presidente reafirmou sua intenção de disputar as eleições de 2026, mesmo inelegível, utilizando a estratégia de se manter em evidência e alimentar a tese de perseguição política.

A defesa bolsonarista já articula uma manifestação de grande porte no Rio de Janeiro para março, com foco em dois eixos: a anistia aos envolvidos nos atos golpistas e a rejeição à condenação de Bolsonaro.

Além da mobilização nacional, o ex-presidente busca apoio externo, tentando pautar a denúncia nos círculos internacionais. Durante encontro com deputados bolsonaristas, um manifesto intitulado “Em Defesa da Democracia e da Liberdade no Brasil” foi elaborado, acusando o STF de tentar neutralizar Bolsonaro antes das eleições.

Em paralelo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem reforçado sua lealdade ao ex-presidente. Nesta quarta-feira (19), ele afirmou que Bolsonaro “jamais compactuou com qualquer movimento antidemocrático”.

O discurso de Tarcísio, entretanto, omite o histórico de Bolsonaro ao longo do processo eleitoral, ignorando os ataques sistemáticos às urnas eletrônicas e as reuniões com chefes das Forças Armadas sobre a possibilidade de um golpe. Nos bastidores, aliados avaliam que a denúncia enfraquece a estratégia eleitoral do governador paulista, que terá que equilibrar sua imagem entre a fidelidade a Bolsonaro e a viabilidade de uma candidatura presidencial própria.

A Ficha Limpa e o dilema bolsonarista

Outro ponto de tensão dentro do bolsonarismo é a discussão sobre mudanças na Lei da Ficha Limpa. Setores aliados de Bolsonaro defendem alterações para derrubar sua inelegibilidade, mas a proposta enfrenta resistência popular e até dentro do próprio Partido Liberal (PL).

Diante da repercussão negativa, líderes bolsonaristas passaram a defender um recuo estratégico e evitar a associação da mudança da Ficha Limpa com corrupção. O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) afirmou que qualquer flexibilização da lei deveria beneficiar apenas casos de abuso de poder, e não políticos condenados por corrupção.

O risco para Bolsonaro é que sua inelegibilidade se amplie caso seja condenado no STF. Mesmo que a Ficha Limpa seja alterada, a eventual condenação por tentativa de golpe o manteria fora da disputa de 2026.

Enquanto isso, a oposição monitora de perto os desdobramentos. Petistas já discutem formas de reação caso Bolsonaro consiga reverter sua inelegibilidade, com mobilizações para manter a narrativa de que o ex-presidente representa uma ameaça à democracia.

STF se prepara para julgamento que pode definir o futuro de Bolsonaro

Fachada do STF: um prédio branco com vidraças ao fundo, em primeiro plano a estátua de uma mulher vendada sentada segurando um bastão

O destino de Bolsonaro está nas mãos do STF, que decidirá se aceita a denúncia e torna o ex-presidente réu. O julgamento, previsto para 2025, deve ocorrer na Primeira Turma do Supremo, composta pelos ministros Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin, Flávio Dino e Luiz Fux.

Todos os ministros já deram decisões contrárias a Bolsonaro em outros casos e tendem a acompanhar a denúncia da PGR. No entanto, há uma pressão para que o caso seja levado ao plenário do STF, onde a composição completa da corte participaria da decisão.

A expectativa é que, independentemente do veredicto, a decisão do STF tenha forte impacto na corrida eleitoral de 2026. Caso Bolsonaro seja condenado, o espaço para um novo nome na direita se abre. Se for absolvido ou houver adiamentos, o ex-presidente poderá reforçar sua narrativa de perseguição e se manter no jogo político.

O embate entre governo, STF e bolsonarismo promete intensificar ainda mais o cenário político nos próximos meses, com consequências diretas para a disputa presidencial.

O desfecho desse embate judicial pode redefinir os rumos da política brasileira, com o STF desempenhando um papel central na decisão sobre o futuro do ex-presidente. Seja qual for a decisão, o cenário eleitoral para 2026 já começa a ser definido, e os próximos meses serão decisivos para os destinos de Lula, Bolsonaro e da oposição. Portanto, continue recebendo as atualizações do Blog do Esmael em tempo real.

Publicação de: Blog do Esmael

Lunes Senes

Colaborador Convidado

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *