Entenda as manobras de Macron para enfraquecer a coalizão de esquerda vencedora de eleições na França
O presidente francês, Emmanuel Macron, iniciou, nesta terça-feira (27), uma nova rodada de consultas para nomear um primeiro-ministro, depois de se recusar no dia anterior a indicar um governo de esquerda, agravando um clima político cada vez mais tenso.
O presidente de centro-direita já descartou voltar a se reunir com o partido de esquerda A França Insubmissa (LFI) e com a extrema direita de Marine Le Pen e seus aliados. Os líderes socialistas, ecologistas e comunistas, aliados da LFI na coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP), anunciaram, no entanto, que não participarão do governo, depois que Macron se recusou a nomear a candidata à primeira-ministra da NFP, a economista Lucie Castets.
Como principal bloco oriundo das eleições legislativas realizadas há dois meses, ainda que distante da maioria absoluta, a NFP considera que cabe a ela formar o governo, mas Macron a rejeitou na segunda-feira em nome da “estabilidade institucional”.
A LFI, ao lado de organizações estudantis, convocou uma “grande manifestação contra o golpe” de Macron para 7 de setembro, na primeira semana de retorno às aulas na França após as férias de verão.
A cientista política francesa, Florence Poznaski, aponta que ao recusar no nome de Castets antes de que ela apresente uma proposta de governo, o presidente Emmanuel Macron está extrapolando sua função e antecipando uma decisão que cabe ao Parlamento.
“Ele pode nomear Lucie Castets, esperar ela propor o governo, apresentar sua proposta para a Assembleia Nacional e quem vota censura são os deputados. Não é um presidente que tem que antecipar se os deputados vão votar a censura ou não. E se tiver censura, tudo bem. Mas enquanto isso, ele nomeia a representante da principal força política”, disse ela ao Brasil de Fato.
Macron tenta isolar o partido de esquerda A França Insubmissa, afirmando que não aceitaria um governo formado por representantes do partido. o líder do partido, Jean-Luc Mélenchon, por sua vez, sinalizou que a LFI retiraria seus representantes da formação do novo governo, em favor de Lucie Castets mas, mesmo assim, Macron se negou a nomeá-la como primeira-ministra.
“Todos os deputados, as figuras políticas da centralidade do Macron, tentaram demonizar a França Insubmissa, inclusive para enfraquecer a coesão da Nova Frente Popular e tentar recuperar alguns candidatos do Partido Socialista para legitimar um governo centrista”, aponta Poznaski.
O socialista Olivier Faure denunciou na televisão France 2 “uma paródia de democracia”, enquanto a ecologista Marine Tondelier considerou na rádio Franceinfo que o presidente está “em plena deriva iliberal”.
Outra irregulariedade que vem sendo apontada pela esquerda francesa em relação à interferência de Macron no processo acontece em relação à eleição da representante da Assembleia Nacional. A vitória de Yaël Braun-Pivet, ao final de julho, contou com votos de ministros do governo provisório – que se licenciaram do cargo para a votação.
“Como, a candidata do governo tinha poucos votos, os ministros foram votar na Assembleia Nacional e permitiu que ela fosse reeleita. Isso criou uma questão constitucional. Inclusive, a Nova Frente Popular pediu para que seja analisada essa questão porque você não pode, ao mesmo tempo, ser deputado e ministro. Você não pode continuar a exercer a função de ministro, e voltar a votar na Assembleia Nacional. Esse é um ponto que tem sido questionado e que não teve resposta.”
Publicação de: Brasil de Fato – Blog