Elson Faxina: As redes sociais vão enterrar ou salvar a democracia
As redes sociais vão soterrar ou salvar e aprofundar a democracia
Por Elson Faxina*, no site da ABI
Todos os governos comprometidos com a democracia precisam definir estratégias de como salvá-la por meio do enfrentamento da extrema direita, cujas patas estão fincadas em avalanches de mentiras diuturnamente postadas, recicladas e repostadas organicamente nos micros e macros espaços das redes sociais.
Trata-se de um desafio urgente e perene de difusão das verdades sobre tais acontecimentos ora deturpados, que passa por um plano estratégico de comunicação, hoje obrigatório e prioritariamente de ocupação das redes sociais.
Afinal, a falta de regulação dessas redes de informação e convivência, regidas apenas pela lógica dos lucros bilionários, enfraqueceu as grandes instituições mediadoras da sociedade, como o sistema tradicional de mídia e seu jornalismo, as universidades, partidos, sindicatos, ONGs e outras organizações sociais, ou cooptadas ao menos parcialmente por elas, como a família e denominações cristãs.
Em decorrência, a democracia, as conquistas sociais e os modos civilizatórios de convivência humana estão sendo corroídos por um discurso de ódio, nutrido pelas mais estapafúrdias mentiras – chamadas erroneamente de fake news.
Ora, se é fake, não é News -, que no Brasil seguem alimentando milhares de pessoas em manifestações criminosas, antidemocráticas contra a soberania do voto, estimuladas ou, no mínimo, por leniência das Forças Armadas.
O suposto conhecimento disseminado por essa horda nazifascista nas redes sociais é uma ode à barbárie na luta contra a vida civilizada.
Sim, eles fizeram um movimento de captura eficiente do mundo digital, aproveitando um processo de enfraquecimento da política articulado por conglomerados econômicos e militares e conivência do Poder Judiciário, tendo como parceiro o sistema midiático.
No Brasil, em vez de fazer jornalismo investigativo, a mídia hegemônica desenvolveu dois tipos de antijornalismo como estratégia de construção do golpe de 2016.
Enquanto o ‘jornalismo declaratório’ transformava pseudo investigações em supostas provas da operação Lava Jato, o ‘jornalismo adversativo’ fazia-nos sentir tristeza, após uma notícia positiva sobre o Brasil, estampando nos títulos os tais “mas”, “porém”, “contudo”, “entretanto” … como comprova o site Manchetômetro (Lemep/UFRJ).
Nesse contexto, a extrema direita apropriou-se eficientemente das redes sociais, criando uma realidade paralela com mentiras que espalham medo, terror, carreando para sua causa setores da sociedade que se sentem afetados pelas transformações contemporâneas próprias de um processo civilizatório e, portanto, presas dóceis de uma forma perversa de messianismo religioso.
Este momento impõe um desafio crucial para o terceiro governo Lula, a iniciar no primeiro dia 2023: implementar um extraordinário plano de comunicação para redes sociais, mantendo mobilizados todos os atores sociais da campanha eleitoral recente, para fazer frente ao abarrotamento diário de mentiras que continuam e continuarão a ser disseminadas, ou ter uma extrema direita ainda mais vociferante e sedenta por ódio e sangue em 2026.
Mesma comunicação, três diferenças
A única estratégia plausível hoje é o fortalecimento da capacidade do Estado e da sociedade civil, por meio de sua atualização em tecnologias de comunicação, para se apropriarem das redes sociais tal qual fez o extremismo, mas com três diferenças fulcrais:
1. A extrema direita criou uma estrutura extraordinária de comunicação, uma afinada máquina de desinformação e disseminação de ódio; o novo governo deve criar estrutura similar, porém democrática, para contrapor e se antecipar a essas mentiras e difundir suas realizações em benefício da sociedade, especialmente dos mais vulneráveis.
2. A extrema direita fez e faz tudo às escondidas, no subterrâneo só habitado pelas podridões; o novo governo deve fazer isso à luz do dia, de forma clara, transparente.
3. A extrema direita montou uma estrutura cara, só possível a partir de grandes financiamentos escusos internacionais e de empresários sanguessugas de governos e exploradores de mão-de-obra barata; o novo governo deve estruturar uma ação permanente melhor e muito barata, por ser baseada em estratégias de mobilização social.
Só uma ampla mobilização social possibilitará o necessário diálogo com as massas, o que exige estratégias, métodos e maturidade política.
“Mobilizar é convocar voluntários a um propósito, com interpretações e sentidos compartilhados, (…) expresso sob a forma de um horizonte atrativo, um imaginário ‘convocante’ que sintetize de uma forma atraente e válida os grandes objetivos que se busca alcançar. (…) Não deve ser só racional, mas ser capaz de despertar a paixão. A razão controla, a paixão move”, afirma Bernardo Toro (Unicef Brasil, 1997, p. 35).
Portanto, fazer mobilização social exige abrir mão de ser a autoridade máxima, o coordenador-mor, o delegante das atividades a serem realizadas, para apostar num trabalho em rede, entendida como um fenômeno de múltiplos pontos com funções distintas, mas imbricadas, interdependentes.
Crucial nesta estratégia é mapear e mobilizar os reeditores sociais espalhados por toda a sociedade, presentes nos mais variados grupos de interesses locais, regionais, nacionais, internacionais.
Parecido ao líder de opinião, o reeditor social é “uma pessoa que tem público próprio, que é reconhecido socialmente, que tem a capacidade de negar, transformar, introduzir e criar sentidos frente a seu público, contribuindo para modificar suas formas de pensar, sentir e atuar” (Idem, p. 42).
Sim, precisamos construir um processo aglutinador que envolva o afeto, o querer estar juntos, o amor ao próximo, ao diferente, que trate o adversário como adversário e não como inimigo a ser eliminado.
Novos tempos, novas estratégias
Mais do que uma possibilidade, estruturar uma grande mobilização social é uma exigência desses novos tempos, sob pena de perdermos a mão da história, de permitirmos o soterramento de conquistas históricas e recentes.
Algum incauto, apóstolo da mesmice, dirá: “Deixemos isso tudo de lado, afinal ‘a mentira tem pernas curtas’ e um dia todos se darão conta da enganação”. Doce ilusão.
Tal como a ameba ao fechar seu ciclo, uma mentira da extrema direita se dividirá sempre em duas novas ‘amebas’; uma será a nova mentira – “Foi nossa pressão nas ruas que impediu Lula de implantar o comunismo no Brasil, de fechar igrejas, e tantos outros blábláblás -, a outra ‘ameba’ será a justificante mobilizadora: “Para eliminá-los, sigamos mobilizados”.
Esses novos tempos têm características muito singulares, que guardam léguas da racionalidade mais elementar.
Na obra Cidadãos do Mundo: para uma teoria da cidadania (1997, p. 262), Adela Cortina já alertava: “O que em última instância conta para as pessoas (…) não é a ideologia política nem os interesses econômicos. Os problemas se identificam com a fé e a família, o sangue e as crenças, e por isso (elas) lutarão e morrerão”.
Perguntará o mesmo incauto: “Ora, como fica o comunismo, que é uma ideologia política e mobiliza tanta gente contra os direitos humanos?”.
Simples, elas não lutam contra uma ideologia política, mas em defesa da família e da fé que, segundo a extrema direita, o comunismo quer destruir.
Devemos ter claro, portanto, que mesmo um excelente governo Lula não aplacará o ímpeto arcaico da extrema direita, uma quase volta aos tempos da caverna, agora reformatada.
Afinal, uma parcela imensa da sociedade brasileira não consome as mídias tradicionais, logo, não conhecerá as realizações do novo governo, mas um outro Brasil, outro governo ainda mais corrupto, nefasto, antirreligioso, antifamília, antidemocrático…
Essa imensa parcela da sociedade só vai se informar pelas redes sociais, pelas plataformas digitais rigorosamente remuneradas para isso.
E se o novo governo nada fizer, os 49,1% dos eleitores da extrema direita do último dia 30 de outubro vão viver nesse outro Brasil, plasmado aqui mesmo, do nosso lado, mas com mais ódio, porque creem num deus vingador, do qual serão seus gladiadores, dispostos a matar e morrer.
Nova EBC e novos reeditores sociais
Convocar os reeditores sociais é o pulo do gato dessa estratégia mobilizadora, por aproveitar milhares dessas figuras próprias de uma sociedade em transformação social e comunicacional que caíram de graça no colo da chapa vencedora da recente campanha eleitoral.
É hora de convidá-las, ouvi-las, construir juntos e dar a elas a coautoria da ação a ser implementada, que deve ser um enfrentamento inteligente, estratégico e pragmático em múltiplas frentes, articulando vários sistemas, como o da comunicação, do direito, da educação, da pesquisa, a fim de criar um escudo contra a desinformação.
Sobre o campo da comunicação é urgente elaborar, como já dito, um plano global de mobilização social, que reconheça e contemple todas as mídias e comunicadores que produzem informações importantes e colocá-las em circulação para os diferentes públicos em todo o país.
Para isso, é essencial recuperar a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) como órgão de comunicação público-estatal – não governamental -, que poderá capitanear um projeto arrojado de mobilização.
Nessa nova reconfiguração, a TV Brasil precisa ser uma emissora que não se envergonhe de ser do Estado, como as televisões privadas não se envergonham de ser incensadoras do mercado, de ver tudo pela lógica econômica da vida.
Ao contrário, sendo do Estado (não do governo), passaria a ser uma TV de todos, do Estado, da sociedade civil e, por que não, do mercado socialmente responsável no campo e na cidade. Para isso, deve-se reativar e atualizar o Conselho Diretor, conforme a Lei 11.652, de 07/04/2008.
Contudo, já não basta ter uma TV Brasil nos moldes da mídia tradicional, como ainda permanecem as emissoras comerciais, tentando se desvencilhar de seu corpanzil para adaptar-se aos novos tempos midiáticos.
A TV Brasil deve recomeçar como estrutura plurimidiática, que não é uma simples disponibilização da mesma produção televisiva para diferentes mídias, ainda que reeditadas, mas produzir os mesmos e outros conteúdos para cada mídia, com linguagem específica e em parceria com produtores independentes e de redes sociais.
É necessário colocá-la nos trilhos dessa nova ambiência criada pelo conjunto das transformações midiáticas, em que as novas mídias ocupam lugar de destaque, com suas novas formas de narrar, de se relacionar, num terreno fortemente dominado pelos influenciadores do mundo digital – influencers, youtubers, blogueiros, podcasters etc. etc. – que são grandes reeditores sociais desses novos tempos.
Dois dos mais conhecidos são Felipe Neto e André Janones, decisivos na derrota da extrema direita nestas eleições.
Mas existem também centenas de blogueiros histórica e heroicamente posicionados mais à esquerda, além de centenas, milhares de outros influenciadores e também produtores de conteúdo e milhões de militantes espalhados por todo o Brasil, que igualmente foram decisivos nas últimas eleições.
Só de filiados ao PT são 1,6 milhão de brasileiros que, somados aos filiados dos demais partidos que se juntaram à chapa Lula/Alckimin, formam muitos milhões. São agentes políticos com grandes articulações em comunidades país afora, desenvolvendo uma comunicação com capilaridade e mobilizadora dos públicos locais.
Acrescente-se ainda as ONGs, sindicatos, entidades religiosas, sociais e estudantis, artistas e outros tantos milhões de militantes voluntários, que estão mais próximos do chão-de-fábrica e são essenciais para fazer chegar essas informações àqueles inebriados de mentiras que lhes dão sentido à vida.
Lembremos também da enorme rede de rádios por todo o país, incluindo as rádios e TVs comunitárias, sempre em busca de novas informações, que são uma forma de reeditores sociais e precisam ser valorizadas com informações para repercutirem no seu dia a dia.
Sendo uma televisão público-estatal, a TV Brasil – já plurimidiática – poderá articular esse grande programa de combate às mentiras.
Mas não produzindo para apenas veicular em seus canais, ainda que múltiplos, mas convocando e colocando-se a serviço de uma rede envolvendo esse exército de milhões de reeditores sociais que se perfilaram na recente eleição de Lula à presidência da República.
A TV Brasil já não seria mais apenas emissora, mas uma mobilizadora social, uma produtora de conteúdos cuja linguagem seja inclusiva, dinamizadora da interculturalidade, como destaca Nicolás Lorite García, em Publicidad, diversidad fenotípica y dinamización intercultural (2020), e articuladora de processos comunicacionais, a partir da criação de um espaço aberto, plural, democraticamente organizado e coordenado.
Uma rede que encerre esse período de normalização de absurdos que ocorreram nos últimos anos, gerando condições para que o cidadão comum volte a posicionar-se contrário às ideias extremistas que se tornaram aceitáveis.
O incauto, devoto da ‘zona de conforto’, insistirá: “Impossível, não vai dar certo; isso nunca foi feito antes”.
Há sim importantes experiências de mobilização social, entre as quais a Ação da Cidadania, fundada por Betinho nos anos 90, que promove a campanha contra a fome em todo o país, e a Recomsol – Rede de Comunicadores Solidários à Criança, que foi decisiva na divulgação das ações da Pastoral da Criança no Brasil e no exterior, levando a sua criadora e então coordenadora nacional, Dra. Zilda Arns, a ser indicada três anos consecutivos pelo governo brasileiro ao prêmio Nobel da Paz.
Mas a prova soberana de que essa mobilização para o bem-comum é possível foi dada pela própria extrema direita.
Se no Brasil eles conseguem levar para rua milhares de cristãos (só para ficar nesse grupo social) defendendo a política do armamento, da violência, da eliminação do outro, que são aberrações à vida e ensinamentos de Jesus Cristo, por que não conseguir levar às ruas muito mais cristãos para defenderem exatamente o que disse Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo, 10,10)?
É preciso forjar uma utopia. Sem ela nem teríamos avançado numa sociedade minimamente civilizada.
Estaríamos ainda na barbárie, a mesma que a extrema direita quer nos levar por meio de um engate à marcha ré. E devemos ter presente que uma utopia pertence mais ao campo dos afetos do que o da razão.
Uma proposta mobilizadora, plural
Propõe-se aqui um projeto de comunicação social e não de simples difusão de informações já produzidas, como alerta Cremilda Medina, em A arte de tecer o presente (2003, p. 95), ao chamar a atenção para os agentes culturais, que promovem a comunicação social por não serem “meros intermediários, mas sim autores com marcas de personalidade, cultura e sociedade”.
Logo, em vez de uma rede do tipo ‘correia de transmissão’, no estilo assessoria de imprensa, deve ser uma rede de comunicação social, articulada horizontalmente e com corresponsabilidades gerais na produção, distribuição e circulação das informações, a partir de estratégias muito bem traçadas e combinadas e com a urgência que cada mentira difundida precisa ser respondida. Uma resposta que leve 24 horas para chegar aos grotões de todo o país já chega tarde.
Não deve ser uma rede do governo, mas uma rede do Estado brasileiro e da sociedade civil brasileira, que dê imunidade às distorções informativas promovidas pela extrema direita, mas com o cuidado de não se transformar numa rede pautada por ela.
Para isso, deve-se antecipar aos fatos e pautar o debate público, divulgando ações de benefícios sociais, de inclusão social e quantas mais houver, não como benesses de um governo, mas como conquista da cidadania, resultado da participação social.
Para isso, muitos cuidados serão necessários, como o de não ficar lotando as diferentes redes existentes com informações sem interesse de seu público.
É preciso estratégias na lógica da comunicação sob demanda, com uso coerente dos algoritmos, para se criar os mais diferentes nichos de interesse, de maneira que cada informação chegue apenas ao seu público destinatário.
Outro cuidado é o de não ser uma rede que substitua os reeditores sociais, e sim que lhes disponibilize informações básicas para que, ao seu sabor e interesse, as reeditem para seu público, segundo seus próprios critérios.
É uma rede a serviço deles, inclusive publicizando suas produções de interesse geral. Uma rede movida pela informação ética, de ajuda mútua, no estilo ‘ninguém solta a mão de ninguém’.
Sim, precisa ser uma rede estruturada, com grupos de formulação de estratégias, de coordenação, produção, distribuição e avaliação, espalhados geograficamente e por nichos de interesse.
Mas não pode ser uma rede que tenha uma pessoa, uma instituição ou um governo como ‘proprietário’, mas uma rede de coordenação compartilhada, democrática e transparente, que mobilize todos aqueles e todas aquelas que abominam a mentira, que acreditam de fato na democracia política, econômica, social e cultural, no amor ao próximo, no Estado Democrático de Direito, num processo civilizatório em evolução, cujas ações estejam acima de todo interesse pessoal ou de grupos autointitulados salvadores da pátria.
Sim é uma rede política, mas não partidária; voluntária, mas não voluntarista.
Outras redes a serem mobilizadas
Mas, a comunicação se dá para além das estruturas midiáticas tradicionais e das novas mídias. Por isso, um plano de comunicação precisa ser amplo, abrangente, envolvendo outras áreas do conhecimento, das quais destaco três.
1. Rede de advogados pela democracia
Para ter sucesso nesse combate às mentiras o mesmo processo mobilizador deve envolver uma rede de advogados pela democracia capaz de, simultaneamente, entrar com ações na Justiça responsabilizando criminalmente criadores e distribuidores de mentiras, sejam eles indivíduos, instituições ou as próprias plataformas.
2. Alfabetização para as mídias
Na educação deve-se criar um robusto programa de alfabetização para as mídias, com foco essencial nas redes sociais, para formação permanente do corpo docente, bem como para mobilização estudantil e de lideranças sociais.
É preciso compreender essas redes e as lógicas dos algoritmos, visando o esclarecimento das mentiras difundidas pela extrema direita e, ao mesmo tempo, ocupar as mesmas redes sociais a serviço da informação correta, ética, além de promover mobilizações visando a regulação – jamais o controle – das plataformas digitais e de administradores de redes sociais.
Isso pode ser feito de forma articulada com a EBC, abrindo espaço para um programa na TV Brasil, com postagens desnudando as mentiras, seguidas de reflexões e informações atualizadas, fazendo uso inclusive do serviço já existente das agências de checagem, que serviriam de insumo para o cotidiano de sala de aula em todo o país.
Há iniciativas importantes de projetos de pesquisa e extensão em universidades públicas brasileiras que podem servir de inspiração a essa proposta, além de experiências internacionais de sucesso, como a do governo da Finlândia e a de Barcelona, Espanha, com sua #RedBCNAntirumores.
3. Divulgação científica
No campo da pesquisa, é preciso criar e estimular um programa de divulgação científica em cada universidade pública brasileira, não de difusão entre cientistas, mas de produção voltada às diferentes mídias e redes sociais e dirigida ao cidadão comum.
Isso implica traduzir em linguagem acessível como milhares de produções científicas e extensionistas brasileiras fazem a diferença na vida das pessoas e comunidades, contribuindo na economia, no meio ambiente, na saúde, só para citar algumas áreas.
A divulgação da produção científica é um dever da universidade pública e condição essencial para a valorização do conhecimento e o desenvolvimento social, como alertam Santis-Piras e Jara Cobos, em Salud, interculturalidad y Buen Vivir (2019): desde a antiguidade a difusão do conhecimento tem significado o êxito ou a derrota de sociedades inteiras, assim como sua sobrevivência ao longo dos séculos.
Como modelo de divulgação científica – que é necessariamente diferente de uma assessoria de comunicação – há diversas experiências de sucesso no Brasil, como a Agência Escola de Comunicação e Divulgação Científica da UFPR – Universidade Federal do Paraná – e internacionais, como as desenvolvidas na Universidade Complutense de Madri e Universidade Autônoma de Barcelona, Espanha.
Mídias tradicionais
Por fim, cabe destacar que essa proposta deve ser entendida como parte essencial, e não única, de um Plano Nacional de Comunicação do novo governo, que seja representativo de sua composição política plural.
Dele deverá constar também um programa voltado ao sistema de comunicação tradicional, inclusive prevendo momentos importantes de intersecção entre esses distintos programas. Afinal, a rede aqui proposta vai também se valer e difundir materiais jornalísticos da grande mídia, como lugar de credibilidade informativa.
E nisso todas as partes ganham, sempre que tenham em comum um compromisso ético, civilizatório e de defesa do Estado Democrático de Direito.
Essa rede contribuirá, inclusive, na valorização do Jornalismo, como instituição indispensável para uma informação balizada eticamente. Mas este é tema para outra reflexão.
*Elson Faxina é jornalista, membro da ABI – Associação Brasileira de Imprensa, e professor e pesquisador da UFPR – Universidade Federal do Paraná.
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