Tarcísio defende Bolsonaro no STF e diz que ex-presidente estava “triste e resignado”

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), blindou Jair Bolsonaro (PL) em depoimento ao Supremo Tribunal Federal nesta sexta-feira (30). Chamado como testemunha de defesa do ex-presidente, ele negou qualquer intenção golpista por parte do chefe e amigo político.

Segundo Tarcísio, após a derrota nas eleições de 2022, Bolsonaro não demonstrava reação conspiratória, apenas “tristeza” e “resignação”. A fala, embora emotiva, tenta reescrever os bastidores de um período marcado por tensões institucionais, ataques ao sistema eleitoral e a gestação da “minuta do golpe” revelada pela Polícia Federal.

“Nunca falou em ruptura”, diz Tarcísio

Durante seu curto depoimento — menos de 10 minutos — Tarcísio afirmou que jamais ouviu do ex-presidente qualquer menção a golpe. Disse que esteve com Bolsonaro em diversas ocasiões no fim do mandato, mas que os diálogos foram sobre a formação do novo governo em São Paulo, não sobre resistência ao resultado das urnas.

“Esse assunto nunca veio à pauta”, garantiu o governador. O depoimento ocorreu sob o comando do relator Alexandre de Moraes, mas curiosamente sem perguntas da acusação. Tarcísio respondeu apenas ao advogado de defesa, Celso Vilardi.

Um depoimento ensaiado?

A condução do depoimento revelou o controle da narrativa por parte da defesa bolsonarista. Sem questionamentos do Ministério Público ou dos ministros do STF, Tarcísio teve palco livre para construir sua versão dos fatos, reiterando que a denúncia da PGR é uma “narrativa que carece de provas”.

Ele repetiu o tom que vem adotando desde 2024, quando a PF indiciou Bolsonaro por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A estratégia: desqualificar as investigações e blindar a liderança do campo conservador para 2026.

Leia também: Sem Bolsonaro, PSD e Tarcísio fazem jantar para discutir Planalto
Saiba mais: Bolsonarismo pressiona Tarcísio no STF

Elogios ao “capitão” e silêncios incômodos

Tarcísio exaltou Bolsonaro como “principal liderança política do Brasil” e recordou desafios de seu governo — Brumadinho, covid-19, crise hídrica, guerra da Ucrânia — para reforçar uma imagem de gestor responsável e patriota. Mas, como de praxe nos círculos bolsonaristas, evitou comentar os ataques de 8 de janeiro, os acampamentos golpistas ou a minuta de golpe discutida com comandantes militares.

Em contraste, na semana passada, os ex-comandantes da Aeronáutica e da Marinha confirmaram que Bolsonaro participou de reuniões sobre uma ruptura institucional. O silêncio de Tarcísio sobre esses pontos reforça o caráter seletivo de sua memória e sugere cálculo político em defesa do projeto da direita para 2026.

STF ouve só aliados por ora

Além de Tarcísio, também foram ouvidos nesta sexta-feira o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil, e outros nomes ligados ao bolsonarismo. Todos apontados pela defesa de Bolsonaro. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, foi dispensado de depor.

Ciro repetiu a versão de que a transição de governo foi “normal” e que não houve obstrução à posse de Lula. Também negou conversas golpistas, apesar dos indícios já reunidos pela PF.

O que está em jogo

A Procuradoria-Geral da República já denunciou Bolsonaro e mais 33 aliados por tentativa de golpe, organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. As acusações se baseiam em reuniões, trocas de mensagens, esboço de decreto de intervenção e articulação com militares para reverter o resultado eleitoral.

Tarcísio tenta se descolar dessas acusações ao mesmo tempo em que mantém a fidelidade ao bolsonarismo. Seu depoimento, ainda que protocolar, revela o malabarismo político de quem flerta com a moderação sem romper com a base radicalizada.

Tarcísio está de olho em 2026

Ao negar o golpe, elogiar Bolsonaro e criticar o processo judicial, Tarcísio mira em 2026. Ele se posiciona como o herdeiro viável do legado bolsonarista, tentando agradar tanto os conservadores quanto as instituições. Mas, ao apagar os sinais do golpismo explícito que marcaram o fim do governo Bolsonaro, arrisca-se a escrever um novo capítulo da história com lápis de ilusão.

A omissão diante dos fatos não apaga a verdade — só reforça o silêncio cúmplice de quem ainda aposta na reabilitação do bolsonarismo no Judiciário e nas urnas.

Publicação de: Blog do Esmael

Lunes Senes

Colaborador Convidado

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *