Sindicato dos Jornalistas de São Paulo: Assange livre é vitória do jornalismo contra a tirania
Assange finalmente livre é vitória do jornalismo contra a tirania!
Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo
A libertação do jornalista Julian Assange, em 24 de junho, e seu retorno à Austrália, dois dias depois, constituem uma inesquecível, arrebatadora vitória de movimentos sociais e ativistas políticos e sindicais de vários países contra a tirania e contra o imperialismo norte-americano, após anos de luta.
Trata-se, igualmente, de uma vitória do jornalismo livre, destemido e a serviço do interesse público, engajado nas grandes causas da Humanidade.
Assange e o site jornalístico WikiLeaks, que ele fundou com seus amigos, denunciaram as atrocidades e crimes de guerra cometidos pelos EUA e aliados nas guerras do Afeganistão e Iraque.
Foi por esta razão que o jornalista australiano tornou-se alvo de uma implacável perseguição judicial (lawfare) que desembocou na sua prolongada prisão.
Acusado injustamente de haver cometido crime sexual na Suécia, Assange, que à época trabalhava em Londres, refugiou-se na embaixada do Equador em 2012, tendo recebido a cidadania equatoriana, por decisão do então presidente Rafael Correa. A CIA espionou o jornalista recluso e chegou a planejar seu assassinato.
Em 2019 o presidente Lenin Moreno, que sucedeu Correa, retirou sua cidadania e permitiu que a polícia britânica entrasse na embaixada equatoriana para prender Assange, que foi então encarcerado na prisão de segurança máxima de Belmarsh, e lá permaneceu mesmo depois que a Suécia retirou a acusação contra ele.
Os EUA queriam sua extradição para julgá-lo por supostos crimes que resultariam em penas, somadas, de 175 anos de cadeia.
Batalhas judiciais sucederam-se. A primeira instância judicial negou a deportação de Assange, mas manteve sua prisão em condições odiosas e inaceitáveis.
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Os EUA recorreram e uma corte acolheu o recurso, determinando a extradição do jornalista australiano. O governo inglês endossou a medida.
Um primeiro recurso de Assange foi rejeitado. O recurso final à Suprema Corte, porém, foi acatado, mas sua prisão foi mantida.
Paralelamente ao caso judicial, desenvolvia-se enorme pressão sobre os EUA para que retirassem as acusações contra Assange.
A vitória dos trabalhistas nas eleições australianas, em 2022, desempenhou papel fundamental.
Diferentemente de seu antecessor conservador, que ignorava o caso, o primeiro-ministro Anthony Albanese passou a pedir a libertação do fundador do WikiLeaks.
O parlamento australiano, por sua vez, envolveu-se mais e mais no assunto, de modo suprapartidário, e enviou uma delegação aos EUA.
Outros personagens cruciais nos esforços para libertar Assange foram o presidente Luis Inácio Lula da Silva, que se manifestou por diversas vezes em seu favor, até mesmo ao discursar na Organização das Nações Unidas, e familiares do jornalista, em especial sua esposa, Stella, e seu pai, John Shimpton.
Também foram marcantes os esforços desenvolvidos por entidades ligadas ao jornalismo, como Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), Repórteres Sem Fronteiras (RSF), e iniciativas como o abaixo-assinado “Speak Up for Assange”, lançado por um grupo de colegas.
No Brasil, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), filiada à FIJ, participou da campanha. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) engajou-se em manifestações pró Assange na capital paulista, acompanhou o caso nas suas mídias e promoveu debates a respeito, o que muito nos orgulha.
Como resultado de toda a pressão, e também do revés sofrido no mais recente julgamento no Reino Unido, o governo norte-americano finalmente aceitou fazer um acordo com a defesa de Assange, mediante o qual Assange declarou-se culpado de um único “crime” (conspiração para obter documentos sigilosos), cuja pena corresponde ao período de cinco anos de prisão que ele já cumpriu na masmorra de Belmarsh.
Como está sendo observado por muitas pessoas, a libertação desse formidável jornalista, injustamente retirado de circulação por uma década (2010 a 2019) e depois aprisionado por cinco anos (2019 a 2024) ou mais precisamente 1.901 dias, não basta para redimir os responsáveis pela perseguição sofrida e não nos autoriza a esquecer ações e omissões criminosas que o prejudicaram.
Por enquanto, nos contentamos em celebrar, emocionados, a liberdade de Julian Assange.
São Paulo, 26 de junho de 2024
Diretoria do SJSP
*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Publicação de: Viomundo