Separatismo no Sul: Jorginho Mello relança polêmica “O Sul é meu país” em evento com Ratinho Jr. e Eduardo Leite
A tensão federativa no Brasil ganhou novos contornos na última quinta-feira (12), quando o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), voltou a flertar publicamente com o projeto separatista “O Sul é meu país”. Durante evento com os governadores Ratinho Junior (PSD-PR) e Eduardo Leite (PSD-RS), em Curitiba, Mello sugeriu dividir o país com uma trena e declarou: “Daqui um pouco nós fazemos ‘O Sul é nosso país’”.
A fala provocou indignação imediata nas redes sociais e reativou o debate jurídico e político sobre o Artigo 359-J do Código Penal, que criminaliza qualquer tentativa de desmembrar parte do território nacional com pena de até seis anos de reclusão.
“Se o negócio não funcionar muito bem lá para cima, nós passamos uma trena para o lado de cá”, disse o governador bolsonarista, sob aplausos.
A presença dos três chefes de Executivo estadual no “Construa Sul” — evento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) — transformou o que seria uma pauta econômica em palanque político para críticas ao governo federal e sugestões implícitas de ruptura institucional.
De evento técnico a arena de tensão política
A reunião inédita entre Jorginho Mello, Ratinho Jr. e Eduardo Leite tinha como mote oficial o debate sobre infraestrutura e habitação na região Sul. O programa Casa Fácil, do Paraná, foi exaltado por todos como referência nacional. Santa Catarina anunciou R$ 500 milhões para o Casa Catarina, e o Rio Grande do Sul apresentou iniciativas pós-enchentes.
No entanto, o tom adotado pelos governadores ultrapassou a crítica fiscal. Leite acusou a União de favorecer o Norte e o Nordeste. Ratinho Jr. falou em “estrada própria”. Mello, por sua vez, apostou em retórica separatista.
A naturalização de um discurso que afronta a integridade territorial levanta suspeitas sobre a convergência tácita entre pautas econômicas e projetos ideológicos extremistas.
Art. 359-J e os limites da liberdade de expressão
A declaração de Jorginho Mello não é apenas folclórica ou retórica. Pode ser interpretada como atentado à integridade nacional. O Art. 359-J do Código Penal é claro:
“Praticar violência ou grave ameaça com a finalidade de desmembrar parte do território nacional para constituir país independente: pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.”
Embora não haja violência explícita, o uso político reiterado da ideia separatista — especialmente por autoridade investida — acende alertas no Ministério Público e no Congresso.
O que está por trás do relançamento do “Sul é meu país”
A simbologia não é ingênua. O projeto “O Sul é meu país”, reativado por setores bolsonaristas desde 2015, expressa o ressentimento de elites regionais contra políticas redistributivas. A retórica de superioridade econômica do Sul serve como pano de fundo para discursos antinordestinos, anti-imigratórios, antifederais e, em última instância, antidemocráticos.
Jorginho Mello, Ratinho Jr. e Eduardo Leite compartilham alianças no campo conservador e disputam protagonismo em 2026 — tanto no Senado quanto em eventual composição presidencial. O gesto de Mello pode ser ensaio para um novo arranjo regionalista, com ecos de supremacia econômica.
Se o Ministério Público Federal, a Câmara dos Deputados e o Supremo Tribunal Federal não reagirem à altura, abre-se precedente perigoso. A banalização de discursos separatistas por governadores eleitos é combustível para radicalismos — e instabilidade econômica.
Em tempos de fake news, desinformação e polarização, o flerte com o rompimento da federação exige resposta política, jurídica e cívica.
A democracia exige vigilância
Não se trata apenas de combater uma frase infeliz, mas de desarmar um projeto de erosão democrática que se disfarça de regionalismo. Governadores têm direito à crítica, mas não ao ataque à Constituição. O “Sul é meu país” é mais que bravata — é afronta institucional.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
Publicação de: Blog do Esmael