‘Se colocou o uso da força numa operação de vingança’, diz Felippe Angeli sobre mortes em operação policial na Baixada Santista
O número de mortes pela Polícia Militar na Baixada Santista, no litoral de São Paulo, durante a Operação Verão chegou 30. Isso já coloca a ação como a segunda mais letal da PM de São Paulo, atrás apenas do massacre do Carandiru, em 1992, quando 111 pessoas morreram.
A ação foi desencadeada após a morte do agente Samuel Wesley Cosmo, em 2 de fevereiro. Felippe Angeli, coordenador de Advocacy da Plataforma Justa, afirma que a situação é “trágica”.
“Infelizmente, tem toda uma trajetória trágica neste tema. Primeiro são as mortes dos policiais que, como sociedade, lamentamos profundamente. Por outro lado, a resposta do Estado em relação a mortes policiais trazendo, uma quantidade de mortes que não tem paralelo, não pode ser aceita em nenhum tipo de operação policial. Uma operação que eleva o nível de confronto e mortalidade dessa forma, em qualquer técnica que se possa buscar, não pode ser considerada uma operação bem-sucedida” afirma.
Angeli lembra que essa prática não é inédita na PM de SP. “Estamos vindo de uma sequência. No ano passado, já estávamos vivendo essas operações dito ‘Escudo‘, que já se trata de má prática policial de cara. ‘Escudo’, assim, na perspectiva clara de operações de vingança pela morte do policial. Isso não pode existir numa polícia técnica, numa polícia profissional”, critica.
A Operação Escudo, que aconteceu em julho de 2023, durou 40 dias e deixou 28 mortos. A ação foi motivada pela morte de outro agente da PM, Patrick Bastos Reis, morrer baleado durante um patrulhamento no Guarujá. A nova operação, em menos de 20 dias, já supera a anterior em número de assassinatos pelo Estado.
“Não adianta ficar mudando de nome quando a gente tem resultados catastróficos como a gente tem. Catastróficos para a sociedade como um todo. Tivemos dois policiais mortos, outros dois policiais feridos, 30 mortos em menos de um mês de operação. Na prática policial profissional, se você atingir esse nível de confronto, esse nível de letalidade, é porque não há planejamento, não há inteligência. É porque, na verdade, se colocou apenas o uso da força numa operação vendeta, de vingança”, segue argumentando o coordenador da Plataforma Justa.
Em publicação no Diário Oficial desta terça-feira (20), o Ministério Público afirmou que acompanha as atividades policiais na Baixada Santista por causa da “quantidade expressiva de ocorrências”. Nos últimos dias, a Defensoria Pública de São Paulo já havia apelado, em conjunto com a Conectas Direitos Humanos e o Instituto Vladimir Herzog, à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) pelo fim da operação no litoral. O uso de câmeras corporais pelos agentes de segurança pública também foi pedido.
Felippe Angeli defende o uso dos equipamentos e diz acompanhar as denúncias a respeito da nova operação. “A polícia de São Paulo tem muitos problemas, tem um histórico de abusos também que, em determinadas situações, são muito graves, mas sempre foi uma polícia com um grau de profissionalismo e de resultados muito eficientes, comparado com todo o resto do Brasil. É importante dizer que o projeto de câmeras corporais, que tanto se discute hoje, é um projeto pioneiro da polícia de São Paulo. Não foi feito pelo governador A, governador B. Foi um projeto desenvolvido pelo comando da polícia de São Paulo”, diz ele.
“Nós temos acompanhado essa situação trágica que tem ocorrido no litoral de São Paulo. [São] denúncias muito contundentes, muito claras de violações extremas, de direitos fundamentais ali, daquelas comunidades. E temos também participado, junto aos tribunais, de algumas iniciativas para denunciar o flagrante descumprimento da lei nesse sentido. Que obviamente a polícia faça o seu trabalho, a polícia proteja os seus policiais – obviamente esse é o dever e é o que nós todos como cidadãos desejamos para a polícia. Agora, que faça isso cumprindo a lei, porque se essa polícia não cumpre a lei, ela se torna aquilo que ela pretende combater”, conclui Angeli.
A entrevista completa, feita pela apresentadora Luana Ibelli, está disponível na edição desta quarta-feira (21) do Central do Brasil, que está disponível no canal do Brasil de Fato no YouTube.
E tem mais!
Lei da Retaliação
Lei aprovada e sancionada pelo governador de Mato Grosso prevê cortar benefícios sociais de pessoas que participarem de ocupações de terra.
Livros Vermelhos
Dia Internacional do Livro Vermelho é celebrado em 21 de fevereiro. A data surgiu em comemoração ao lançamento do Manifesto Comunista, em 1848, por Karl Marx e Friedrich Engels, e é utilizada para incentivar a leitura do manifesto e outros livros vermelhos.
O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.
Publicação de: Brasil de Fato – Blog