Ricardo Kotscho: O síndico Rodrigo Garcia entrega a Bolsonaro o espólio do PSDB

Da Redação

Em artigo publicado (na íntegra, mais abaixo) no início da tarde desta terça-feira, 04-10,  o jornalista Ricardo Kotscho aborda o definhamento do velho PSDB, desde o golpe engendrado por Aécio Neves contra Dilma Rousseff:

A pá de cal será jogada hoje à tarde, em São Paulo, onde o partido nasceu, quando Rodrigo Garcia, o último síndico da massa falida tucana, entregar as chaves, de porteira fechada, para o presidente Jair Bolsonaro, com pompa e circunstância. Só falta João Doria também aparecer na cerimônia fúnebre.

De fato, foi o que aconteceu. 

O candidato derrotado do PSDB à reeleição ao governo de São Paulo, Rodrigo Garcia, anunciou nesta tarde o apoio “incondicional” a Jair Bolsonaro (PL), no segundo turno da eleição presidencial.

Garcia foi ao aeroporto de Congonhas receber Bolsonaro e declarar o seu voto e apoio.

Garcia afirmou:

“O PSDB Nacional está reunido neste momento declarando neutralidade, liberando, portanto, os estados. Eu, como candidato a governador do partido e, pessoalmente, como governador de São Paulo, declaro meu apoio incondicional ao presidente Bolsonaro e ao Tarcísio”

“Venho aqui receber o presidente Jair Bolsonaro no Aeroporto de Congonhas para declarar o meu apoio e o meu voto nesse segundo turno ao presidente. Durante todo o primeiro turno, eu disse que São Paulo é um estado desenvolvido, que dá oportunidades a todos e ajuda quem precisa, porque o PT nunca governou nosso estado. Essa mesma avaliação eu faço em relação ao Brasil, o que eu não quero para São Paulo, muito menos eu quero para o Brasil. Portanto, meu apoio incondicional, meu trabalho nesse segundo turno para que o presidente Jair Bolsonaro possa se reeleger e continuar, ao lado da população, comandando o destino dessa nação”.

Bolsonaro agradeceu Garcia e disse que o apoio do tucano é “muito bem-vindo”.

Tarcísio de Freitas, que vai disputar o segundo turno pelo governo de São Paulo com Fernando Haddad (PT), esnobou Garcia mais cedo.

Disse querer apoio de tucanos, mas que não via sentido em tê-lo no palanque, uma vez que pregou ”mudança” na campanha.

Foi humilhante. 

Mesmo assim, Garcia mencionou-o no discurso.

Triste fim: o síndico Rodrigo Garcia entrega a Bolsonaro o espólio do PSDB

Por Ricardo Kotscho*, no UOL

Dos tempos de glória da socialdemocracia no poder, com líderes como Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas, nada restou.

O velho PSDB já vinha definhando a cada eleição, desde o golpe engendrado por Aécio Neves contra Dilma Rousseff, que abriu as portas do poder para Bolsonaro e acabaria transformando o partido em mais um nanico.

Saiu desta eleição com uma bancada federal menor do que a do PSOL.

A pá de cal será jogada hoje à tarde, em São Paulo, onde o partido nasceu, quando Rodrigo Garcia, o último síndico da massa falida tucana, entregar as chaves, de porteira fechada, para o presidente Jair Bolsonaro, com pompa e circunstância. Só falta João Doria também aparecer na cerimônia fúnebre.

Ninguém deve ficar feliz com isso. Fará falta ao Brasil um partido da direita liberal, que foi engolido pela extrema-direita bolsonarista na eleição de 2018, quando teve menos de 5% dos votos. Depois de protagonizar a hegemonia com o PT por um quarto de século, a socialdemocracia sai de cena.

A decisão de Garcia, um político obscuro, egresso do PFL/DEM, agora União Brasil, de apoiar Tarcísio de Freitas, para governador, e Bolsonaro, para presidente, no segundo turno, veio logo depois da declaração de apoio a Lula dada por Tasso Jereissati, o único cacique tucano da velha guarda ainda em atividade.

O melancólico fim do reinado do “Tucanistão”, que ficou fora do segundo turno em São Paulo pela primeira vez em 30 anos, já era esperado desde que João Doria, o padrinho do síndico abandonou a candidatura presidencial e foi cuidar da vida dele.

Na disputa entre os candidatos de Lula, Fernando Haddad, e Bolsonaro, Tarcísio de Feitas, em São Paulo, Garcia, que era vice de João Doria, ficou solto no espaço, apanhando dos dois lados, sem esboçar qualquer reação.

Ainda na segunda-feira, a campanha de Haddad chegou a procurar interlocutores do PSDB para uma possível aliança, mas o governador não quis nem saber de conversa.

Sem partido e sem futuro, o síndico e os herdeiros do espólio agora só pensam em garantir com os novos donos algumas “boquinhas” que ocuparam durante tanto tempo no Palácio dos Bandeirantes.

Com tantos apoios, depois que o governador Romeu Zema, do Novo, também fechou negócio com o bolsonarismo nesta manhã de terça-feira, o presidente agora só pensa em ganhar mais votos.

Não quer mais nem ouvir falar em golpe, urnas eletrônicas, Justiça Eleitoral e Alexandre de Moraes, o ministro do TSE elevado à condição de inimigo número um do projeto de reeleição.

Bolsonaro parece disposto a passar um “tratoraço” no que restou do sistema político-partidário do país, completando o serviço iniciado pela Lava Jato, que o PSDB apoiou no início, e depois também acabou atropelado pela operação quando pegaram Aécio Neves em flagrante.

Mais adiante, a depender do resultado final das urnas, o presidente poderá começar a pensar na formação de um partido único, ou quase isso, que já vem sendo gestado pelo Centrão, com a fusão do Partido Progressista de Arthur Lira e Ciro Nogueira e o União Brasil de Luciano Bivar e ACM Neto para fazer frente ao empoderado Partido Liberal, cevado por Valdemar Costa Neto e Bolsonaro.

Afinal, nada diferencia esses partidos e seus patronos. O novo nome poderá ser simplificado para Unidos do Centrão ou Partido do Poder Bolsonarista, o que vem a dar no mesmo. Quem vai querer encarar?

Pelo jeito, neste segundo turno, o capitão resolveu dar adeus às armas e entrar para valer no mercado de votos. Paulo Guedes que prepare o cofre.

*Ricardo Kotscho, 72, paulistano e são-paulino, é jornalista desde 1964, tem duas filhas e 19 livros publicados. Já trabalhou em praticamente todos os principais veículos de mídia impressa e eletrônica. Foi Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República (2003-2004). Entre outras premiações, foi um dos cinco jornalistas brasileiros contemplados com o Troféu Especial de Direitos Humanos da ONU, em 2008, ano em que começou a publicar o blog Balaio do Kotscho, onde escreve sobre a cena política, esportes, cultura e histórias do cotidiano.

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Publicação de: Viomundo

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