Pedro Augusto Pinho: Os 102 anos de Leonel Brizola. Que falta gigantesca nos faz!
Admiradores homenageiam Leonel Brizola nesta segunda-feira, 22/01, quando se comemoram 102 anos do seu nascimento.
Será em ato público no Clube de Engenharia, Av. Rio Branco, 124, 22o andar.
‘’Consagrado como Herói da Pátria, Brizola gravou seu nome na história brasileira e foi o único político eleito democraticamente para governar dois estados diferentes em toda a história do país: Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro’’, atenta Vivaldo Barbosa.
102 ANOS DE LEONEL BRIZOLA
Por Pedro Augusto Pinho*
O desaparecimento do ideal de construção do Estado Nacional Brasileiro é o maior e mais profundo dano causado ao Brasil pelo processo de redemocratização.
Criou-se o mito do mundo globalizado, governado por um indefinido mercado, que deslocou o debate político das questões nacionais, reais, efetivas, para abstrações inespecíficas, porém com avassaladora cobertura midiática.
Nenhum ambiente para discutir o Brasil foi gerado, em compensação, espaços para louvar a privatização, a liberdade contratual e as forças democráticas do mercado brotaram aos borbotões.
Desse modo, na prática, calaram a voz Leonel de Moura Brizola e a luta que travava há 50 anos pelo erguimento da Pátria Brasileira.
Um país onde prevalecia o nacionalismo trabalhista, pensamento político forjado aqui por intelectuais desde José Bonifácio de Andrada e Silva e que encontrara em Getúlio Vargas seu primeiro construtor.
Não fosse a inegável liderança política do engenheiro Leonel de Moura Brizola, nem mesmo os seus dois períodos à frente do Estado do Rio de Janeiro teríamos para conhecer a diferença entre um governo realmente nacional e um governo deslocado da realidade para ser global, neoliberal, ideológico.
Brizola sofreu ataques por todos os lados.
Ataques da direita. Acusam-no de ser comunista, embora Brizola sempre tivesse tido contra si o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e suas defecções.
Ataques da esquerda, porque Brizola não colocava a democracia como bem supremo.
Para ele, o bem supremo eram o trabalho, a realização de um povo, miscigenado, pacífico, laborioso que precisava conquistar o efetivo poder em seu País, então nas mãos de interesses estrangeiros sempre esvoaçando pelas nossas elites.
Neste dia 22 de janeiro, Brizola completaria 102 anos.
A homenagem que podemos prestar a este grande brasileiro é trazer ao debate sua maior ambição: discutir a Questão Nacional, pois sem um país soberano tudo mais se esvai.
Menino pobre, nascido em Carazinho (RS), trabalhou como engraxate, graxeiro, ascensorista, é o único político eleito pelo povo para governar dois estados diferentes em toda a história do Brasil.
A QUESTÃO NACIONAL: SOBERANIA E CIDADANIA
Por toda América Latina, as independências do jugo colonial se deram no século 19. Do vice-reinado da Nova Espanha ao vice-reinado do Rio da Prata, incluindo o Brasil, ardia o desejo de independência.
Em parte, por ecos dos Estados Unidos da América (EUA), que obtiveram a independência para menos de 10% do território que viriam a conquistar, as Treze Colônias, em 1776. Em com olhos na dominação do continente, em 1823, já elaboraram a Doutrina Monroe, reforçada em 1845 com o projeto expansionista do “Destino Manifesto”.
Em parte, pelos ecos da Revolução Francesa (1789), que, nas Américas, levou à única revolta de escravos que chegou a fundar um Estado Nacional, sem escravos, pela liderança de François-Dominique Toussaint L’Ouverture, em 1791, no Haiti.
O Patriarca da nossa Independência, José Bonifácio de Andrada e Silva, já nos alertava: “infeliz o governo cuja administração econômica é seduzida e dominada pelas finanças” (in “Obra Seleta de José Bonifácio de Andrada e Silva”, organizada e coordenada por Felipe Maruf Quintas, para Biblioteca Digital da AEPET, 2024).
Esta “sedução” foi o fosso criado entre os EUA, cujo 1º secretário do Tesouro, Alexander Hamilton, pertencia a corrente econômica industrialista, enquanto praticamente todos demais responsáveis pelas finanças das novas repúblicas se preocupavam em “não gastar mais do que arrecadavam”, imobilizando a economia das jovens nações, resquício da dominação colonial.
Portanto, o que trazia a Nova República nem era o futuro, mas o passado, pré-revolução de 1930, da República Velha, do Império, mesmo da colônia, onde prevalecia o poder financeiro.
Brizola nos mostrava o futuro, de nação soberana e cidadã, que nas mãos neoliberais virou um adjetivo sem substantivo que qualificasse.
A Questão Nacional começa pelas autonomias que garantam o poder nacional.
Que autonomias são estas ao fim do século 20 e início do século 21?
A energia, pois desde o esforço corporal do homem é a construtora da sociedade.
De início, o fogo, o vento, o sol.
Com a revolução industrial, vieram as energias fósseis: o carvão mineral e o petróleo, nas formas líquida, o óleo, e gasosa, o gás natural.
Tínhamos chegado pela ação do governo militar de Ernesto Geisel na fissão nuclear. Hoje, países e empresas investem com sucesso na fusão nuclear, que se pode qualificar de energia do futuro.
E nossa democracia o que nos promete?
Retroceder ao vento, ao sol, eliminar a pesquisa que nos conduza a transição para o futuro e não a volta ao passado, caro e intermitente. E o pior: sob o controle do lucro empresarial, não do benefício social.
E, sem a questão nacional, garantidora do estado soberano, como construir a verdadeira cidadania?
A verdadeira cidadania implica oferecer a todos os brasileiros:
— saúde de qualidade, das medidas preventivas às corretivas e restauradoras;
— educação laica, universal, aprofundada, para produzir o conhecimento transformador das realidades, sem dano ambiental e com engrandecimento nacional;
— habitação digna; não é morar nas ruas como acontece crescentemente nas capitais brasileiras em pleno século 21;
— mobilidade urbana, segura e garantida pelo poder público;
— comunicação, em todos os sentidos, para que ela não se transforme em instrumento de dominação de uma casta ou de um grupo, agravada pelo controle administrativo ou tecnológico estrangeiro.
E que seja capaz também de garantir os direitos civis e sociais, tão duramente conquistados.
Ah! caros leitores! Que falta nos faz o engenheiro Leonel Brizola!
Concluamos com o Patriarca José Bonifácio: “a soberania é valor permanente e inegociável, sendo o critério de corte entre os patriotas e os traidores”.
Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.
Publicação de: Viomundo