Pedro Augusto Pinho: As finanças, o controle das fontes primárias de energia e da população
AS FINANÇAS E O CONTROLE DAS FONTES PRIMÁRIAS DE ENERGIA
Por Pedro Augusto Pinho*
A Raposa e as Uvas
“Certa raposa gascã, dizem outros normanda
Quase morrendo de fome, ela viu, no topo da videira
Uvas parecendo maduras, cobertas com pele avermelhada.
A garbosa teria feito com prazer a refeição;
Mas, como não a conseguiu, disse:
elas estão verdes demais, boas para cafajestes.
Não seria melhor deixar de reclamar?”
(De Fábulas de La Fontaine, Maison Alfred Mame et Fils, Tours, 1926)
O trecho acima é da famosíssima fábula A Raposa e as Uvas, de Jean de la Fontaine.
A malícia do mais lido poeta francês do século XVII vem-nos à mente quando encontramos as finanças difundindo falácias sobre as energias.
As finanças, aliadas a movimentos ecológicos, ambientais, climáticos, fortemente financiados por sua riqueza, criaram o conceito errôneo de que o melhor e mais barato em termos de energia é desprezível, tal como as uvas para a raposa.
Nem é preciso demonstração.
Basta observar as estatísticas de consumo que colocam os combustíveis fósseis atendendo 82% das necessidades de energia mundial, em 2021.
E quem isso afirma é a revista da BP, antiga Anglo-Persian Oil Company, primeira companhia a explorar as reservas petrolíferas do Oriente Médio e que hoje é a empresa de petróleo que encabeça a “transição energética” e se apresenta com este propósito:
“Reimaginar a energia para as pessoas e para o nosso planeta. Queremos ajudar o mundo a atingir emissões líquidas zero e melhorar a vida das pessoas. Nosso objetivo será reduzir drasticamente o carbono nas nossas operações e na nossa produção e desenvolver novos negócios, produtos e serviços de baixo carbono”.
A unidade de energia é a mesma de trabalho, “erg”, e vem da palavra grega que significa “trabalho, obra, ação”. Também é usada “joule”, que além de medir “trabalho”, também mede “calor”.
Sem trabalho, ação, calor não haveria vida humana na Terra.
ENERGIA NA HISTÓRIA HUMANA
Por milênios, a energia que o homem dispunha foi a de seu próprio corpo: mãos, braços e pernas.
Lentamente, muito lentamente, o progresso foi ocorrendo.
O homem descobriu que poderia usar a força/energia de animais. Aí, ganhou mais rapidez no desenvolvimento, ampliou suas possibilidades e condições para o progresso da coletividade.
Os grandes saltos de desenvolvimento vieram com os usos da água — energia para movimentar o transporte e os equipamentos — do vento, do sol, das marés.
Mas nada se comparou ao progresso advindo do fogo: o aquecimento dava conforto e transformava bens da natureza em produtos.
Foi somente em 1760, na Primeira Revolução Industrial que o homem descobriu a energia de origem fóssil. Primeiro, foi o carvão mineral.
Este feito mudou inteiramente a sociedade. Fez de um conjunto de ilhas europeias, as Ilhas Britânicas, separadas do continente pelo Canal da Mancha, o maior império, “onde o Sol nunca se punha”, ocupando 23,84% da superfície terrestre.
Pouco depois, antes da Guerra Civil estadunidense, na Pensilvânia, agosto de 1859, é perfurado o primeiro poço descobridor de petróleo.
Descobria-se não apenas a mais barata fonte de energia, mas um recurso natural não renovável capaz de produzir bens para inúmeras e ainda nem existentes necessidades humanas, de medicamentos a fertilizantes, construções de moradias, equipamentos domésticos e industriais, inúmeros objetos que participam do cotidiano humano como celulares e vestimentas, e mesmo materiais e equipamentos bélicos. Sem petróleo o mundo seria muito mais pobre e a vida mais cansativa.
O país que tem as maiores reservas e produção de carvão mineral no mundo é a China, seguindo-se a Índia, a Indonésia, os Estados Unidos da América (EUA), Austrália e Rússia.
Quanto ao petróleo, é encontrado e produzido principalmente na Venezuela, Arábia Saudita, Irã, Iraque, Rússia, Kuwait, Emirados Árabes Unidos e Líbia. Ou seja, em três pontos da Terra: América do Sul, Oriente Médio e Rússia.
Mas os EUA e o Canadá, que aparecem em estatísticas de petróleo?
Na realidade, já é parte da farsa montada pelos capitais financeiros, pois o que se encontram nos EUA e Canadá são areias betuminosas, de mais difícil e dispendiosa extração. Antes de se transformarem em petróleo, elas passam por estágio intermediário, do betume.
Também gostam de separar como se fossem diferentes o petróleo líquido do gasoso, petróleo e gás, embora ambos se encontrem nos mesmos reservatórios e sejam produzidos com a mesma tecnologia, o que não ocorre com as areias betuminosas e folhelhos do xisto betuminoso.
RECORDANDO A TRAJETÓRIA DO PODER FINANCEIRO
A finança, como poder, se forma na Inglaterra, com o uso privado da terra pela nobreza, o poder fundiário.
Mas surgem também os judeus, com o recurso dos empréstimos, proibido aos católicos.
O recurso dos empréstimos dinamizou o comércio nas cidades-estados italianas. Tudo entre os séculos XIII e XV, que marca o final da Idade Média.
Considera-se como tal o ano de 1453, com a tomada de Constantinopla pelos otomanos.
Pois no final da Idade Média, procurando manter o seu poder poder, a Igreja de Roma desenvolve a caça ao herege, ao não fiel e disciplinado cidadão crente em Deus.
É a inquisição que faz fugir, das cidades italianas e da península Ibérica, os judeus para o norte da Europa, especialmente para as cidades dos Países Baixos.
Estas ganham enorme expressão econômica, criam o primeiro Banco Central (1609, Banco de Amsterdã) e, juntamente com os ingleses, as Companhias das Índias, para o comércio internacional (1600, 1602).
As finanças inglesas, pelas armas e pela astúcia, dominam o século XIX, mas são derrotadas pela industrialização, pelo petróleo dos EUA e pela transformação social também com a industrialização e o petróleo da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), nas duas grandes guerras do século XX.
Todo esforço será da reconquista do poder e da submissão do petróleo ao seu poder como ocorrera, no passado, no Irã e pelos Rothschilds com armênios, em Baku, no Azerbaijão.
Mas as condições em 1945 não eram as de 1871. As finanças se aliam aos movimentos que colocavam no petróleo, ainda que sem qualquer comprovação, a responsabilidade pelo aquecimento global e males ambientais.
Um pouco de geologia e estariam desvendadas as épocas glaciais e interglaciais neste quaternário; o holoceno dos últimos 7.000 a 6.000 anos do nosso tempo.
Mas a ignorância e o domínio das mídias fizeram o “saber vulgar” do mundo pós-guerra, na verdade, cheio de guerras que começam na Coreia e chegam à Ucrânia.
As finanças sempre financiaram as guerras desde os Iorques, Tudors, Stuarts e Hânover, e de ambos os lados do Canal.
Porém, o mundo do pós-guerra também é o mundo cibernético e termonuclear.
As finanças dominaram em boa parte a informática, mas nada puderam fazer em relação à energia atômica.
Isso é visível no domínio das finanças nas redes e sistemas informacionais e no desenvolvimento da fusão nuclear pela China.
Também está na China e na Índia, portanto fora do domínio das finanças, o desenvolvimento aeroespacial.
O mundo das finanças, nesta terceira década do século XXI, está em crise.
Pela disputa interna entre finanças tradicionais e marginais para orientação dos novos caminhos e pela imensidão dos títulos sem lastro, estimados em centenas de trilhões de dólares, caucionando, assegurando fundos de investimentos de milhões de aplicadores no mundo.
Silicon Valley Bank e o Signature Bank foram o leve alarme do que está por vir.
Os ganhos especulativos impedem qualquer medida de sobriedade por parte da banca. Os resgates estatais de 2008/2010 se transformaram em novos déficits.
CONTROLAR A ENERGIA PARA CONTROLAR A POPULAÇÃO
Sem condição de controlar as fontes fósseis de energia, que produzem a melhor e mais barata energia, por falta de poder político, militar e recursos para corrupção e chantagem, e não podendo simplesmente voltar à fogueira e às águas, resta às finanças serem raposas esfomeadas diante de uvas maduras; inventar a transição energética.
A direção da Petrobrás, quando a empresa completa 70 anos pedindo a volta dos tempos gloriosos de descobertas, troféus e respeito no universo do petróleo, inventa a energia verde, o caminho do retrocesso, a transição energética.
Nem dá para esconder o desastre da Alemanha que vive crise social e econômica a partir da substituição do petróleo (gás natural) pelas “energias limpas”, solar e eólica, caras e intermitentes, descontínuas.
O mesmo se dá com outros Estados europeus nem tão ricos e industrializados quanto a Alemanha: Reino Unido, Países Baixos, Bélgica e mesmo a França.
Os EUA vivem a farsa de terem petróleo, quando têm areias betuminosas, e importam da Venezuela para manter o Estado minimamente em funcionamento, em meio do caos social.
Enquanto isso o preço do barril sobe, e continuará subindo, pelos recursos desviados para construção de monstruosidades, como as torres de captação de ventos em áreas oceânicas, aos altos custos que saem dos investimentos em pesquisas por hidrocarbonetos e tecnologias.
Longe de controlar a população, o que se vê, no Brasil e no mundo, são manifestações de revolta, depredações, aumento da violência urbana e rural.
A China não está apenas se transformando em potência econômica.
Ela dá exemplo de participação popular nas decisões que são para o País, logo interessam a todos, no sistema de Assembleias que começam nas províncias e vão até um Comitê Permanente de sete pessoas, tiradas do Politburo, do Comitê Central, onde a experiência e a demonstrada capacidade são os elementos de ascensão.
Também a prioridade nas conquistas científicas e tecnológicas que a fusão nuclear, ao invés da energia eólica, mostra o caminho do futuro ao invés de retorno ao passado.
E, como decidido no 20º Congresso Nacional do Partido Comunista da China (PCCh), em 2022, chega um momento que mais importante do que continuar crescendo a economia e distribuir melhor o que já se alcançou.
No Brasil, uma característica da produção de energia deve ser a da biomassa. Temos sol, chuva, temperaturas, terras irrigáveis, para produzirmos etanol, biodiesel, combustíveis a partir de diversos vegetais.
E uma refinaria própria, uma alcoolquímica nacional, desenvolvendo a democratização da terra e a tecnologia nacional, com o Incra (Instituto Nacional da Reforma Agrária), a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Petrobrás e Universidades. Isso é futuro.
As falácias, o domínio das mídias, a ilusão de um passado construído, irreal, já não conseguem convencer, apenas corromper os que têm poder decisório.
As revoltas estão começando e podem levar a transformações insuspeitas. A multidão tem uma dinâmica própria no tempo, nos lugares, ou seja, nas culturas.
O que está acontecendo na França, na Alemanha, nos EUA, em Burkina Fasso e no Níger, não necessariamente ocorrerá no Brasil.
Mas os fundos, mais cedo do que se espera, deixarão de pagar os dividendos.
*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, pertenceu ao corpo permanente da Escola Superior de Guerra (ESG), é, atualmente, presidente da Aepet – Associação dos Engenheiros da Petrobrás.
Publicação de: Viomundo