Palas Atena: Não me levem a mal

Não me levem a mal

Por Palas Atena, em perfil de rede social

Assistindo a programas de análise/cobertura do caso Silvio Almeida no nosso campo, não vejo se discutir o fato de Anielle Franco, sendo ministra da Igualdade Racial, não ter tomado medidas internas e sugerido um programa de proteção a vítimas de assédio moral e/ou sexual, com base em sua própria experiência.

Não vejo discussão sobre o fato de a ministra Cida Gonçalves, do Ministério das Mulheres, não ter tomado para si a responsabilidade de sugerir um programa nesse sentido e, desde que a denúncia foi informada internamente, no ano passado, de alguma forma mexer nesse vespeiro não esperando a coisa tomar a dimensão que tomou.

Cida é amicíssima de Janja, tinha como atuar sobre o presidente via a primeira-dama. E está no cargo para isto mesmo, chamar para si a responsabilidade de agir.

Vejam o que faz Haddad, com o mundo de B.O. que lançam sobre ele.

Lembram quando Lula estava batendo no golpista presidente do Banco Central, e Roberto Campos dobrava a aposta tocando terror pelos jornais, fazendo o mercado desestabilizar a moeda, especular, fazer o dólar ir às alturas?

O que fez Haddad? Marcou um jantar na casa dele para Lula, chamou uns economistas progressistas, como Luiz Gonzaga Beluzzo, e eles calibraram a estratégia de combate ao golpista Roberto Campos Neto sem ir para o confronto que, naquele momento, daria mais gás para o golpe do mercado.

Ah! mas Haddad é homem, branco, paulista, tem pedigree e prestígio. Fato!

Ele tem essas vantagens, mas isso não o seguraria no cargo se não fosse um ministro consciente de suas responsabilidades e que pensa estrategicamente.

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Haddad já esteve na berlinda, atacado pelo mercado, por gente do governo e pela esquerda, e reverteu isso.

E, não, gente não estou culpando a vítima, no caso Anielle. O que discuto é o papel social dela como ministra, como pessoa pública, não só agora.

Entendo que, de uma ministra de Estado, há a expectativa que atue de modo diferente do que faria uma pessoa comum, com menos poder e canal para se insurgir contra a opressão.

Ora, tanto Anielle quanto Cida gozam da maior broderagem com Janja, que tem forte influência sobre Lula.

Se as ministras que dizem atuar para a proteção a grupos minorizados não conseguem enfrentar um caso de assédio em seu próprio quintal, como podem passar confiança para a sociedade?

Vão me desculpar, mas a postura de Anielle nesse caso está acovardada. Dizer que respeitem seu momento, não cobrem dela, não é compatível com uma ministra, até porque a história aconteceu no ano passado.

Já houve tempo para possibilitar a ela processar a péssima experiência e atuar mais proativamente, como ministra.

Insisto nesse ponto porque me incomoda profundamente, e acho um sinal de fracasso do campo progressista nessa questão, que as ministras Cida e Anielle não tenham usado suas forças para fortalecer, no Estado, os canais de combate a esse machismo estrutural.

Por que deixar para uma ONG, para lá de suspeita, levantar as denúncias, ainda mais mandando para um jornal claramente de (extrema)direita, como o Metrópoles?

Anielle se refugiar numa nota fraca, de cunho mais pessoal do que institucional, se refugiar no silêncio como ministra, fortalece em que a luta dela e a nossa luta?

Cadê essa mulher mobilizando outras mulheres na defesa de uma mudança nessa cultura de assédio?

Me lembro de Maria da Penha. O ex-marido agressor tentou matá-la diversas vezes e o que ela fez?

Gerou um movimento que acabou criando uma das leis mais importantes no combate à violência de gênero.

Não estou ignorando o sofrimento de mulheres que passam por violência, assédio. Mas, se a gente não pode contar com uma ministra para se insurgir contra isso, mostrar força ou buscar força na mobilização da sociedade, que recado o governo está mandando para outras mulheres, sem esse peso político?

O que passa na cabeça da gente é o seguinte: se até uma mulher que é ministra não teve coragem de enfrentar o agressor, que dirá nós. É esse o recado.

Volto a dizer uma coisa que considero muito problemática no ministério de Lula.

Tirando Haddad, Esther Dweck (pegou uns B.O. pesadíssimos de greve em série, uma mulher competentíssima que segura um rojão só comparável ao de Haddad na economia), Margareth Menezes (que parece ter encontrado o rumo para comandar sua pasta, que não tem grana nem prestígio), Nísia (com seus altos e baixos), quem tem entregado de fato são os ministros de direita (Jader Filho, Renan Filho).

Infelizmente ministros do campo progressista são ineptos, não mobilizam, não deixam marcas. Uma gente fraca para o desafio imenso que temos.

Cida Gonçalves e Anielle não estão à altura do cargo, não têm a ousadia e o enfrentamento exigidos nos ministérios que ocupam. E não é de agora.

E isso não é por serem mulheres, é por características delas mesmas. E sabem o que elas acabam reforçando? Reforçam a ideia que “mulher” é fraca, não aguenta o “rojão”, o que é falso, obviamente.

E nem venham dizer que estou apoiando agressor. A discussão aqui é outra. É como podemos sair desse lugar de subalternidade, de postura reativa.

Aprender a dar soco na cara de abusador, em lugar de nos recolhermos. É construir a verdadeira sororidade que leve à transformação, não seja somente um pacto de broderagem, “ai, amiga, estou com você; vamos ficar aqui, neste canto, chorando juntas”.

Ontem contei a história da mulher francesa, Gisèle Pélicot, que descobriu o horror de ser dopada pelo marido e estuprada por homens, enquanto ele assistia.

Ela tinha todo o direito ao anonimato; a imprensa, a justiça, todos garantiram a ela esse direito.

Mas ela decidiu mostrar o rosto, dizer seu nome, mostrar sua história para que outras mulheres se sentissem representadas.

Precisamos de mais Marias da Penha, Gisèle Pélicot para a nossa causa, né?

*Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.

Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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