Não foi o El Niño: seca na Amazônia teve mudanças climáticas como principal causa, diz estudo
As mudanças climáticas decorrentes da ação humana foram a principal causa da seca devastadora que atingiu a Amazônia em 2023. A conclusão é de um estudo da World Weather Attribution (WWA), organização de cientistas que estudam as causas dos eventos climáticos extremos.
Secas na região amazônica costumam ocorrer por causa do El Niño, um fenômeno natural que dificulta a formação de chuvas. Mas os pesquisadores descobriram que as condições para a estiagem registrada em 2023 tiveram início antes deste fenômeno e fora de sua área de influência. O El Niño, portanto, teria apenas agravado o quadro.
“O El Niño reduziu a quantidade de precipitação [chuva] na região aproximadamente na mesma quantidade que as mudanças climáticas; No entanto, a forte tendência de estiagem foi quase inteiramente devido ao aumento das temperaturas globais, de modo que a severidade da seca que está sendo experimentada atualmente é em grande parte impulsionada pelas mudanças climáticas”, diz uma das conclusões do estudo, em tradução do inglês pelo Brasil de Fato.
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Segundo a WWA, as mudanças climáticas aumentaram em 30 vezes a probabilidade da ocorrência de uma seca com a gravidade da registrada no ano passado. Com o planeta mais quente por causa da atividade industrial, uma estiagem com essas características deve ocorrer uma vez a cada 50 anos.
Além da seca na Amazônia, a ação humana sobre o clima também foi a principal causa da onda de calor que atingiu grande parte do Brasil em 2023, conforme um estudo da WWA publicado em outubro do ano passado.
Desmatamento e pecuária pioraram condições da seca
Ao transformar grandes rios em “desertos”, a seca atingiu com mais força populações vulneráveis, como agricultores familiares, indígenas e ribeirinhos, disse o estudo. O motivo são as “altas taxas de pobreza” e o fato de essas populações dependerem dos rios para beber água, regar as plantações e transportar bens básicos de consumo.
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“A exposição aos impactos da seca foi agravada por práticas históricas de gestão da terra, da água e da energia, incluindo desmatamento, destruição da vegetação, incêndios, queima de biomassa, agricultura corporativa, pecuária e outros problemas socioclimáticos que diminuíram a capacidade de retenção de água e umidade da terra e, portanto, pioraram as condições”, diz outra conclusão do estudo.
A pesquisa é de autoria de cientistas do Brasil, da Holanda, do Reino Unido e dos EUA. Os métodos utilizados são revisados por pares, ou seja, foram submetidos a exame de especialistas na área que podem corroborar ou sugerir revisões, o que contribui para a qualidade acadêmica e reforça a credibilidade científica do trabalho.
Efeitos da seca ainda são sentidos
Três meses após o auge da seca avassaladora que atingiu o Amazonas, os rios da região entraram no período de cheias. A volta das chuvas e a subida do nível da água normalizaram a vida de boa parte das mais de 630 mil pessoas que, em outubro de 2023, ficaram isoladas após os rios se transformarem em grandes bancos de areia.
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Porém, ainda pesam sobre as populações da floresta a escassez de peixes e o medo de que a próxima cheia possa ser tão extrema quanto a última seca. Por isso, lideranças indígenas e ribeirinhos pedem que os governos implementem medidas de prevenção e fazem campanhas de arrecadação de alimentos.
“A navegabilidade melhorou em algumas regiões, mas a questão da insegurança alimentar e a falta de água potável permanecem”, diz Mariazinha Baré, coordenadora da Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (Apiam), que representa 63 povos originários.
Publicação de: Brasil de Fato – Blog