Milei também enfrenta especulação cambial na Argentina
A chegada de 2025 traz consigo um cenário de tensão econômica tanto para o Brasil quanto para a Argentina. Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Javier Milei enfrentam desafios semelhantes: conter a especulação cambial, proteger suas reservas internacionais e equilibrar políticas econômicas em meio a um ambiente global volátil.
Na Argentina, o Banco Central foi forçado a intervir no mercado cambial para frear a desvalorização do peso. Entre os dias 25 e 27 de dezembro de 2024, a autoridade monetária vendeu cerca de US$ 803 milhões em reservas internacionais, configurando a maior intervenção diária desde outubro de 2019.
A demanda por dólares disparou após Javier Milei eliminar um imposto significativo sobre importações, o que aumentou a pressão no câmbio. Setores como o automobilístico lideraram a corrida por moeda estrangeira. As reservas internacionais argentinas, que estavam em US$ 22,3 bilhões em outubro, sofreram mais uma redução substancial.
Essa movimentação reflete um dilema comum para países com moedas fragilizadas: intervir para conter a especulação ou preservar suas reservas como último recurso em caso de crise aguda.
No Brasil, o cenário não é muito diferente. Às vésperas de assumir a presidência do BRICS em janeiro de 2025, o país também se tornou alvo de especuladores internacionais. Wall Street e a City de Londres intensificaram suas apostas contra o real, levando a moeda brasileira a atingir R$ 6,26 por dólar em dezembro — a maior cotação desde o início do Plano Real.
O Banco Central brasileiro precisou queimar cerca de US$ 17 bilhões em reservas cambiais para conter a escalada do dólar. Ainda assim, as pressões sobre o real permanecem fortes, sob a alegação de que seguem as incertezas em torno das políticas fiscais e monetárias para o próximo ano.
A situação se agrava com análises vindas de publicações financeiras internacionais, que sugerem que o Brasil precisaria escolher entre austeridade fiscal ou “caos econômico”. A mensagem, ainda que sutil, carrega um tom quase coercitivo: ou o governo brasileiro se submete à agenda fiscal mais rígida, ou enfrentará mais turbulências nos mercados.
As reservas internacionais desempenham um papel fundamental para economias em desenvolvimento. No caso do Brasil, mesmo após as intervenções, elas ainda somam cerca de US$ 363 bilhões — um patamar significativamente superior ao da Argentina. Contudo, a continuidade das intervenções sem uma estratégia clara pode fragilizar esse colchão de proteção.
Na Argentina, por outro lado, o cenário é muito mais preocupante. As reservas atuais não oferecem grande margem para manobras prolongadas. Javier Milei precisará de mais do que cortes de impostos ou ajustes no mercado cambial para evitar uma crise econômica ainda mais severa. Ele precisará rever a agenda neoliberal, se quiser continuar no cargo, a partir de 2027.
Enquanto Milei aposta em um ajuste econômico radical, com cortes profundos no Estado, Lula busca um equilíbrio entre responsabilidade fiscal e investimentos sociais. Ambos, no entanto, enfrentam o mesmo inimigo: os especuladores financeiros, que enxergam oportunidades de lucro em momentos de instabilidade.
A diferença está no arsenal de cada país. O Brasil possui uma economia mais robusta, reservas mais elevadas e maior capacidade de negociação no cenário internacional. Já a Argentina, enfraquecida por décadas de crises recorrentes, depende cada vez mais de soluções imediatistas.
O ano de 2025 começará com dificuldades econômicas para os dois países. No Brasil, Lula precisará fortalecer sua posição nos BRICS e equilibrar-se entre a cruz e a espada, ou seja, precisará transmitir confiança ao mercado sem abrir mão de sua base social.
Na Argentina, Milei terá que equilibrar suas promessas de austeridade com a necessidade urgente de estabilizar a economia e evitar um colapso social –haja vista o aumento exponencial da pobreza após sua ascensão à Casa Rosada, sede governo argentino.
No tabuleiro geopolítico global, Brasil e Argentina estão em lados opostos em termos de estratégia econômica, mas compartilham a mesma vulnerabilidade: a dependência de capitais externos e a pressão constante do mercado financeiro internacional.
O Blog do Esmael seguirá acompanhando cada movimento desse xadrez econômico, trazendo análises detalhadas e atualizações em tempo real para você, leitor. Afinal, como sempre defendemos por aqui: soberania econômica não se negocia, se defende.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
Publicação de: Blog do Esmael