Lula tem governo mais longevo da Nova República e pode ir além

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tornou-se o presidente mais longevo da Nova República — período iniciado em 1985 com o fim da ditadura militar. Ao final do atual mandato, em 2026, terá governado o Brasil por 12 anos: dois mandatos consecutivos entre 2003 e 2010, e o terceiro iniciado em 2023. Nenhum outro líder político eleito pelo voto popular permaneceu tanto tempo à frente do Executivo na atual fase democrática.

A Nova República é o período que sucede o regime militar e inaugura um novo ciclo democrático com eleições diretas, multipartidarismo e a Constituição de 1988. Nesse cenário, a longevidade de Lula carrega um simbolismo histórico poderoso: é o único político da redemocratização a retornar ao Palácio do Planalto após mais de uma década afastado — feito comparável apenas ao de Getúlio Vargas, que voltou ao poder pelo voto popular após ter governado em diferentes regimes.

Com origens no sindicalismo do ABC paulista, Lula representa não apenas um projeto político, mas um fenômeno de resiliência democrática. Derrotado em três eleições antes de vencer em 2002, seu primeiro governo surfou o ciclo de alta das commodities e consolidou políticas sociais como o Bolsa Família. A combinação de crescimento econômico e redistribuição de renda foi o pilar da popularidade que o fez sair, em 2010, com aprovação recorde.

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A trajetória política de Lula foi interrompida por denúncias da Operação Lava Jato, que resultaram em sua prisão em 2018. A condenação, considerada posteriormente parcial e sem garantias de defesa, foi anulada pelo Supremo Tribunal Federal. A decisão abriu caminho para sua candidatura em 2022, quando venceu Jair Bolsonaro (PL) em uma das eleições mais polarizadas da história.

Sua volta ao poder marcou um novo capítulo da democracia brasileira. Não apenas pela vitória eleitoral, mas pela reafirmação institucional do voto como instrumento de legitimidade, mesmo em meio a ataques ao sistema eleitoral.

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Ao contrário do que muitos analistas apressados dizem, Lula não governa com uma base frágil. Ele governa com uma base maleável, ancorada no chamado Centrão — grupo de partidos que, embora heterogêneo, opera segundo a máxima “se hay gobierno, soy a favor!”. Trata-se de uma lógica fisiológica, não ideológica.

É um apoio que não se traduz em fidelidade programática, mas em adesão circunstancial — baseada no presidencialismo de coalizão brasileiro.

Mesmo sem maioria ideológica, o governo aprovou pautas complexas, como a nova regra fiscal e a reforma tributária. A habilidade de articulação política de Lula, somada à experiência acumulada, tem sido decisiva. Mas os riscos permanecem: a instabilidade latente, o avanço do bolsonarismo em redes e polícias, e o novo papel do Judiciário como ator central do tabuleiro.

O retorno de Lula consolida o lulismo como um dos mais duradouros fenômenos políticos do Brasil contemporâneo. Trata-se de mais que uma figura pessoal: é uma força agregadora de políticas distributivas, inclusão social e mediação institucional, que sobreviveu ao impeachment de Dilma, à erosão do PT e ao antipetismo eleitoral.

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Contudo, o novo ciclo apresenta dilemas inéditos. A base social está fragmentada, o mercado exige reformas liberais, e a sociedade civil exige respostas rápidas em áreas como saúde, educação e meio ambiente. Em paralelo, a extrema direita segue mobilizada — especialmente nos estados e nas corporações armadas.

Nas redes sociais, especialmente no X (antigo Twitter), a expressão “Lula 4 vem aí” virou tendência nos últimos dias. O movimento, que começou de forma orgânica entre apoiadores do presidente, indica um desejo latente de continuidade política além de 2026.

Como não há impedimento constitucional para uma nova candidatura, Lula poderá concorrer novamente, caso queira e tenha condições políticas e pessoais para isso. A discussão revela a força simbólica e mobilizadora do lulismo — e como parte expressiva da base social enxerga Lula como único capaz de barrar retrocessos. A discussão online se torna um termômetro político valioso sobre o futuro do campo progressista.

Lula é o presidente mais longevo da Nova República — e, talvez, o mais resiliente. Sua trajetória sintetiza a história recente do Brasil: da exclusão à presidência, da prisão à consagração eleitoral. Seu retorno reforça a vitalidade da democracia brasileira, ainda que em meio a contradições profundas.

Mas a história ainda está sendo escrita. O futuro dirá se essa longevidade resultará em um novo ciclo de reconstrução institucional e justiça social, ou se será apenas mais uma travessia turbulenta da política nacional.

Publicação de: Blog do Esmael

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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