Líder do PT na Câmara explica por que é contra a CPI do INSS: palanque bolsonarista
A tentativa da oposição bolsonarista de instalar uma CPI do INSS reacendeu a disputa política no Congresso e escancarou o que está em jogo: o controle da narrativa em meio ao maior escândalo previdenciário dos últimos anos.
Em entrevista à GloboNews, o líder do PT na Câmara, deputado Lindbergh Farias (RJ), acusou os articuladores da comissão de querer sabotar as investigações em curso. “Essa CPI está mais para atrapalhar o trabalho da Polícia Federal”, cravou o parlamentar.
O petista lembrou que a operação que derrubou a cúpula do INSS partiu de auditorias internas da CGU e ações da PF iniciadas ainda em 2023, sob o governo Lula. “Essa investigação jamais ocorreria no governo Bolsonaro”, afirmou Lindbergh, citando a interferência política nas apurações da chamada rachadinha.
PF na frente, bolsonarismo atrás
Segundo Lindbergh, a atual investigação da Polícia Federal já resultou em prisões, bloqueio de contas e quebra de sigilos. Para ele, abrir uma CPI neste momento seria oferecer um “palanque político” aos bolsonaristas, como o coronel Chrisóstomo (PL-RO) e a ex-ministra Damares Alves (Republicanos), “sem qualquer compromisso com a verdade”.
“Não temos medo da investigação. Mas a CPI pode desvirtuar os fatos e virar show de horrores. O governo quer ressarcir logo os aposentados. Quem quer CPI, quer tumulto, não justiça”, disparou.
Nos bastidores do Congresso, o ambiente é descrito como “tóxico”. Deputados relatam gritaria, acusações infundadas e uma clara intenção de transformar a comissão num ringue político em ano pré-eleitoral.
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O jatinho, o procurador e o campeão do desmatamento
Enquanto a disputa institucional avança, a Polícia Federal aprofunda a apuração sobre os vínculos do ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Oliveira, com empresários e lobistas investigados.
Documentos revelam que Virgílio viajou em um jatinho operado pela Agropecuária Rio de Areia Ltda, empresa ligada ao mato-grossense Édio Nogueira, conhecido por ser um dos maiores desmatadores da Amazônia e dono da distribuidora de combustíveis Royal FIC.
O avião, um Cessna CitationJet (PR-EDT), não tem licença para táxi aéreo e foi usado para levar o procurador de São Paulo a Curitiba, em novembro de 2024. A origem do financiamento do voo está sob investigação.
Antes disso, Danilo Trento, lobista já indiciado na CPI da Covid, pagou a primeira perna da viagem de Virgílio em voo da Latam. Ambos aparecem em vídeos das câmeras de Congonhas sendo escoltados por um agente da própria PF até o hangar do jatinho.
Além de Trento, outro nome recorrente na CPI da Covid, Maurício Camisoti, também reaparece nas investigações da fraude no INSS. A PF suspeita que ambos faziam parte de uma rede de operadores que intermediavam pagamentos ilegais a autoridades.
O pivô de tudo é Antônio Carlos Antunes, o “Careca do INSS”, que teria repassado R$ 7,5 milhões a Virgílio por meio da esposa do procurador. A Polícia Federal quer saber quem mais se beneficiou do esquema e por quê.
A eventual instalação da CPI poderia abrir espaço para depoimentos de nomes como Rogério Marinho, Onyx Lorenzoni e até Carlos Lupi, atuais e ex-ministros da Previdência.
O poder de Alcolumbre e o cálculo político
A decisão de abrir ou não a CPI está nas mãos do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Recém-chegado de viagem com o presidente Lula à China, ele ainda não se pronunciou. Mas a pressão é grande — tanto da oposição quanto da ala governista que teme desgaste.
Lindbergh não descarta a CPI, mas quer garantias de isenção. “Se ela vier, vamos colocar nossa tropa lá dentro. E se tiver gente do nosso lado envolvida, também vai pagar.”
O líder petista encerrou a entrevista com um alerta: “Enquanto o Congresso vira palco de palanque bolsonarista, seguimos sem discutir pautas importantes como a isenção do IR até R$ 5 mil e a PEC da Segurança. É hora de escolher entre investigar para punir ou criar mais um circo.”
A CPI do INSS é o novo terreno de disputa entre transparência e oportunismo. O governo Lula parece disposto a bancar as consequências das apurações — mas não a aceitar a manipulação da narrativa por adversários que, no poder, sufocaram investigações.
A oposição tenta transformar a dor dos aposentados em capital político. Mas o Brasil precisa de justiça, não de espetáculo.

Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
Publicação de: Blog do Esmael