Justiça argentina identifica corpo do pianista Tenorio Jr.
Identificado Tenorio Jr., o pianista brasileiro desaparecido em março de 1976 em Buenos Aires. O corpo, enterrado como indigente no cemitério de Benavídez, foi reconhecido quase 50 anos depois pela Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF), por meio de cotejo de impressões digitais.
Francisco Tenorio Cerqueira Junior, nascido no Rio de Janeiro em 1940, era referência da música popular brasileira e acompanhava Vinicius de Moraes em turnê na Argentina. Na madrugada de 18 de março de 1976, saiu do hotel Normandie, no centro de Buenos Aires, e nunca mais foi visto. Dias depois, seu corpo, com múltiplos tiros, foi encontrado em Don Torcuato, no município de Tigre.
A investigação permaneceu travada até a redemocratização argentina. Só em agosto deste ano a Câmara Federal de Buenos Aires validou a identificação e notificou a família do pianista, em articulação com a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) do Brasil e o Ministério Público Federal.
O caso de Tenorio Jr. está inserido no processo do Plano Condor, a aliança repressiva entre ditaduras militares do Cone Sul nos anos 1970 e 1980. Documentos e testemunhos apontam que ele foi levado à Escola de Mecânica da Armada (ESMA), centro clandestino de tortura da ditadura argentina, e executado em coordenação com militares brasileiros.
O EAAF destacou que, embora os restos tenham sido transferidos para o ossário em 1982, as impressões digitais arquivadas no processo de San Isidro permitiram confirmar sua identidade. O método, apoiado pelo software AFIS, já possibilitou a identificação de mais de 140 desaparecidos políticos no país.
A viúva Carmen, com quem Tenorio tinha quatro filhos e outro a caminho, recebeu a confirmação com a dor de quem aguardou quase cinco décadas por respostas. O caso volta a pressionar os tribunais argentinos e brasileiros a avançarem na responsabilização de militares que atuaram na coordenação repressiva.
A tragédia de Tenorio Jr. é símbolo do elo entre música, cultura e resistência. Um artista que levou poesia ao piano e encontrou a morte nas mãos da violência de Estado. Sua identificação é vitória parcial da memória, mas também um alerta: sem justiça, a democracia sempre corre risco.

Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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Publicação de: Blog do Esmael