Jeferson Miola: Governador Leite e vazamento de inquérito sigiloso da família de Juliana Brizola

O governador Leite e o vazamento de inquérito sigiloso da família de Juliana Brizola

Por Jeferson Miola, em seu blog

A coluna “Política e Poder” do jornal Zero Hora publicou com exclusividade na versão online [22/10] a existência de um inquérito policial sobre supostas desavenças na família materna da ex-deputada estadual e pré-candidata Juliana Brizola, do PDT/RS. O assunto agora repercute amplamente em outros meios de comunicação.

Como este inquérito é sigiloso e ainda está em andamento, existem pelo menos duas hipóteses para a publicidade do conteúdo desta investigação pela imprensa: [1] ou o tio dela, que é parte do contencioso, foi a fonte do jornal Zero Hora; ou, então, [2] o governo Leite vazou as informações sigilosas para este veículo específico.

A hipótese de ter sido o tio da Juliana não pode ser descartada, considerando o histórico de uma relação conturbada, segundo fontes próximas à família, e que envolve o interesse do tio da Juliana em receber antecipadamente a herança da avó dela devido a uma realidade de dependência econômica.

A hipótese de ter sido o governo Leite parece, no entanto, ainda mais verossímil, e pelos seguintes motivos:

[1] o jornal Zero Hora, da RBS, grupo econômico que é sócio do condomínio ultraliberal-conservador que domina o Estado e a Prefeitura de Porto Alegre, deu a matéria com exclusividade e repercutiu numa das principais colunas políticas da mídia hegemônica do RS, assinada pela jornalista Rosane de Oliveira, que sentenciou: “indiciamento ameaça candidatura de Juliana Brizola ao governo do Estado”;

[2] a repórter que teria apurado o caso, integrante do Grupo de Investigação da RBS, é conhecida por seu acesso prodigioso a fontes policiais do Estado;

[3] há alguns dias [16/10] o governador Eduardo Leite reuniu os partidos da base de apoio no Palácio Piratini exigindo ordem unida em torno da candidatura do vice Gabriel de Souza à sucessão.

Dentre as exigências feitas [inclusive em relação ao PP], Leite deixou claro não aceitar a articulação do PDT com o PT para a formação de uma chapa eleitoral com a Juliana Brizola na cabeça e tendo, provavelmente, o deputado Paulo Pimenta como vice;

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[4] pedetistas desconfiam que alguns correligionários defensores da continuidade da aliança com Leite teriam “soprado” nos ouvidos do governador sobre a existência do tal inquérito da Polícia Civil.

Uma liderança do PDT apura, inclusive, se a delegada que indiciou Juliana teria sido promovida na último terça-feira, 21/10 [mera coincidência]?.

É gravíssimo o vazamento pela imprensa de inquérito sigiloso envolvendo questões familiares, sempre controvertidas, sensíveis e passíveis de motivações emocionais irascíveis.

É certo que o jornal Zero Hora não inventou o conteúdo, que é sigiloso, mas foi transmissor de informações prestadas por pessoas inescrupulosas que o vazaram.

É de se questionar, porém, se não deveria haver o mínimo de reserva do jornal antes de publicar com imenso destaque um assunto familiar sujeito a toda sorte de confusão, e que, se divulgado, sabidamente teria um efeito corrosivo para a pré-candidata Juliana.

A detonação da Juliana Brizola tem um alvo ainda maior que ela mesma.

Além, claro, de atingir diretamente a honra pessoal e a imagem política dela, alvejar a Juliana significa alvejar também a possibilidade histórica de formação de uma chapa eleitoral entre o PT e o PDT para o governo do RS, porque não existe outra liderança pedetista que desempenharia este papel que ela pode desempenhar para a unidade da esquerda e do progressismo para enfrentar o bloco oligárquico-conservador dominante.

Nem mesmo em 1998, quando o avô da Juliana, Leonel Brizola, foi vice de Lula na eleição para a presidência, PT e PDT estiveram unidos numa mesma chapa. Pela primeira vez, portanto, este cenário se mostra muito realista para a eleição de 2026, e por isso assusta os “donos do poder” na capital Porto Alegre e no Estado do RS.

Leite tem a obrigação de mandar investigar imediatamente este vazamento para identificar os responsáveis e puní-los nos termos mais severos da Lei.

Se nada fizer, Leite confirmará que por trás do falso bom mocismo de “político moderno e descolado” se esconde um oligarca político que usa as polícias pra intimidar, ameaçar e chantagear seus adversários políticos.

O uso do Estado como comitê eleitoral é uma característica do governador Eduardo Leite, que na rememoração de um ano das enchentes produziu um filme auto-promocional e cheio de mentiras para esconder da população o papel decisivo do governo Lula durante a tragédia e na reconstrução do Estado. Com um detalhe: um filme auto-elogioso bancado com dinheiro público e feito por funcionários do governo.

Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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