Jair de Souza: Pobre de direita, a responsabilidade também é nossa. VÍDEO
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Pobre de direita: a responsabilidade também é nossa
Por Jair de Souza*
No vídeo acima, temos um caso típico de um fenômeno que vem afetando milhares (ou seria milhões) de brasileiros ultimamente: a defesa dos valores sociais das classes dominantes por parte de gente de escassos recursos.
Tenho plena convicção de que todos os que venham a ver o citado vídeo se lembrarão de imediato de um, ou mais, de seus conhecidos com características semelhantes às do personagem deste caso.
É que, embora estejamos tratando de uma peça de ficção, seu conteúdo reflete de forma fidedigna uma particularidade que se alastrou pelo Brasil afora, a de pobres que assumem com ardor os valores sociais das camadas mais ricas da sociedade.
No entanto, nosso objetivo em trazer à tona o presente material não se resume a expor o problema nele contido. O que de verdade desejamos é poder avançar em uma reflexão que nos leve a entender as razões que tornam possível que um numeroso grupo de pessoas se comportem e assumam posicionamentos que, à luz da lógica, vão flagrantemente contra seus próprios interesses de classe. Se pudermos dar alguma contribuição neste sentido, então, terá valido a pena abordar a questão.
Em primeiro lugar, precisamos evitar cair na tentação simplista de colocar a culpa no próprio povo por estas mazelas.
Em lugar de considerá-las e tratá-las como culpadas, devemos ver estas pessoas como vítimas redobradas de um processo cruel de exploração dos setores populares por parte das classes dominantes.
É gente que, apesar de também sofrer todas as agruras da população mais carente, é induzida a fazer a defesa daqueles que os oprimem. Por isso, eles podem ser considerados como vítimas duplamente atingidas.
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Porém, com o que acabo de dizer, não pretendo insinuar que devemos aceitar ou tolerar o comportamento dos chamados pobres de direita, muito pelo contrário. O que quero deixar claro é que precisamos entender o que faz com que pessoas que normalmente deveriam estar lutando ao lado do povo trabalhador estejam empenhadas em garantir a manutenção dos privilégios dos mais opulentos.
Outro ponto que não pode ser relegado em nossa análise do problema é o fato de que parte significativa desses pobres de direita seja composta por jovens, em plena vitalidade de suas energias.
Não podemos ter nenhuma dúvida quanto à relevância do papel da juventude em qualquer processo de lutas por transformações sociais.
Contar com eles na luta por alguma causa é sempre dispor de uma força de combate das mais importantes, pois, com sua abnegação, disposição e aguerrimento, os jovens são capazes de travar batalhas com muito mais rigor e determinação que os mais avançados em idade.
Diante do panorama acima exposto, cabe-nos perguntar: o que induz a tantos jovens das camadas populares a aderir às propostas ideológicas dos inimigos de seu povo?
Desde logo, não se trata de nenhum vestígio de propensão inata à traição inerente a eles. Na verdade, o que precisamos nos indagar são os motivos pelos quais esses jovens estão sendo influenciados ideologicamente pelas classes dominantes, e não por pensamentos vinculados com suas próprias características sociais.
E, quanto a isto, não podemos ignorar o fato de que nós (os adultos que se sentem vinculados com o campo dos interesses populares) temos muita responsabilidade em que a situação tenha se enveredado por este caminho.
Isto se deve a que não temos feito o que nos corresponde fazer com respeito à juventude. Esses jovens não estão aderindo a nossas ideias como seria de se esperar simplesmente porque nós não estamos levando a eles nossa visão de mundo. Há algumas décadas, o PT e várias outras correntes políticas da esquerda vêm se mantendo afastadas das camadas que formariam a base natural de sua sustentação.
Infelizmente, os jovens periféricos, sequiosos por se sentirem partícipes ativos das transformações sociais, só recebem regularmente as ideias e propostas provenientes dos setores mais reacionários do capitalismo.
Como, instintivamente, os jovens sonham em contribuir para destruir o que eles entendem como sendo injusto e criar aquilo que atende a suas aspirações, eles tendem a se ligar àquelas ideias que lhes chegam com propostas de mudanças.
E, lamentavelmente, as visões que lhes estão chegando são as do que há de mais nefasto no capitalismo atual. É por isso que o neonazismo-bolsonarista-neopentecostal faz parte do arcabouço ideológico de muitos de nossos jovens das camadas marginalizadas da sociedade.
Não vai ser tão somente com críticas teóricas e moralistas que o campo popular conseguirá reverter este quadro deprimente.
Todos os partidos e correntes da esquerda brasileira precisam ter consciência de que nossa presença visível, cotidiana e militante junto às bases populares é o principal antídoto para enfrentar e derrotar o avanço que a podridão ideológica do grande capital, expressada principalmente através do neonazismo-bolsonarismo-neopentecostalismo, vem obtendo junto a nossa juventude trabalhadora.
*Jair de Souza é economista formado pela UFRJ e mestre em Linguística pela mesma Universidade.
Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Publicação de: Viomundo