Ícone da música paraibana, Vital Farias morre aos 82 anos
“Não se admire se um dia / Um beija-flor invadir / A porta da sua casa / Te der um beijo e partir / Fui eu que mandei o beijo / Que é pra matar meu desejo / Faz tempo que eu não te vejo / Ai que saudade de ocê”
O mundo da música perde um de seus artistas mais autênticos. Nesta quinta-feira (6), o cantor e compositor paraibano Vital Farias faleceu aos 82 anos, vítima de um choque cardiogênico.
Ele estava internado no Hospital Metropolitano, na grande João Pessoa (PB). Nascido no sítio Pedra d’Água, em Taperoá, Paraíba, Vital era o caçula de 14 irmãos e cresceu em meio à simplicidade do sertão, onde foi alfabetizado pelas irmãs e desenvolveu seu amor pela música e pela poesia.
Trajetória artística e discografia
Vital mudou-se para João Pessoa aos 18 anos, onde serviu no 15º Regimento de Infantaria e estudou no Lyceu Paraibano. Foi na capital que ele começou a tocar violão de forma autodidata, tornando-se, posteriormente, professor do instrumento e de teoria musical no Conservatório de Música.
Em 1975, partiu para o Rio de Janeiro, onde mergulhou no cenário artístico, participando de peças como Gota d’Água, de Chico Buarque, e concluindo sua formação na Faculdade de Música em 1981.
Sua primeira composição gravada foi Ê mãe, em parceria com Livardo Alves, interpretada por Ari Toledo. Em 1978, lançou seu álbum de estreia, Vital Farias, seguido por Taperoá (1980), que consolidou seu nome como um dos grandes representantes da música nordestina. Ao longo da carreira, lançou discos como Cantoria (1984), Vital Farias e Convidados (1995) e Vital Farias ao Vivo (2002), sempre destacando a riqueza cultural do sertão e a luta do povo nordestino.
Festivais, prêmios e parcerias
Vital participou de diversos festivais de música, onde suas canções ecoaram como hinos de resistência e poesia. Sua música ‘Toada do Ausente’ foi premiada no Festival MPB Shell, em 1980, e se tornou um marco em sua carreira. Ele também colaborou com grandes nomes da música brasileira, como Elba Ramalho, Zé Ramalho e Fagner, além de ter sido homenageado em eventos culturais por sua contribuição à música nordestina.
Engajamento político e polêmicas
Vital Farias sempre foi conhecido por seu engajamento político. Durante a ditadura militar, suas canções carregavam críticas sociais e políticas, refletindo sua visão de mundo e seu compromisso com as causas populares. Ele foi filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) e apoiou diversas causas progressistas ao longo da vida. No entanto, nos últimos anos, especulou-se que ele teria se aproximado de ideias bolsonaristas, o que gerou controvérsias entre seus fãs e admiradores. Vital nunca confirmou publicamente essa mudança de posicionamento, mas suas declarações em redes sociais e entrevistas levantaram debates sobre suas convicções políticas.
Amor pela Paraíba e legado cultural
Seu profundo amor pela Paraíba sempre foi explícito, terra esta que inspirou grande parte de sua obra. Em suas músicas e poesias, ele retratou a beleza e as dificuldades do sertão, celebrando a cultura e a resistência do povo nordestino. Suas canções, como Ai Que Saudades de Oce, Canção em dois tempos (Era casa, Era Jardim), Veja (Margarida), Sete Cantigas Para Voar, e Saga da Amazônia emocionam gerações até hoje.
Homenagens e legado
Vital Farias recebeu diversas homenagens ao longo da vida, incluindo títulos de cidadania honorária e reconhecimento em festivais de música. Sua obra continua a inspirar novos artistas e a encantar o público, mantendo viva a cultura nordestina
Velório e sepultamento
O velório acontece na noite desta quinta, em uma funerária no bairro de Tambiá, em João Pessoa. Na sexta-feira (7), o corpo seguirá para o município de Taperoá. Enquanto isso, fãs e admiradores se reúnem nas redes sociais para prestar homenagens ao artista, celebrando sua vida e obra.
Publicação de: Brasil de Fato – Blog