Gilberto Maringoni: Lula e Trump na ONU, contraste escandaloso
Lula e Trump na ONU: contraste escandaloso
Por Gilberto Maringoni*, em rede social
Lula fez um discurso forte, brilhante e sintético na abertura da Assembleia Geral da ONU. Abriu defendendo a soberania contra agressões externas, a não-ingerência e as ações do Sul Global. A frase proferida sobre a agressão imperial à América do Sul é ambígua – “A via do diálogo não deve estar fechada na Venezuela” – mas pode ser lida pela positiva. Ainda insiste na visão de que a ação militar defensiva do Hamas em outubro de 2023 foi terrorista, mas as críticas a Israel são cortantes. Falou como líder mundial, com visão ampla e bem contextualizada.
A intervenção do presidente brasileiro só cresce diante da fala do presidente dos Estados Unidos. Donald Trump proferiu um discurso longuíssimo, tedioso, mal escrito, grosseiro, displicente, acintoso, prepotente, preconceituoso, agressivo, falso e desrespeitoso em relação à ONU e profundamente provinciano e medíocre.
Vai de bitucas de cigarro e provocações gratuitas. Postou-se com o corpo ligeiramente inclinado no púlpito, como se estivesse num botequim. Ia e voltava ao mesmo ponto várias vezes, centrado em duas obsessões: atacar migrações e políticas climáticas.
Os ataques aos que buscam vida melhor em outros países é profundamente racista. As críticas ao Brasil foram largamente desrespeitosas. Tem um lugar de fala – chefe de um império unilateral – altamente questionável hoje em dia, quando a disputa do poder global está escancarada.
Trump vale-se do poder militar para impor sua vontade, mas reduz a pó a autoridade moral que o país teve – com altos e baixos – nas décadas posteriores à II Guerra Mundial.
A ideia difundida pelo próprio Império, de que o uso da força seria justificável para defender “valores ocidentais”, como liberdade, democracia e “combater o comunismo”, tem nessa alocução em Nova York seu epitáfio.
O ataque à defesa do meio ambiente e à transição energética exalam um hálito medieval e obscurantista. Retrato acabado da decadência da autodenomidada “maior democracia do mundo”.
*Gilberto Maringoni é jornalista e professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC).
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Este artigo não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo.
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Publicação de: Viomundo