Forças opositoras podem falhar em construir governo na Síria, diz especialista

O nomeado pela oposição na Síria, Mohamed al-Bashir, disse em pronunciamento televisionado nesta terça-feira (10) que ficará no poder como primeiro-ministro interino do país até 1º de março de 2025. Al-Bashir foi nomeado pelo grupo rebelde Hayat Tahrir al Sham (HTS) e outras forças aliadas, que tomaram a capital Damasco e causaram a derrubada do presidente Bashar al-Assad após 24 anos.

A transição, no entanto, pode não ser fácil, pontua Bruno Huberman, professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ele conversou com o jornal Central do Brasil sobre o tema e disse que é difícil ter uma clareza de como os rebeldes vão governar.

“Eles nunca foram governos em lugar nenhum. Então, é difícil a gente ter uma clareza de como isso vai se dar. Porque o Abu Mohammad al-Golani, o líder do HTS, é um sujeito que tinha práticas muito semelhantes do estado islâmico, que chocou o mundo e buscou em algum certo momento se distinguir, buscou aparentar uma maior moderação, e buscou alianças com atores mais moderados, como o caso da Turquia, que é o seu principal patrocinador aí. Então ainda é imprevisível, existe uma coalizão de forças na qual o HTS é apenas um dos atores”, explica.

Segundo Huberman, isso levanta o temor de que o futuro da Síria possa ser similar ao líbio, no qual as forças opositoras não conseguiram construir um governo de unidade nacional e entraram em guerra entre si.

“O resultado é uma guerra civil permanente. E a gente teme isso porque existem vários grupos políticos participando da Síria. Você tem os curdos que são apoiados pelos americanos e que são rivais dos turcos, que apoiam, além do HTS, um outro exército formado por curdos e sírios. Você tem Arabia Saudita, os Emirados Árabes, você tem Israel ocupando o território sírio nesse momento. E vai ter ainda tropas pró-Assad, pró Eixo da Resistência, pró Irã, a chance de surgir algo como um Hezbollah lá, existe essa possibilidade. Então, ainda é imprevisível o futuro da Síria nesse sentido.”

Nesta segunda-feira (9), o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) se reuniu para discutir a situação no país, ainda antes do anúncio feito pelos rebeldes. A reunião de emergência foi fechada e teve participação de Estados Unidos e Rússia, onde Assad recebeu asilo humanitário após perder o governo. O Conselho deve trabalhar numa declaração conjunta sobre a situação.

Ele diz que a Síria pode se tornar ainda mais um campo de batalha de grande influência no Oriente Médio.

“O que está aparecendo é que nesse momento o governo Assad caiu, e não tem ao seu lado uma potência, seja global, como a Rússia, ou regional, como o Irã, ou um outro ator, como o Hezbollah, que vai acudi-lo. Isso abre um espaço para esses outros poderes regionais, Israel e a Turquia e a Arábia Saudita, mas, particularmente, os dois primeiros, fazerem ataques no território para fazer avançar os seus interesses políticos e geopolíticos, envolve controle de território.”

“Então, nesse sentido, a gente vê como uma oportunidade. É um país, um território sem governo, esse governo provisório que vai ser estabelecido, a gente não faz ideia da força, da capacidade de controle do território que ele vai ter”, pontua.

A entrevista completa está disponível na edição desta terça-feira (10) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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Publicação de: Brasil de Fato – Blog

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