Fiocruz e Cebes: Tecendo redes em defesa do SUS que nasce do povo

Tecendo a democracia: o SUS que nasce do povo

Fiocruz e Cebes reforçam a importância da participação popular na defesa do Sistema Único de Saúde

Site do Cebes — Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

Há algo de profundamente democrático quando o povo fala sobre o que entende por saúde.

Quando essa fala é ouvida, e acolhida pela ciência, nasce um outro tipo de política pública: aquela que não vem pronta, mas é tecida em rede.

Foi com esse espírito que o projeto “Saúde, Ciência e Participação Popular: tecendo redes em defesa do SUS”, desenvolvido pela Fiocruz em parceria com o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), percorreu cinco estados brasileiros em 2024.

A proposta foi escutar e dialogar com movimentos populares e organizações da sociedade civil sobre o viver saudável e o papel do SUS nos territórios.

Saúde é democracia viva

A saúde é um termômetro sensível das desigualdades. Ela revela o impacto das injustiças sociais, do racismo e da concentração de renda.

Para o presidente do Cebes, Carlos Fidelis, este é um marcador que deve ser considerado em qualquer construção de políticas públicas. “Fortalecer os movimentos sociais e construir uma consciência sanitária são passos essenciais para o que Arouca chamava de projeto civilizatório”.

O projeto buscou justamente esse reencontro entre política e saúde: ouvir os territórios, reconhecer seus saberes e aproximar o SUS das lutas cotidianas.

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Em 2024, as oficinas dialógicas foram realizadas em Amazonas, Bahia, Pernambuco, Paraná e Rio de Janeiro, reunindo coletivos de mulheres, povos indígenas, juventudes, trabalhadores, movimentos de moradia, cultura e LGBTQIAPN+.

Ciência que escuta e aprende

Com base nos princípios da Educação Popular, as oficinas foram desenhadas para romper com a lógica extrativista que frequentemente marca a relação entre academia e comunidade.

De acordo com André Lima, pesquisador da Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz e diretor do Cebes, o diferencial foi o diálogo horizontal estabelecido durante as oficinas. “As oficinas mostraram que o conhecimento sobre o SUS se expande quando o diálogo é horizontal e o povo participa como protagonista da reflexão sobre o viver saudável.”

A proposta, explica ele, foi “fazer da escuta uma forma de ação política e científica”.

Cada participante foi reconhecido como sujeito ativo na construção de saberes, e não como receptor passivo de informações. A troca entre experiências e visões de mundo deu origem a discussões sobre as determinações sociais da saúde, a importância da comunicação popular e o papel da participação social como força de transformação.

Futuro que se costura nos territórios

Dos encontros surgiram ideias e redes. Movimentos sociais, universidades e instituições públicas passaram a planejar ações conjuntas de vigilância popular em saúde, estratégias de educomunicação e presença ativa nos espaços de controle social do SUS.

Em setembro, o projeto avançou em uma segunda rodada de atividades, agora voltadas às eleições municipais, conectando o debate essencial sobre o voto, as políticas públicas e o direito à saúde.

Em outubro, chegou também à academia, durante o 5º Congresso Brasileiro de Política, Planejamento e Gestão da Saúde (5º PPG/Abrasco), com a oficina “Pesquisa militante e movimentos sociais: tecendo diálogos pelo direito à saúde”.

Essa travessia, dos territórios às universidades, demonstra a potência da cooperação entre ciência e sociedade civil. Para Fidelis, o desafio é seguir ampliando esse ciclo democrático: “A consciência sanitária nasce do encontro entre saberes, e é nesse encontro que se constrói o futuro da saúde coletiva e do SUS, por consequência.”

SUS como projeto civilizatório

Projetos como este reafirmam que a defesa do SUS não se faz apenas nas instituições, mas nas relações entre ciência e sociedade, na forma como compartilhamos conhecimento e construímos solidariedade.
Em tempos de desinformação e apatia política, fortalecer a participação popular é o antídoto mais poderoso contra o retrocesso.

Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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