Famílias recebem sementes crioulas em Jornada pela Reforma Agrária na região do DF
Agricultores familiares de áreas de reforma agrária popular da Região Integrada de Desenvolvimento (RIDE) do Distrito Federal receberam, nesta sexta-feira (15), sementes crioulas resultantes da I Jornada Sebastião Pinheiro. Além da entrega, o evento, que aconteceu na Faculdade UnB Planaltina (FUP), promoveu diálogos sobre agroecologia e luta popular, com convidados de movimentos camponeses, pesquisadores e autoridades.
Ao longo de um ano e meio, agricultoras e agricultores, em conjunto com alunos da FUP e do Instituto Federal de Brasília (IFB) Campus Planaltina, participaram de todo o processo de produção das sementes agroecológicas, desde o plantio em Catalão (GO), passando pela limpeza, manutenção e, finalmente, colheita. Sebastião Pinheiro, engenheiro agrônomo e florestal que dá nome à Jornada, explica que as sementes crioulas são “autonomia e liberdade”.
Segundo Rafael Bastos, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Distrito Federal e Entorno (MST-DFE), essa autonomia significa a independência em relação ao pacote das transgênicas – sementes vendidas pelas grandes corporações, que obrigam os agricultores a também comprarem os insumos produzidos pelas mesmas empresas, que depois compram a produção por preços baixos para transformar em commodities.
“Essas sementes [crioulas] oportunizam a gente a mostrar possibilidades viáveis de produção de alimento agroecológico”, explicou. “Assim a gente tem exemplos práticos para incidir na construção de políticas públicas”, completou.
As sementes foram entregues às famílias de áreas da reforma agrária popular, como o Acampamento Dom Tomás Balduíno, em Formosa (GO), e o assentamento Oziel Alvez III, em Planaltina (DF), entre outros.
“É de suma importância para toda a comunidade estar utilizando sementes que não têm veneno, que são sementes limpas”, afirmou Gustavina Alves, do assentamento Pequeno Willian, em Planaltina-DF, durante a entrega. Ela explica que o objetivo é continuar o ciclo e replicar essas sementes crioulas.
“Nos espaços que a gente tem, a gente planta no sistema agroflorestal, que é pra não agredir o solo. A gente não tira nenhuma árvore do Cerrado, preserva todas. E queremos continuar com esse ciclo, plantando sementes limpas. A gente não planta semente transgênica de espécie alguma”, afirmou.
O Movimento Camponês Popular (MCP) também participou do evento. Segundo Lidenilson Sousa, da coordenação nacional, o MCP, que este ano completa 15 anos, já entregou mais de um milhão de toneladas de sementes desde o início do movimento.
“A semente é a possibilidade da gente criar sistemas de vida na nossa comunidade, ela é a possibilidade de criar mecanismo de organização popular. Ela é também a dinâmica da reprodução social, à medida que ela se torna um alimento, e um alimento com qualidade, com condições, inclusive, de garantir a nós mais saúde”, defendeu.
Políticas públicas e orçamento
Representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) também participaram do encontro da I Jornada Sebastião Pinheiro.
Roseli Zerbinato, do MDA, reafirmou o compromisso da pasta, que havia sido extinta pelo ex-presidente Temer (MDB), com a segurança e soberania alimentar. “Quando a gente fala das sementes crioulas é o mesmo que falar de resistência histórica. E elas são a base do patrimônio da agricultura familiar, porque é através dessas sementes da resistência que nós podemos ter uma alimentação verdadeiramente rica, que é aquela alimentação preconizada no guia alimentar, uma alimentação saudável, livre de agrotóxicos, de venenos e de transgênicos”, defendeu.
Uma das principais políticas públicas para a agricultura familiar é o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Segundo a assessora do CONAB, Naiara Andreoli, o programa sofreu um desmonte durante o governo Bolsonaro, quanto recebeu apenas 2,6 milhões de reais. No atual governo Lula, já foram destinados 500 milhões, “o que é bem importante, mas a gente ainda precisa de mais, especialmente para o próximo ano”, avaliou. A assessora do CONAB também comemorou a participação recorde de comunidades indígenas e quilombolas no último PAA.
“E esse é um coro que a gente tem feito junto com a força dos movimentos sociais nas organizações: se a prioridade é a fome, o combate à fome tem que estar no orçamento”, defendeu Andreoli.
Publicação de: Brasil de Fato – Blog