Em NY, governadores tramam ‘bypass’ em Bolsonaro
A palavra-chave da semana entre governadores brasileiros que estiveram na “Brazil Week”, em Nova York, não foi “investment” nem “technology”. Foi bypass – no bom português, um desvio. Um drible. Um contorno. E o alvo desse contorno foi Jair Bolsonaro (PL).
Sete governadores saíram da Big Apple convencidos de que o ex-presidente é hoje uma âncora que afunda, e não um motor que impulsiona. A articulação foi costurada discretamente sob a batuta do ex-presidente Michel Temer (MDB), que ensaia o retorno ao protagonismo como maestro de uma terceira via nas eleições presidenciais de 2026.
A conspiração na Broadway
O Blog do Esmael apurou com fonte presente no encontro que o “vampirão neoliberalista” – como é apelidado Temer por setores progressistas – ventilou a tese de que tanto Jair Bolsonaro quanto Lula (PT) dividiriam a responsabilidade pela atual crise no INSS. Ao atribuir a tragédia previdenciária a ambos os polos políticos, o ex-presidente constrói a ponte narrativa perfeita para justificar uma candidatura que supere a polarização.
Os governadores presentes não apenas ouviram. Alguns endossaram. Estavam ali Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Ibaneis Rocha (MDB-DF), Renato Casagrande (PSB-ES), Eduardo Leite (PSD-RS), Raquel Lyra (PSD-PE) e Cláudio Castro (PL-RJ). Um bloco plural, mas pragmático, que avalia com frieza o peso morto de Bolsonaro na balança eleitoral de 2026.
Tarcísio na lista dos “traidores”

Segundo relatos obtidos pelo Blog, Bolsonaro teria se abalado emocionalmente ao saber da participação ativa de Tarcísio nas conversas. O governador paulista é visto como “herdeiro natural” do bolsonarismo. Mas nos bastidores, age como alguém que já sente o teto de vidro rachar.
Cláudio Castro, também do PL, esteve no encontro. Aparentemente, sob a justificativa de “compromissos culturais e econômicos”, mas na prática participando do enredo de descolamento do ex-presidente.
Quem ficou de fora foi o governador do Paraná,
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A reação imediata de Gleisi

No campo oposto, a ministra Gleisi Hoffmann (PT), uma das cabeças da articulação política do governo Lula, foi rápida no gatilho. Em suas redes, acusou Bolsonaro de abrir as portas para o escândalo do INSS ao sancionar, sem vetos, legislações que facilitaram o avanço das fraudes entre 2019 e 2022.
“Foi no desgoverno dele que quadrilhas disfarçadas de associações se formaram para roubar os aposentados”, disparou Gleisi.
Ela ainda relembrou que o governo Bolsonaro ignorou denúncias de 2020, inclusive de ameaças de morte, e que agora tenta empurrar para outros a responsabilidade de mais esse crime contra o país.
“Bolsonaro deixou o ladrão entrar e Lula está acabando com a roubalheira.” — resumiu a ministra.
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Terceira via ou plano de fuga?

O que se desenha em Nova York não é só uma coalizão de governadores. É uma operação de resgate para setores da direita que querem sobreviver ao desgaste moral de Bolsonaro e à força institucional do lulismo.
Michel Temer surge, mais uma vez, como fiador de acordos improváveis. Com seu faro clínico para o poder e linguagem ambígua, oferece aos governadores um caminho alternativo à polarização – ainda que sem nome definido para encabeçar a chapa.
A questão que paira no ar é: até onde essa articulação pode ir sem explodir pontes internas nos partidos?
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Bolsonaro virou um risco eleitoral
A movimentação em NY mostra que o campo conservador está longe de monolítico. Há divisões reais, cálculos frios e uma percepção crescente de que Bolsonaro virou um risco eleitoral – não uma solução. Em paralelo, a esquerda se arma com dados, investigações e discurso de responsabilização.
No tabuleiro de 2026, o xadrez político brasileiro começa a se redesenhar fora do país, em salões envidraçados com vista para o Hudson. E talvez seja ali, longe dos palanques, que nasça a próxima jogada decisiva.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
Publicação de: Blog do Esmael