Eliara Santana: Machista e misógino, o presidente segue atacando as mulheres jornalistas

Por Eliara Santana*

Jair Bolsonaro é machista, misógino, homofóbico.  Sempre foi, desde os primórdios das eleições. Em 2018, ele foi blindado pela mídia.

Portanto, seu viés toscamente machista não apareceu porque ele não falava na imprensa, não dava entrevistas, seu discurso era levado pela voz de Délis Ortis, no Jornal Nacional – e depois do episódio da facada, ele só aparecia mesmo pelos tuítes que fazia diretamente do hospital.

Em redes sociais, tudo é modalizado, ajeitado, modificado, embalado de acordo com o gosto do freguês. Na imprensa também acontece assim muitas.

Pois bem, deixado à solta, o monstro do machismo se manifesta à vontade, e o presidente “mito” se mostra como o que sempre foi: alguém que não tem o menor respeito pelas mulheres. A começar pela própria filha, que ele diz que foi fruto de uma “fraquejada”.

E foi assim que ele se comportou no primeiro debate de que participou, na Band, no dia 28 de agosto. A jornalista Vera Magalhães perguntou ao candidato Ciro Gomes sobre vacina e desinformação e pediu o comentário de Bolsonaro. A resposta do atual presidente:

“Vera, não pude esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão em mim. Não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro. Não tô atacando mulheres, não. Não venha com essa historinha… De se vitimizar. Vera, você realmente foi fantástica, né? Deu oportunidade para falar um pouco de verdade sobre você”.

Alguns dos temas caros ao machismo estavam ali naquela resposta: vitimização da mulher, desqualificação da profissional, intimidação pública.

E seguindo o líder, as hordas bolsonaristas adoram atacar as mulheres e desqualificá-las, especialmente as jornalistas, que sofrem agressões e intimidações, sobretudo se entram no terreno de temas viscosos como fake news, desinformação, rachadinhas, imóveis em cash.

Ontem, o presidente novamente saiu do controle – dessa vez, com a jornalista Amanda Klein, da Jovem Pan, emissora aliada. A despeito de qualquer crítica que se faça à conduta da emissora – e são muitas – o que ele disse à jornalista é inaceitável. Vejam o diálogo:

Amanda Klein: É importante enfatizar que isso acontece no contexto de investigação da prática de “rachadinha” nos gabinetes de dois dos seus filhos, o vereador Carlos e o senador Flávio Bolsonaro. O senhor também é suspeito de ter mantido funcionários fantasmas quando era deputado federal em Brasília. O seu filho Flávio negociou 20 imóveis nos últimos 16 anos, sendo que o último deles foi uma mansão de R$ 6 milhões em Brasília. Sua ex-mulher Ana Cristina Siqueira Valle mora em outra mansão, avaliada em R$ 3 milhões, em bairro nobre em Brasília, com seu filho Jair Renan, e ela é investigada por ter supostamente usado um laranja para adquirir esse imóvel. É importante esclarecer qual.

Jair Bolsonaro: Amanda, você é casada com uma pessoa que vota em mim. Não sei como é o teu convívio com ele na sua casa…

Amanda Klein: Minha vida particular não está em pauta aqui.

Jair Bolsonaro: E a minha [vida] particular está em pauta por quê?

Amanda Klein: Porque o senhor é uma pessoa pública, o senhor é Presidente da República.

Jair Bolsonaro: Respeitosamente, essa acusação tua é leviana.

Bolsonaro: ”Se pegar os bens do seu marido… Eu vou pedir, Amanda, respeitosamente, uma certidão do seu marido, no fórum, se por ventura ele tenha casas, imóveis, e quero ver, na escritura, quando ele comprou, se está escrito moeda corrente ou não. E aí, Amanda, vai estar escrito moeda corrente? Você vai falar o quê?”

O Brasil, infelizmente, é um país machista, e qualquer mulher que já se expôs minimamente em qualquer espaço de interlocução (seja profissional ou não, nas redes sociais ou não) já deve ter escutado muitos “minha filha”, “deixa eu explicar porque você não entendeu”, ou perguntou pelo marido, ou fez insinuações de cunho sexista.

O presidente da República fomenta esse comportamento agressivo e intimidador com as mulheres no exercício da profissão. Fomenta enormemente, empodera os que estão com medo da ascensão das mulheres.

O alento grande é que estamos mobilizadas e que a postura machista e agressiva não vai nos intimidar, tampouco vai trazer mais votos para o presidente machista e misógino. Estamos bem cansadas.

*Eliara Santana é jornalista, doutora em Linguística e Língua Portuguesa e pesquisadora do Observatório das Eleições e da Democracia e pesquisadora colaboradora do IEL/Unicamp. Coordenou o curso “Desinformação, Letramento Midiático e Democracia no Brasil”, promovido pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI), e foi co-coordenadora do I Ciclo de Letramento Midiático do PPGL da Universidade Federal do Rio Grande

Publicação de: Viomundo

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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