Doadores de Engler (PL), candidato em BH, têm ligação com mineração e empresa com histórico de ‘trabalho escravo’

Com R$ 15 milhões em caixa, o candidato do Partido Liberal para a Prefeitura de Belo Horizonte, Bruno Engler, é quem mais acumula receitas até agora. Mais de 90% do valor arrecadado foi enviado pelo diretório nacional do PL, porém, o bolsonarista também recebeu doações vultosas de empresários. Entre eles, Edward Munson Mason II, diretor da DCML, holding de equipamentos para mineração e agronegócio, que desembolsou R$ 340 mil para a campanha. 

Em sua página virtual, a empresa dirigida pelo doador de Engler afirma, entre outras coisas, que a mineração “salva vidas” e é uma das “mais importantes atividades econômicas” relacionadas ao progresso da sociedade. A DCML também já afirmou, nas redes sociais, que o agronegócio “tem apresentado ótimo desempenho”. Em contraposição, especialistas no debate socioambiental afirmam que as duas atividades são responsáveis pelo atual contexto de emergência climática, por causarem danos irreversíveis ao meio ambiente. 

Quem paga a banda, escolhe a música?

Professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista no tema, José Luiz Quadros de Magalhães explica que, ao doar recursos para o candidato, uma pessoa ou empresa demonstra interesse nas políticas defendidas por ele. 

“Pelo perfil de quem financia, podemos saber quais são os interesses representados pelo candidato. Além disso, são vários os estudos que mostram que, após as eleições, empresas e empresários que fizeram doações pressionam, pedem favores e recebem atenção especial. Eles não doariam para o candidato, se não esperassem, em troca, políticas favoráveis aos seus negócios”, explica o pesquisador. 

“O eleitor precisa estar atento e saber que, se votar em alguém financiado por determinada empresa, é óbvio que esse sujeito vai fazer o ‘jogo’ dessa empresa. Resta saber se esse ‘jogo’ interessa à população. A mineração, por exemplo, como temos visto, tem destruído o meio ambiente, gerando gravíssimas consequências”, continua José Luiz Quadros Magalhães. 

Em seu programa de governo, Bruno Engler diz que irá “criar uma estrutura eficiente para atender com agilidade os licenciamentos ambientais”, proposta que, para ambientalistas da capital mineira, indica uma eventual facilidade para a atuação das mineradoras por parte do candidato, se eleito. 

“Vai atender apenas às grandes construtoras e mineradoras, que atentam contra a Serra do Curral, por exemplo. Essas doações de figuras relacionadas com a mineração representam um risco enorme. Precisamos de um prefeito que protagonize a defesa das serras e das águas. O vínculo de Engler com as mineradoras impede que ele faça isso”, avaliou Luiz Paulo Siqueira, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).

Edward Munson Mason II também foi um dos doadores da campanha de Jair Bolsonaro, do mesmo partido, em 2022. Durante seus 4 anos de mandato, o ex-presidente foi criticado por desmontar a legislação ambiental do país. 

Romeu Zema (Novo) também recebeu, nas eleições de 2022, vultosas doações financeiras de empresários ligados à mineração. Como consequência, na avaliação de ambientalistas, a gestão do governador é subserviente aos interesses das mineradoras. 

“Desde o início, Zema faz a opção política pela atividade minerária”, avaliou a doutora em geografia Carla Wstane, ao Brasil de Fato MG

Doadores vinculados à empresa com histórico de “trabalho escravo”

Bruno Engler também recebeu doações de Ricardo Guimarães, presidente do Conselho Deliberativo do clube Atlético Mineiro, além de Eduardo Fischer e Maria Fernanda Nazareth Menin, ligados à MRV Engenharia.

A empresa se envolveu em polêmicas no último período, com a construção da Arena MRV, por não cumprir com as contrapartidas estabelecidas como compensação à sociedade pelos impactos causados pelo empreendimento.

A MRV Engenharia também tem histórico de violações trabalhistas e já apareceu na “Lista Suja do Trabalho Escravo”. Ao todo, a empresa foi flagrada sete vezes com trabalhadores em situação análoga à escravidão. Porém, em agosto de 2022, assinou um acordo com o governo federal, durante a gestão de Bolsonaro, que a retirou do levantamento. 

:: Relembre: Após 7 flagrantes, MRV é beneficiada por acordo com governo e fica fora da ‘lista suja’ do trabalho escravo ::

“O impacto deveria ser a rejeição da população ao candidato, que aceita o apoio de pessoas vinculadas a uma empresa com histórico de limitação de direitos trabalhistas. Isso deveria afastar o voto”, alerta José Luiz Quadros de Magalhães. 

“Infelizmente, atualmente, o jogo eleitoral é cada vez mais mentiroso, baseado em fake news, memes, jogos emocionais e guerra de afetos, ao invés de propostas, fatos e realidade. Seria muito importante que as pessoas investigassem, pesquisassem e discutissem de fato sobre quem são os candidatos e quais interesses eles defendem, que podem ser revelados pelo financiamento da campanha”, continua. 

Distorção

O professor da UFMG ainda chama atenção para a distorção causada pelo financiamento privado de campanha. Isso porque, enquanto os donos de grandes empresas têm recursos financeiros suficientes para abastecer os cofres das campanhas que lhes interessam, a população, em geral, não consegue fazer o mesmo por aqueles que representam os seus interesses.  

Em contraste com os R$ 15 milhões já arrecadados por Engler, a candidata do PCO, Lourdes Francisco, possui R$ 0 em receita e Indira Xavier (UP) arrecadou pouco mais de R$ 15 mil.

“A população não dispõe de muitos recursos para financiar seus candidatos, em eleições que estão cada vez mais caras. Enquanto isso, empresários dispõe desse recurso. Logo, há uma distorção gravíssima, comprometendo a democracia”, conclui José Luiz Quadros de Magalhães. 

Após o candidato do PL, quem mais recebeu doações foi Fuad Noman (PSD), que já arrecadou R$ 13,6 milhões. Entre os financiadores do atual prefeito está Rubens Menin Teixeira De Souza, também vinculado à MRV Engenharia. 

O outro lado

O Brasil de Fato MG entrou em contato com a assessoria da campanha de Bruno Engler e perguntou:

1. Ao receber doações financeiras de pessoas vinculadas a empresas que atuam com mineração e agronegócio, caso eleito, os interesses dessas atividades influenciarão na administração da capital mineira?
2. O candidato tem ciência do histórico de desrespeito à legislação trabalhista por parte da MRV Engenharia? Qual é a avaliação do candidato sobre esse histórico?
3. Caso eleito, qual será a capacidade dos doadores de campanha de Bruno Engler em “pressionar”, “pedir favores” e “receber atenção especial” da administração pública?
4. Em seu programa de governo, Bruno Engler diz que irá “criar uma estrutura eficiente para atender com agilidade os licenciamentos ambientais”. A proposta tem o objetivo de facilitar a mineração em Belo Horizonte?

Não obtivemos respostas até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto para manifestações. 
 

Publicação de: Brasil de Fato – Blog

Lunes Senes

Colaborador Convidado

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